Em nome dos filhos

0

Maria da Cunha vai completar 80 anos esse ano

Maria da Cunha vai completar 80 anos bem vividos em novembro.  Casada há 35 com o mesmo marido e pai de seus seis filhos,  ela afirma que já realizou os sonhos que tinha na vida. “Eu queria dar aos meus filhos tudo o que eu não tive”, explica.  “Dar tudo aos filhos” significava dar estudo completo e vê-los  formados. “Não tive mãe, não frequentei a escola”, conta.

Mesmo com a memória de uma infância difícil, ela diz que se pudesse traria o passado de volta. “Oportunidade para mim era colocar a enxadinha nas costas e ir ajudar o meu pai no roçado. As coisas eram mais simples, mas naquele tempo não havia tanta violência”.

Na vida adulta, não sobravam recursos financeiros, mas Maria não poupou esforços para dar aos filhos outra realidade.  Os seis estudaram em escolas particulares, onde Maria ia pessoalmente, em todo início de ano, para pleitear vagas e descontos.  “Eu conversava o dono da escola. Em casa, ajudava com o dever de casa “mesmo sem saber ler”.

Há 15 anos, quando sua filha mais velha começou a fazer trabalhos sociais na igreja que frequentava e se tornou professora de um projeto de alfabetização para adultos que funcionava em escolas de samba,  como a Porto da Pedra, em Niterói, Dona Maria resolveu começar a ir às aulas. Segundo ela, não era tanto para aprender a ler e escrever, como a filha desejava. “Eu achava perigoso deixá-la ir sozinha para alguns lugares”, diz Dona Maria.

Assim nasceu a Ong  Semear que há 15 anos funciona no Jardim Catarina, a 20 minutos do Centro de São Gonçalo. Há nove anos, é a neta Fernanda que está à frente da administração dos projetos. “Nossa marca é dar valor ao ser humano”, diz Fernanda.  A Ong é voltada a jovens e adultos, mas o público da “melhor idade”  são assíduos alunos das aulas de ginástica e informática.  Além de moradores do Jardim Catarina, Itaúna, Angra dos Reis e Paraty também são contemplados.

Dona Maria disfarça o orgulho. “A Ong já foi muito boa, depois ficou ruim e agora está ficando boa de novo. Até que Fernanda está dando conta”, diz.