Feira Ubuntu destaca afro-empreendedores
Ao lançar a fanpage Indiretas Crespas, no Facebook, Carla Cavallieri não imaginava que rapidamente ganharia tantos simpatizantes. A página compartilha frases e ditados populares do cotidiano, sempre focados na valorização da auto-estima de pessoas negras. Com mais de 30 mil seguidores, ela ficava sempre pensando quais seriam seus próximos passos. A pedido deles, ela começou a estampar em camisetas com as frases dos posts e começou a comercializá-las ali mesmo. O sucesso foi imediato.
Formada em pedagogia, atualmente Carla estuda História na UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) e, a convite do setor de promoções e eventos da universidade, a estudante inscreveu pela primeira vez no l Congresso de Pesquisadores Negros do Sudeste a Feira Ubuntu, que já na primeira edição, em agosto deste ano, teve bastante êxito, atraindo muitos estudantes de diversos cursos, além da comunidade do entorno e pessoas vindas de diversos lugares da Baixada e do Rio. O reitor então sugeriu que a feira fosse realizada mensalmente dentro do campus.
O nome da feira tem tudo a ver com o verdadeiro espírito que impera por lá. “Ubuntu”, vem de uma filosofia africana que significa que o homem não pode ser uma ilha, o “eu sou porque nós somos”. Para participar da feira, os afro-empreendedores tem que ter um comprometimento ideológico, que incluem paixão por moda e valorização da cultura negra. Além de comercializarem suas artes, a feira acaba também sendo um espaço de troca entre os próprios empreendedores.
Histórias e valorização da cultura negra
Maria Adelaide de Sousa é carioca e vem de uma família de artesãos. Após terminar um casamento, viu a necessidade de ter uma renda para o sustento da sua família e decidiu trabalhar naquilo que já estava em seu sangue desde a infância. Foi aí que conheceu algumas afro empreendedoras e começou a fazer suas artes para vender na feira. Para ela, estar em um ambiente acadêmico faz toda diferença. “A receptividade é muito boa e aqui na Rural é muito interessante, porque a feira é mensal e o ambiente parece ser mais sensível e interessado pela cultura afro-brasileira”, acredita.
O tema afro também causa mobilização entre os próprios estudantes, que vêem na feira uma chance de discutir o racismo. Vanusa Soares, que trabalha com produtos de crochê, explica que o racismo e seus paradigmas vêm sendo quebrados e que as pessoas têm reagido a isso. “Um dia numa exposição numa universidade, uma jovem estudante de pele clara e cabelos crespos se aproximou e disse que não poderia ficar bonita porque o cabelo não era ‘muito bom’ e que tinha vergonha de usar brincos coloridos e batom. Gentilmente pedi para que me deixasse adorná-la. Ela ficou emocionada quando se viu no espelho. Foi muito marcante”.
A ideia da feira, além de promover a moda e o afro-empreendedorismo, é também levar outras discussões para os espaços onde ela acontece. A Ubuntu também abre espaço para exposição e discussão de outros temas, como estética, beleza e, principalmente, empoderamento e conscientização para a causa negra. Oficinas como “Regando Amor”, que é voltada para as crianças e que exalta os personagens negros brasileiros; rodas de conversa, apresentações musicais e outras atividades que variam em cada edição.
A feira hoje tem a proposta de ser itinerante e já conta com 25 afro-empreendedores fixos, que vem não só da Baixada, mas também de outros lugares da cidade – e até mesmo de outros Estados. Todos eles trazem na bagagem seus próprios produtos, muitos deles personalizados e com alta qualidade. A maioria deles sobrevivem deste trabalho e vem ocupando cada vez mais espaço no mercado.
A próxima edição acontece no dia 04 de dezembro na Universidade. Mais informações na fanpage.
Gratidão Marília por somar estar na luta conosco.
Obrigada mesmo!!!
#UBUNTU