Encontro mensal presta tributo a Dj na Rocinha
A morte precoce de Fernando Nere em fevereiro deste ano, nome de referência quando o assunto era discotecagem na Rocinha, causou uma transformação no cenário da cultura local. Um evento que antes era incomum agora está ganhando cada vez mais espaço depois do acidente. O Encontro de DJs, que agora acontece mensalmente, reúne profissionais de vários ritmos e que tocam sons de diferentes épocas tem feito a alegria do público local, com muita música, é claro, e reunião de famílias.
O que costumava ser um encontro que reunia no máximo 15 pessoas, cujo intuito era apenas trocar e ouvir músicas, tem se tornado uma atração democrática na Rocinha. “A gente se reunia na laje de uma dupla de irmãos, o Márcio e Marcelo, que também são DJs, para tocar musicas que a gente gostava e não ouvia nos bailes. Até que em 2013 fizemos o primeiro encontro na rua” explica Patrick Alves, um dos organizadores. Hoje o Encontro de DJ’s já passa da décima edição, reunindo cada vez mais público. E o melhor: é totalmente gratuito.
Além de reunir artistas locais e de fora, os encontros também fazem um tributo à Nere, que era um apaixonado pela profissão. Ele começou a tocar na adolescência e nunca mais abandonou a música. Ele também foi o primeiro vencedor do concurso de DJs da Rocinha, quando tinha apenas 14 anos. Mas sua trajetória de sucesso foi interrompida quando ele voltava da Barra da Tijuca em sua moto e foi atingido por um carro. O acidente tirou a vida de Nere na hora. A tragédia chocou toda a comunidade da Rocinha e o velório ficou lotado. Muita gente não conseguiu sequer entrar na capela.
“Ele marcou uma data para o encontro de DJs e faleceu uma semana antes. Aí resolvemos fazer assim mesmo. Em nome dele, porque ele queria muito”, conta Phillipe Noel – conhecido como Dj Gordura – um dos organizadores do evento. “Através desse encontro, que marcou bastante, houve uma certa sensibilidade do pessoal, e aí todo mundo abraçou a ideia”, completa.
Gordura até chegou a se espantar com a iniciativa, já que é comum existirem desafetos nesta área. Já Alves diz que o evento tem sido uma chance para quem está se profissionalizando, ou para quem ainda está no anonimato. “É um espaço para quem está começando ou quer mostrar o trabalho para o público. Vem profissionais de fora, como Caxias, São João de Meriti, Santa Cruz”, enumera. Apesar disso, as reuniões ainda encontram certa resistência. “Tem um pessoal da própria comunidade que não vai. Já foram convidados muitas vezes, mas não vão. Até o Dj Fabio, do Castelo das Pedras (baile famoso na Zona Oeste) já foi e tem gente da Rocinha que ainda não apoia. Talvez não seja interessante para eles”, lamenta.
Tributo, geração de renda e valorização do trabalho dos DJs
Alberto Dj, que está com o grupo desde o início, fala da dificuldade na profissão e conta como Nere o ajudou na carreira. Segundo ele, os encontros o tem ajudado a superar o luto. “Eu só tenho coisas boas para falar do meu amigo. E ele me ajudou muito. Por eu ser mais velho, eu precisava me reciclar para tocar para essa galera mais nova e foi ele quem me estendeu a mão. Hoje eu toco em qualquer lugar, para qualquer público” – e completa: “pela memória do nosso amigo, estamos lutando para manter o evento e reforçar a nossa classe”.
Flavio Neri, irmão do Fernando Dj, fala das dificuldades em manter os encontros. “O evento hoje é sucesso, com média de 500 pessoas. Mas a gente tira dinheiro do próprio bolso para custear tudo. Pagamos sonorização, transporte de equipamento, entre outras coisas. Alguns comerciantes nos ajudam com o que podem. Mas ainda precisamos de mais”, explica. Ele ainda garante que não cobra taxas para os ambulantes que vendem seus produtos nos eventos. “A gente não cobra nada. Os ambulantes até criaram uma espécie de praça de alimentação. Os bares também vendem bastante, mas o evento ainda não é lucrativo para a gente. Precisamos de ajuda porque a comunidade precisa de um divertimento. A aceitação do nosso evento é total”.
As reuniões que viraram um encontro oficial também tem espaço para as crianças. Famílias podem escutar musicas variadas, desde as mais antigas as mais atuais e ainda levar os filhos para se divertir. No penúltimo evento, ocorrido dia 14 de agosto, teve até pula pula para as crianças.
As ambições do coletivo que se formou não param por aí. Gordura diz que o maior legado deixado por Nere é a união da turma, que se consolidou depois que o evento entrou na pauta de lazer da Rocinha. Ele ainda faz planos. “Quem sabe não vira um evento nacional?”, diverte-se.
O irmão de Fernando fala sobre a chance de torna-lo inesquecível: ” a minha intenção é que as datas dos encontros se torne uma data festiva na comunidade para que todos se lembrem dele”.
O próximo Encontro de DJs está marcado para o dia 6 de setembro, a partir das 18h, na quadra da Roupa Suja, na Rocinha e é aberto ao público. Para informações de datas é só entrar na página oficial do Facebook “Encontro de DJs”.
Só tenho a agradecer a todos em nome do meu irmão e muito Obrigado a todos q fizeram a matéria e principalmente a Cecília TJ em nome do Fernando Nere…
Essa é uma grande iniciativa, e vcs estão de parabéns porque hoje em dia é a única coisa que temos para curti a tarde de domingo com familiares e amigos…
É acharia legal arrecadar fundos para o evento se tornar cada vez melhor…
Qto ao pula pula não da para colocar de 15 em 15 não… mais uma vez ao mês eu vou tentar colocar para as crianças…
Seria legal as pessoas que colocam barracas pagarem um valor simbólico para pagar uma pessoa para limpar o local no término do evento… vcs estão de parabéns….
Olá, não sou da comunidade, mas sei como é perder alguém do convívio, ainda mais alguém referencia em algo bom pro coletivo. Matéria muito interessante e bem escrita. Parabéns Viva Favela