Festa relembra primeira revolta dos escravos do Haiti

O Haiti foi o primeiro país do mundo a promover uma revolta contra a colonização, em 1791. Depois de 2010 os fluxos migratórios para o Brasil se intensificaram - e tudo isso foi tema da festa Bwa Kayman no final de semana.

Festa relembra primeira revolta dos escravos do Haiti

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Bob Montinard (de costas) fala que há mais para falar do Haiti do que terremotos e tragédias (Fotos: Amaury Alves)

“Aqui não tem terremoto, não tem guerra civil, só tem haitiano brincando”, repetia Bob Montinard, um dos organizadores da festa que lembrou os 224 anos da 1ª Revolta dos Escravos no Haiti e que culminou na independência da ilha caribenha. O chamado Bwa Kayman aconteceu no sábado, dia 29, no pátio do Viva Rio, na Glória. O evento também serviu como comemoração de um ano de atividades da Associação Haitianos Cariocas.

“Os haitianos passaram por um momento muito difícil, estão aqui com saudades e só querem trabalhar”, comentou a enfermeira Isis Romeiro, uma das parceiras da festa. Ela se ofereceu como voluntária para customizar camisetas para serem vendidas. “Conheci haitianos em Maricá, onde muitos trabalham na construção civil. Um deles casou-se com uma amiga e passei a conviver com eles”, conta a brasileira, que aprendeu o ofício dos cortes especiais com a mãe costureira.

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A saudade é uma das musas inspiradoras do artista plástico Dady Simon, que pinta quadros

A saudade ajuda na inspiração do artista plástico Dady Simon. Atualmente morando em Foz do Iguaçu, ele veio ao Rio para participar da festa, diz que sente falta da família que ficou no Haiti, mas que aqui está sossegado. Dady expôs cerca de 20 telas pintadas por ele, como “Le calis de la vie” (A taça da vida); “Le soufle d’indie” (Sopro do Índio). O “La lune et le Soleil” (A Lua e o Sol) lembra que, na natureza, tudo está em harmonia, convivendo junto, formando um todo. “Não há uma separação entre o negro e o branco, por exemplo”, explica o haitiano nascido em Gonayve, onde aconteceu a revolta.

“O Haiti é a mãe da liberdade do mundo. Temos beleza para mostrar, não só violência e miséria. Venho da cidade da Independência, que tem as praias mais bonitas. Os brasileiros deveriam ir visitar mais o Haiti, uma ilha maravilhosa, perdida na piscina do Caribe”, diz o artista. Em São Paulo, ele cantou no coral da Catedral da Sé. “O maestro me perguntou se eu tinha estômago para cantar em um coral tão importante, no qual o candidato precisa ensaiar três meses para ser admitido. Cantei no mesmo dia”, conta orgulhoso.

Diáspora haitiana para o Brasil continua crescendo

A arte o ajuda a superar a saudade. Ele recita em francês, todos vibram, se abraçam, dançam e exibem largos sorrisos sucessivos, que definitivamente conquistaram os brasileiros desde que eles chegaram para viver aqui. O DJ Zobef colocou a povo para dançar. Bandejas servindo fritay (bolinho frito de banana, mandioca e frango) e akra (salgadinho frito apimentado) deram uma provinha da culinária haitiana.

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A enfermeira Isis Romeiro se ofereceu para customizar as camisas que foram vendidas no evento

O Brasil passou a ser um dos principais destinos dos haitianos depois de 2010. Dados de 2011 do Banco Mundial estimam que aproximadamente 10% da população do país tenha saído do país (1.009.400 pessoas), mas outras fontes indicam que a diáspora haitiana já teria ultrapassado a casa de 3 milhões de pessoas. No Rio de Janeiro a estimativa é que vivam cerca de 10 mil haitianos, mas ainda não há dados concretos sobre isso. A maioria deles acaba sendo empregada no setor de serviços, como motoristas, carpinteiros, mecânicos, eletricistas, professores da área da computação e trabalhadores da área de estética.

O portal Haiti Aqui, projeto do Viva Rio, pioneiro em facilitar a integração de imigrantes haitianos no Brasil, funciona como um canal para orientação sobre oportunidades de trabalho, emprego formal, cursos de capacitação, programas culturais etc.

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