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A caixa preta do transporte público carioca

Foto: Rosilene MiliottiO que acontece nos bastidores da criação de novas linhas, quem controla as empresas de ônibus? Como são definidos as tarifas e o itinerário dos ônibus na cidade do Rio de Janeiro? Essas são algumas das questões que a sociedade, e até mesmo alguns representante do poder público,querem entender. Para isso, é preciso abrir a “caixa preta” das empresas de ônibus.

O vereador Eliomar Coelho (PSOL) identificou, a partir das manifestações populares iniciadas em junho, uma possibilidade de instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para essa investigação. Assim surgiu a “CPI dos ônibus”, apoiada, em seu requerimento, por outros vereadores como Renato Cinco (PSOL), Paulo Pinheiro (PSOL), Rosa Fernandes (PMDB), Jefferson Moura (PSOL), Júnior da Lucinha (PSDB), Leonel Brizola Neto (PDT), Cesar Maia (DEM), e Carlos Bolsonaro (PP). O objetivo seria justamente buscar respostas para as questões acima, entre outras.

“Os processos devem ser mais transparentes. Toda vez que tivesse um aumento na tarifa de ônibus, por exemplo, isso deveria ser no mínimo objeto de uma audiência pública para ouvir os usuários, saber mais sobre a qualidade da prestação dos serviços, saber se há pontualidade. Só o usuário pode dar a informação sobre a pontualidade, o conforto, a qualidade e, acima de tudo, se o valor é acessível ou não”, defende Eliomar.

O valor da tarifa é fixado a partir de  informações que as empresas de ônibus passam para a Fundação Getulio Vargas (FGV). Em seguida, a FGV, em cima dos elementos fornecidos pelas empresas de ônibus, define a fixação da tarifa. Mas aparentemente essas informações não são reguladas pelo poder público. A falta de transparência neste procedimento, além do fato de que há suspeitas da formação de um cartel (grupo de empresas que estabelecem acordos para eliminar a concorrência e estipular preços que garantam lucros mais altos) no controle dos transportes cariocas, levou a imprensa a tratar o assunto como “a caixa preta dos transportes do Rio”.

A instalação da CPI, cuja composição privilegiou vereadores que não haviam assinado o requerimento que pedia sua criação, provocou grande confusão, tendo sido inclusive o motivo de uma ocupação do prédio da Câmara dos Vereadores por manifestantes; e resultou na criação do movimento “Ocupe Ônibus” e também da página “O Rio quer: CPI dos ônibus” no Facebook. Um dos ativistas das manifestações pelo transporte público de qualidade, Fabio Campos, do Movimento Passe Livre (MPL-Rio), confirma que o cidadão tem diversas perguntas que precisam ser respondidas pelas empresas. “É importante pensar nos porquês que a qualidade do transporte público no Rio de Janeiro é tão baixa. Será que as altas tarifas e os subsídios do Governo não são suficientes para disponibilizar à população linhas de ônibus suficientes e um sistema de transporte que realmente atenda à demanda dos trabalhadores? Acreditamos que a causa de o transporte público ser tão precarizado é culpa do alto lucro que os grandes empresários do transporte têm”, afirma.

Além da falta de informação, Eliomar reclama que a Procuradoria Geral da Câmara, que deveria defender os usuários e investigar estas denúncias, não está cumprindo a missão. “Um dia, comunicamos que iríamos fazer uma diligência na Secretaria Municipal de Transportes para verificar uma série de documentos, e para isso há uma lei que diz que é obrigado a conceder a diligencia, e não foi concedido para a gente. Temos uma Procuradoria Geral da Câmara, que é para defender, e não está defendendo nada. Fazemos o requerimento de informação e ninguém responde, ou respondem o que você não perguntou. Nós já convocamos o Ministério Publico, reclamamos constantemente e não temos conseguido nada, essa é que é a verdade, mas vamos continuar lutando”, promete o vereador.

Se um membro de legislativo municipal reconhece que o processo parece “engarrafado” na esfera pública, o representante do MPL-Rio acredita que o cidadão pode fazer a diferença ocupando as ruas para movimentar a questão. “Acreditamos que o melhor meio de pressionar o Governo e a Prefeitura é através do poder das ruas. Acreditamos que os meios jurídicos e oficiais são importantes, porém limitados e a história nos mostra com fatos que quando o povo vai às ruas por uma pauta específica, há grandes chances de atingirmos nossos objetivos. As manifestações de junho, por exemplo, comprovaram isso mais uma vez quando muitas cidades conseguiram revogar o aumento da passagem. E não foi a primeira vez que isso ocorreu: a Revolta da Catraca em Florianópolis, em 2004, também conseguiu barrar o aumento; diversas cidades, após muitos protestos, conseguiram o Passe Livre estudantil, alguns anos atrás; e diversos outros casos, apenas na área de transportes”, pontua Campos.

