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Esforços pela paz continuam no Alemão

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Depois da morte de Elisabeth e Eduardo, no início de abril, moradores promoveram um protesto e pediram paz. (Fotos: Viviane Ribeiro)

Depois da morte de Elisabeth e Eduardo, no início de abril, moradores promoveram um protesto e pediram paz. (Fotos: Viviane Ribeiro)

Após 29 dias sem confrontos no Complexo do Alemão, o processo de paz foi interrompido por tiros que atingiram o policial Marcelo Soares. Ele foi atingido por uma bala no peito e está internado em estado grave. O ocorrido abalou o processo de paz que vinha sendo traçado num esforço generalizado tanto da sociedade civil quanto de instituições, ONGs (Organizações Não-Governamentais) locais e órgãos públicos.

Os dois últimos episódios trágicos que abalaram o conjunto de favelas do Alemão: as mortes de Elizabeth Francisco e do menino Eduardo de Jesus, no início de abril, fizeram com que os olhos do Brasil e do mundo se voltassem para um dos maiores territórios de favelas do Estado do Rio de Janeiro. Uma resposta para a questão da violência no Complexo acabou se tornando uma exigência não só dos moradores, mas de grande parte da sociedade.

O Iser (Instituto de Estudos da Religião), o CESeC (Centro de Estudos em Segurança e Cidadania) e o jornal O Dia foram um dos primeiros a dar um pontapé na questão, convocando sociedade civil, representantes do governo e da polícia para o Fórum “Alemão: Saídas para a Crise”, realizado no início no mês de abril. O evento reuniu moradores, presidentes de associações, intelectuais, entre outros para tentar encontrar um caminho para sanar o problema.

Comissões de Educação e Direitos Humanos da Alerj participaram das reuniões

Comissões de Educação e Direitos Humanos da Alerj participaram das reuniões

Desde então, a tensão foi se amenizando e o cotidiano foi voltando ao normal, sem novos episódios de violência. Essa normalização só foi possível graças à intensa mobilização de cidadãos que elevaram suas vozes e exigiram mudanças no modo como as questões da segurança vinham sendo conduzidas dentro Complexo.

Cerca de 20 coletivos/instituições e 12 Associações de Moradores atuantes no Alemão uniram forças e criaram uma página no Facebook do coletivo “Juntos Pelo Complexo do Alemão” para se organizar melhor. O grupo promoveu uma série de reuniões, fóruns e audiências públicas para se debruçar sobre os problemas do local e tentar encontrar soluções.

Com o apoio da Defensoria Pública e da Comissão de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro, os moradores conseguiram expor suas demandas para os órgãos que poderiam atuar diretamente em cada questão. Problemas com saneamento básico, empregabilidade e a dificuldade na construção de uma universidade dentro da comunidade estavam entre as principais pautas. Estes e outros pontos foram levados sem intermediários para as autoridades, que se dispuseram a ouvir as lideranças e moradores das 15 favelas que fazem parte do Complexo.

As soluções são urgentes 

A escola é constante alvo dos confrontos entre policiais e traficantes

A escola é constante alvo dos confrontos entre policiais e traficantes

Os encontros eram abertos à toda população e aconteceram pelo menos uma vez por semana durante o mês de abril. Neles, outras questões que fogem das reclamações regulares também surgiram.

Conforme  apontado  por Raull Santiago durante reunião do Iser, muitas áreas de lazer da comunidade haviam sido ocupadas pela polícia. Durante as audiências, os moradores voltaram ao assunto, conclamando que era prioridade a retirada de um contêiner da UPP instalado dentro do CAIC (Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente) Theóphilo de Souza Pinto, escola de Ensino Fundamental e Médio que fica na Nova Brasília.

A presença da polícia dentro da escola, segundo eles, estava contribuindo para a evasão dos alunos, em decorrência dos constantes conflitos entre os policiais e traficantes que acabavam afetando o dia a dia de estudantes e professores.

Outro local ocupado por uma base da UPP é a Quadra da Canitar, onde ocorrem os eventos culturais e esportivos. A população também questionou e discutiu a interferência que policiais militares tentavam fazer para mediar conflitos diversos da pauta da segurança.

Em resposta, a  UPP informou que a base avançada da UPP Nova Brasília, que segundo eles, funciona próximo à escola, será desativada em breve e transferida para um prédio que está em fase final de reforma e fica cerca de 300 metros do atual.  Eles informaram ainda que as UPPs estão desde o início do ano passando por um processo de  aperfeiçoamento. “Há uma reorganização em curso para avançarmos e garantirmos à população o objetivo de todos: a paz”, garantiu a UPP através de sua assessoria.

Papel da polícia em questão

O produtor cultural Helcimar Lopes diz se sentir prejudicado, pois para fazer sua comemoração de aniversário teve que contar com a “boa vontade” dos policiais que são responsáveis pela autorização do evento. Hoje, as festas nas lajes que eram tão comuns no Alemão, assim como em outras favelas, passaram a ser um problema.

Lopes, que trabalha com cultura, diz que teve que passar buscar outros trabalhos fora da favela. “Até os DJs e as equipes de som passaram a fazer festas e bailes em outros lugares, já que dentro da favela está complicado. Mesmo as tradicionais festas que aconteciam todos os anos, como a festa junina, o carnaval, a Via Sacra e outras festas promovidas pela igreja só podem acontecer com a liberação da UPP”, ressalta o produtor. Em nota, a UPP afirmou que “nenhum projeto no Complexo do Alemão deixou de acontecer por causa da polícia”.

Alemão conquista universidade

Representantes da Prefeitura, do IFRJ e os coletivos visitaram os espaços cedidos

Representantes da Prefeitura, do IFRJ e os coletivos visitaram os espaços cedidos

Desde 2011, o IFRJ (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia) dispõe de verba federal para a construção de um tão sonhado campus de ensino superior no Complexo do Alemão, mas até o início do mês passado a Prefeitura ainda não tinha resolvido a questão do local para abrigar a universidade.

Inúmeras tentativas já haviam sido feitas pelo presidente do Instituto Raízes em Movimento, Alan Brum. Ele aproveitou a presença do vice-prefeito e secretário municipal de Assistência Social, Adilson Pires, no Fórum, em abril, para cobrar. Pires, por sua vez, se comprometeu a levar a questão para o prefeito, que duas semanas após a indagação de Brum, autorizou a doação. O documento foi assinado no dia 13 de abril. Na semana passada começaram as visitas a três terrenos doados pela Prefeitura para a construção do campus.

Apesar dos avanços, os problemas do Complexo do Alemão ainda estão longe de serem concluídos. Por causa disso, as reuniões promovidas pelo “Juntos pelo Complexo” continuam durante o mês de março. Nelas, outra gama de temas será abordada.

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