Seminário discute ativismo em contextos de violência
O Viva Favela foi convidado a participar do Seminário Mucho Con Poco, organizado pela ONG argentina Asuntos del Sur, onde diversas iniciativas e ativistas debateram sobre questões que envolvem juventude, articulação em rede e mobilização de pessoas.
O evento, que desembarcou no Rio de Janeiro nos dias 18 e 19 de agosto, na Fundação São Martinho, na Lapa, promoveu a reflexão sobre os direitos humanos e como as tecnologias podem ajudar na busca pelos direitos à cidadania e na desconstrução da violência institucional e urbana.
A escolha pelo Rio de Janeiro se deu justamente pela cidade apresentar contrastes como possuir belezas naturais e ser sinônimo de alegria e receptividade e, ao mesmo tempo, ter grandes índices de violência e desigualdade e violação dos direitos humanos por meio da repressão policial.
Inovação e (des)ordem: protesto e resistência
O painel “Inovação e (des)ordem: protesto e resistência” tinha como proposta apostar como as inovações midiáticas e renovações políticas se convergiram e como elas poderiam ajudar na garantia de direitos à livre organização coletiva. Além disso, como as tecnologias usadas por midiativistas poderiam ter papel fundamental para criar narrativas que normalmente não são apresentadas pela mídia tradicional. Desta forma, a mesa foi composta por pessoas que, de diversas formas, atuam de forma inovadora e articulada para mostrar como a mídia colaborativa existe e sobrevive diante das dificuldades e limites impostos a eles.
Mediada por Clarissa Moreira, da Universidade Nômade, a mesa que tratava de inovação política e mídia participativa teve como fio condutor da conversa foram as manifestações de 2013 e os seus desdobramentos. “Onde foi que erramos?”, questionou Rodrigo Nunes, da PUC, ao abrir sua fala, lembrando das jornadas. Para ele, após agosto daquele ano, não apenas as palavras de ordem perderam força, mas também a articulação de pessoas que existia naquele período. Apesar disso, o crescimento de redes colaborativas se intensificou. “A internet é para a gente como o deserto é para os árabes: espaço onde se encontram para juntar forças e se articular”, comentou.
Seguindo nas apresentações, os ativistas independentes Rafucko e Paula Kossatz deixaram claro a importância do uso do audiovisual e das tecnologias para o despertar político e para a construção e desconstrução de ideias. “O uso do celular ficava bem mais fácil para noticiar e divulgar e nas manifestações eu tinha que ser ágil”, lembrou. De acordo com a espanhola Moni Nahia do coletivo Círculo Podemos, da Casa Nuvem, a educação, principalmente a da política, é fator extremamente importante para que haja uma renovação social nos jovens. Debora Pio (Viva Favela) reiterou a fala de Moni ao comentar que muito além de pensar em educação, é necessário pensar em um modelo que seja abrangente. “Tem que entender as pautas de todos e circular pela cidade para saber quais são as demandas”, observou.
Concluindo as rodadas de falas, a grega Katerina Tsakanika, do Movimento acabe com o ecocídio no mundo, ressaltou a importância das mídias e redes sociais para promover o diálogo, mas destacou que “a tecnologia une, mas invade o nosso modo de viver”, explicando que muitas vezes o ativismo fica apenas no plano virtual.
Modelo de educação deve ser pensado com cuidado
Educação é a saída
Ficou clara a importância da organização coletiva e da mídia colaborativa para mostrar situações que normalmente são veladas e o quanto as jornadas de 2013 promoveram a conscientização das pessoas, principalmente as de esquerda. Mesmo atuando de formas diferentes, os palestrantes concordaram que os atos políticos de 2013 foram responsáveis pela criação de uma série de articulações e coletivos, criando espaços de falas para assuntos heterogêneos que não eram apresentados e expostos anteriormente.
Para além do debate, o grupo comentou que é preciso refletir como essas articulações podem gerar novos modelos de conscientização e educação e como eles podem ser democráticos e plurais a fim de atender a todos. “A gente precisa que as pessoas pensem no processo de melhorar o mundo, apesar das suas discordâncias, para chegar em um ponto comum”, observou Rodrigo, ressaltando que a educação é importante, mas é necessário construir coletivamente. “Qual modelo de educação que vai fazer esse processo em que vivemos mudar? A educação e a construção coletiva são pontos que devem ser pensados por todos e não apenas por uma elite intelectual”, ressaltou Debora.