Quanto à suspeita de formação de cartel, o vereador do PSOL diz que ainda carece de elementos para comprová-la. “ ‘Eles’ dizem que não tem como provar, mas a gente sabe que tem. Se você pega uma pessoa que tem participação em várias empresas, e todas essas empresas participam de um processo licitatório, como esse processo se deu? Esses processos não passam pela Câmara de Vereadores. Fizeram duas ou três audiências públicas apenas, e porque pressionamos. Aí perguntamos: tem cartel ou não tem? Aí eles dizem que não tem. O secretário de transportes, recentemente, declarou que o executivo não tem controle sobre o que é aprovado. Mas como assim, não tem controle?”, questiona.

Desde o dia 2 de outubro de 2013 a CPI dos Ônibus permanece suspensa por determinação da justiça e o vereador Eliomar Coelho, seu proponente, deixou a investigação por não reconhecer a legitimidade na composição da comissão.

Parkour: locomova-se com arte


 
Deslocar-se de um lugar para outro dentro da cidade pode ser um grande desafio para alguns, mas há quem tenha mais habilidade para ultrapassar os obstáculos sem tantas intercorrências. Os praticantes de Parkour, modalidade que se popularizou na França e chegou ao Brasil no início do século XXI, treinam movimentos onde a prioridade é encontrar formas eficientes de se locomover pelos espaços. O Parkour, cuja tradução livre é “arte do deslocamento”, utiliza, além do corpo, o próprio mobiliário urbano como ferramenta. 
 
Nele, corrimãos se tornam degraus, muros funcionam como escada e rampas de acesso são utilizadas para dar impulso. Nada no espaço é desperdiçado e todos os objetos são ressignificados. “A gente aprende a enxergar a cidade em outra dimensão”, diz Julio José Pinto, um dos criadores do grupo Omnis Pro Parkour junto com seu irmão Julio César Pinto.
 
O Omnis, fundado em 2006, tinha como objetivo reunir todos os praticantes (chamados de tracers) da modalidade para fazerem viagens e treinos juntos. Quando o grupo começou a ganhar corpo, eles perceberam que o Rio de Janeiro tinha um grande potencial para a prática. “O Rio de Janeiro é referência nacional no Parkour, tem vários picos muito legais na cidade toda, da Zona Sul à Zona Oeste. É bom que todo mundo circula”, afirma Julio José. 
 
O operador de turismo Paulo Gomes, que chegou da Paraíba há sete anos reconhece que, além de condicionamento físico, o Parkour também lhe possibilitou explorar mais espaços da cidade que fogem do roteiro turístico tradicional. “Já treinei em Bento Ribeiro, Irajá, Santa Cruz, São Gonçalo. Rapidamente eu aprendi a me deslocar, tanto usando o transporte público, como a pé. Hoje posso dizer que conheço bem aqui, tudo isso graças ao Parkour”, conta. 
 
Não é esporte

 
Apesar de proporcionar condicionamento físico, o Parkour não pode ser considerado uma atividade desportiva, já que não há competições estabelecidas para a modalidade. Ele pode ser encarado como uma filosofia de vida, já que, mais do que treinar o corpo, os princípios são baseados em concentração, determinação e esforço. “Eu treino há três anos e isso me ajuda mentalmente, me ajudou nas relações interpessoais, hoje eu me comunico muito melhor”, diz o tracer Denis Braga. Ele garante que aprender a observar melhor os espaços contribuiu para sua vida. 
 
Já Gomes enxerga também como uma possibilidade de fugir mais depressa de uma situação de perigo. “Eu já passei por situações que eu consegui me safar mais rápido por causa do Parkour”. 
 
Mas para aderir à prática e incorporá-la como forma de locomoção para o trabalho é preciso tomar algumas medidas de precaução: uma orientação com um profissional qualificado para avaliar se o praticante possui condicionamento físico adequado, já que o Parkour exige bastante dos músculos e articulações; e também verificar se o local de trabalho do praticante é compatível, permitindo um banho e troca de roupas, que, segundo os adeptos,é essencial. Afinal, como dizem os “veteranos”, o Parkour pode ajudar a driblar engarrafamentos e apertos em ônibus, mas os muros e grades que serão driblados pelo caminho também deixam suas marcas.

O treino mais regular do grupo Omnis Pro Parkour  acontece às terças e quintas, a partir das 19h, na passagem subterrânea de Botafogo (em frente ao cinema Espaço Itaú). Qualquer um pode participar, basta utilizar roupas leves e tênis. Mais informações sobre viagens e treinos em outros lugares no grupo "Parkour Rio – Treinos e Viagens", no Facebook. Para conhecer melhor o Ominis Pro Parkours, assista ao vídeo:
   
 

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