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A militância da aceitação em Nova Iguaçu

Nos últimos 30 anos, mais de 3.500 homossexuais foram executados no Brasil, vítimas da homofobia. Ainda existe muita rejeição na sociedade à diversidade sexual. E, do outro lado, vários grupos e organizações buscam mudar esta realidade. Nas periferias, a situação é mais assustadora.


Em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, os grupos 28 de junho e Com Causa militam pela diversidade sexual e reconhecem: o maior desafio continua a ser a violência. Na noite de 30 de março de 2013, um homossexual foi baleado na saída de uma boate na rua da Lama. Um grupo em um carro passou atirando. O caso chegou a ser registrado na delegacia, mas ficou por isso mesmo.
 
Foto: Arquivo pessoalEugênio Ibiapino é diretor do grupo 28 de Junho (homenagem à data do Dia Mundial do Orgulho LGBT) e um dos coordenadores da Parada LGBT de Nova Iguaçu, que chega a sua 10ª edição em outubro deste ano. Militante da defesa dos direitos dos homossexuais na Baixada, ele diz: “Lutamos por uma sociedade em que não mais seja necessário que os negros, índios, homossexuais e mulheres tenham apenas um dia especial no ano para denunciar o preconceito e discriminação de que são vítimas”. E acrescenta: “O grupo iguaçuano busca a cidadania plena. Não aceitamos que queiram nos “curar ou “converter”.
 
Pedro Oliveira, militante e articulador CRDH da Com Causa, acredita que é preciso, antes de tudo, aceitação. “Somos vítimas de preconceito cotidianamente. Ainda é difícil uma colocação profissional para transexual, por exemplo. Esperamos que a sociedade leve nossa militância mais a sério, porque vivemos tempos difíceis de intolerância e um alto grau de homofobia em toda Baixada Fluminense. Por estarmos na periferia, muitas vezes os casos de homofobia que sofremos não são levados a sério”, conta
 
Vulgaridade, não. Identidade!
 
Lutando contra a intolerância, Pedro menciona a colocação profissional de travestis e transgêneros. “Quando você vai ao consultório médico é um travesti que te atende? Onde estão essas pessoas? Apresentar os documentos já abre uma oportunidade de constrangimento. Há meninos e meninas trans que têm uma formação ótima, mas não tem espaço para eles no mercado. Tudo bem a pessoa se prostituir porque quer, o problema está em ir para a esquina porque não tem outra opção”, diz Pedro.                                              
 
Sobre as travestis, Pedro admite: “Eu mesmo sou gay e confesso que não entendia muito bem o motivo do cara colocar um vestido. Me perguntava: Pra quê isso, hein?  Depois que fui entender que não é uma questão de escolha. O indivíduo se olha no espelho e não se sente feliz, não se reconhece. A luta é por ser aquilo que é, sem restrição. Isso é um direito humano. Não se trata de vulgaridade e sim de identidade”.
 
Nova Iguaçu e a Parada LGBT

A Parada LGBT é um acontecimento político em que se reivindicam direitos e também um momento de celebração. Geralmente quem organiza o evento são movimentos sociais, principalmente os LGBTs. Em Nova Iguaçu, ela acontece duas vezes ao ano, no centro de cidade e em Cabuçu, conhecida como “periferia da periferia”, onde a população LGBT é bem grande.
 
O grupo 28 de Junho é um dos organizadores da Parada. Em 2013, ela acontecerá em outubro, na Via Light. “Para comemorar a 10ª edição do evento, faremos também uma grande ação social, além da realização de shows. A parada tem um clima festivo, mas o objetivo principal é a luta contra a violência e o preconceito aos gays. Mas, antes disso, em junho, foi comemorada a Semana da Diversidade LGBT, com exibição de filmes com tema sobre homossexualidade, palestras e várias outras atividades,” conta Eugenio.
 
As leis não se aplicam na periferia
 
Infelizmente só existem leis no âmbito estadual, nenhuma especifica para o município de Nova Iguaçu. No Rio de Janeiro, existe o Rio Sem Homofobia, que visa ao enfrentamento da homofobia e da transfobia e promove a cidadania da população LGBT com Centros de Cidadania LGBT.
 
“Seria perfeito se as leis atravessassem a Linha Vermelha e chegassem aqui na Baixada. Quando o lugar tem pouca visibilidade é mais difícil aplicar punição. As leis existem para a Baixada, mas só no papel. Uma coisa é uma travesti ser esfaqueada na rua Nossa Senhora de Copacabana, em Copacabana, outra é ser esfaqueada na avenida Marechal Floriano Peixoto em Nova Iguaçu”, finaliza Pedro.

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