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Complexo da Maré

Projeto leva música clássica às escolas

Presente na Maré, no Caju, na Penha e em Xerém, o Projeto Estrada Cultural desperta jovens escolarizados à música erudita, incentivando a inserção no mercado profissional. Com três anos de atuação, o programa beneficia 300 alunos, que ganham bolsa, instrumento e oportunidade de se apresentar em teatros, com a Orquestra Maré do Amanhã.

Bailarinos da Maré estreiam na França

Pela primeira vez, os alunos do Núcleo 2 da Escola Livre de Dança de Maré tiveram a ocasião de realizar intercâmbio com a Escola Municipal Artística de Vitry-sur-Seine, na França. Há anos a Maré mantém uma troca cultural privilegiada com esta periferia de Paris por meio da Cia Lia Rodrigues de Danças, também sediada no complexo de favelas.

Tráfico não tem relação direta com homofobia

Foto: Rosilene Miliotti
A discriminação em relação à orientação sexual é um tema bastante falado nos dias de hoje. Mesmo com diversos discursos sobre a tolerância à diversidade, ainda podemos observar inúmeros episódios de homofobia e preconceito na sociedade. Imagina-se que em territórios dominados pelo tráfico de drogas, que geralmente tem o poder de determinar o que é aceito ou não na comunidade, a discriminação seja mais acentuada. Gilmar Santos da Cunha, presidente do grupo Conexão G, ONG voltada ao público LGBT do Complexo da Maré, afirma que a influência do tráfico não tem relação direta com a homofobia, mas, sim, o preconceito que reside na mente das pessoas.

Gilmar e Mauro Lima, vice-presidente do Conexão G, dizem que é difícil afirmar se há diferença de violência contra homossexuais dentro e fora da favela. “Não temos dados se a violência contra homossexuais em favelas aumentou ou diminuiu. Aqui na Maré, onde o Conexão G atua desde 2006, temos percebido através de relatos, que com a migração de traficantes de comunidades com Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), tem aumentado o abuso de forma geral e não apenas com a população LGBT. Essas pessoas migram de outros territórios e não tem vínculo com a comunidade e os moradores. E acredito que nem querem esse vínculo porque talvez estejam apenas de passagem”, explica Gilmar.

Para Mauro, a violência contra homossexuais em favelas não tem relação direta com tráfico. Quem sustenta esse tipo de ato discriminatório é o preconceito dos indivíduos. “Me sinto menos vulnerável na Maré, onde trabalho, e em Santa Cruz, bairro em que moro. O sentimento de pertencimento ao lugar nos dá uma sensação de segurança. Ser diferente em um lugar diferente torna o homossexual mais vulnerável. Eu estou mais vulnerável à noite, na Lapa, por exemplo”, completa Mauro, que já foi vitima de violência dentro de uma boate LGBT.

Segundo Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil – um documento elaborado com base nas denúncias sobre violência por opção sexual recebidas por órgãos públicos, principalmente uma central telefônica* divulgada em julho deste ano pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH) –, os casos de violações (que incluem violência física, psicológica e discriminação) contra homossexuais no Brasil cresceram 46,6%, em 2012. Foram contabilizados 9.982 casos de violações contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTT). A agressão contra homossexuais que mais cresceu entre 2011 e 2012 foram a psicológica, com um salto de 83,2%.

De maneira geral, entre os homossexuais há o sentimento de que falta diálogo e respeito para a construção de uma sociedade menos homofóbica, transfóbica, violenta, machista e sexista. Para Gilmar, existem, sim, casos de violência física contra homossexuais na Maré, mas desde o surgimento do Conexão G, os relatos que chegam até o grupo tem diminuído. “A questão da homossexualidade não é discutida e por isso as pessoas não entendem que o homossexual é um ser humano como outro qualquer. E é engraçado que quando eu ando pela comunidade as pessoas se referem a mim como ‘vocês’. Mas não são ‘vocês’, somos nós. Parece que somos seres que viemos do espaço e aterrizamos aqui e que não fazemos parte da humanidade”, brinca.
 
Opressão familiar e social

“Percebo que as pessoas só caracterizam a homofobia quando há agressão física, mas devemos olhar como agressão mais latente, as vivenciadas no seio familiar. As agressões verbais, psicológicas e sociais são as mais preocupantes já que as consequências podem refletir na vida desse indivíduo”, diz Mauro.

Gilmar revela que, quando tinha 12 anos, sofreu agressões físicas de um garoto de 10. “Eu passava na rua e esse menino sempre me batia porque eu me assumi gay no início da adolescência. E há pouco tempo, reencontrei aquele menino que me batia. Conversamos sobre homossexualidade, ele disse que não entendia o que era ser gay e hoje ele gosta de variar e ter relações sexuais com homossexuais.”, revela.

Entretanto, as travestis e as transexuais sofrem ainda mais violência. Gilmar justifica o excesso de violência porque elas fogem dos padrões da lésbica e do gay. “Há uma leitura de que você pode ser gay desde que não se vista de mulher. Ainda há o pensamento de que as travestis querem se tornar mulheres. O que não é verdade, elas não querem ser mulheres e sabem que nunca serão. Quando as transexuais fazem a readequação genital é porque mentalmente ela já não se identifica com aquele corpo de homem. Elas querem ser livres para colocar seios, saia, até porque para muitos homens isso é um fetiche”.

Homossexuais x religião               
    

Há uma linha de tensão entre os homossexuais e a Igreja, na qual Gilmar afirma que é preciso respeito. Se a bíblia diz que Deus ama a todos, por que nem sempre quem prega o que está escrito nela consegue vivenciar? Para Gilmar, um dos pecados do movimento LGBT é falar apenas para os seus pares e não dialogar com quem pensa diferente. “Eu, enquanto instituição, não posso sentar apenas com mulheres porque elas são feministas e se aproximam da minha luta. Eu tenho que conversar com os evangélicos, com os pastores, padres, políticos, com vários representantes”.

Gilmar, que chegou a ser coroinha na igreja católica da comunidade Nova Holanda, hoje é espírita. Para ele, a igreja católica aceita o pecador, mas não aceita o pecado. “Aí você me pergunta: você foi reprimido na igreja? A todo momento eu sou reprimido. Chegou um tempo na minha vida que eu identifiquei que não era mais aquilo que eu queria, que eu não vou ficar me reprimindo e me escondendo por conta de dogmas e regras. Então procurei outro espaço que me acolhesse e onde eu pudesse me encontrar com Deus e o mundo espiritual, mas que não me reprimisse".

Ele chama atenção e considera que no território da Maré é muito visível esse preconceito através da religião. “Antigamente a Maré tinha vários terreiros e hoje a gente não tem nenhum. Será que as pessoas deixaram de ser espíritas ou foi a proliferação das igrejas evangélicas? Para mim, pelo fato da comunidade viver à margem de toda a sociedade e nas questões sociais não ter apoio do governo, a não ser das ONGs, eu acredito que a igreja acaba ocupando esse espaço e as pessoas se deixam levar. Se o pastor diz que ser homossexual não é coisa de Deus, as pessoas que estão ouvindo acabam acreditando naquilo como única verdade”.

*Para denunciar abusos contra os Direitos Humanos, inclusive contra LGBTs, use a central telefônica criada pela SDH, o "Disque 100".

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