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Juventudes: a chave para o combate ao racismo

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CNN

Coletivo Nuvem Negra na PUC: uma semana de discussões sobre temas ligados à negritude (Foto: Coletivo Nuvem Negra)

O Brasil vem avançando a passos lentos na questão da igualdade racial. Há pelo menos uma década alguns programas sociais têm ajudado na ascensão da população negra aos espaços de poder, coisa que era inimaginável até meados do século XX. Embora a resistência negra exista desde o início da colonização e escravidão, as ações afirmativas, por exemplo, não completaram nem três décadas no país.

Execução

A campanha Jovem Negro Vivo, da Anistia Internacional, mobiliza para o fim das execuções (Ilustração: Anistia Internacional)

A campanha Jovem Negro Vivo, da Anistia Internacional, expõe que dos mais de 30 mil homicídios cometidos no Brasil em 2012, 77% das vítimas tinham perfil semelhante: jovens, negros e moradores de periferias. O número é alarmante e mostra um dos mais graves resultados do racismo: a letalidade. É possível afirmar que a maioria destes jovens morreu só porque era negro e, apesar disso, ainda são tímidas as reações e propostas para diminuir estes dados. Uma delas é o programa Juventude Viva, lançada no ano passado pelo Governo Federal e que irá levar a 142 municípios com altos índices de vulnerabilidade social um conjunto de políticas públicas específicas para esta camada da população.

Em contrapartida, a própria juventude tem se organizado e se mobilizado em rede para promover essas mudanças, inventando um modelo cada vez mais horizontal e plural de lutar contra as desigualdades.

Ativismo online

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Liga Antiéticos: letras de protesto e sucesso entre a juventude (Foto: I hate Flash)

Desde as jornadas de junho de 2013 as redes sociais se tornaram plataformas de mobilização fundamentais para os diversos movimentos sociais. Se antes a mídia tradicional minimizava a existência ou ações deles, hoje, com as redes, a omissão destes veículos diante de alguns fatos começa a ser questionada. Além da mídia, as redes sociais são territórios onde esses movimentos têm conseguido se expandir, pois enquanto nos espaços hegemônicos as reportagens têm tempo/espaço físico limitado para serem discutidas, em outros espaços, como a Internet, esses assuntos podem ser debatidos mais amplamente, sem limites de tempo ou caracteres.

É também nas redes sociais que podemos notar a emergência de construções e difusões de conteúdo sobre o movimento negro que acabam sendo pautadas pela mídia e promovendo discussões também no campo off-line. Por ser um espaço mais aberto, as redes permitem a troca e a soma de informações, proporcionando a participação daqueles que estão inseridos nesses grupos e que podem produzir mudanças concretas em seus contextos.

A expansão do movimento negro chegou às redes sociais através de páginas, vídeos, blogs, gifs de apoio, grupos de debates e, graças a isso, uma multiplicidade de temas que antes não ganhavam tanto destaque dentro do próprio movimento estão sendo cada vez mais expostos. Essas ferramentas não são usadas para falar apenas do racismo e da exclusão dos negros, há também espaço para discussões sobre feminismo, solidão da mulher negra, relacionamentos, entre outros. A troca, nestes casos, é de extrema importância.

Juventude negra e protagonista 

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Marcha das Mulheres Negras, um resultado da descentralização dos debates (Foto: Marcha das Mulheres Negras/Facebook)

Os espaços das cidades estão cada vez mais em disputa, e no Rio de Janeiro não é diferente. A reação dos “cidadãos de bem” aos arrastões nas praias, os justiceiros, o clamor a favor da redução da maioridade penal, os cortes nas linhas dos ônibus, a política das UPPs só evidenciam que os negros continuam sendo vistos como um inimigo a ser combatido. Os casos do goleiro Aranha, Maju Coutinho e mais recentemente Thaís Araújo são um pequeno recorte de um problema que é crônico.

Indo além das hashtags #SomosTodos para combater o racismo, esta juventude vêm criando suas próprias narrativas e ganhando cada vez mais adeptos para a luta. Alguns exemplos são a Liga Antiéticos, grupo de rap com integrantes da Zona Oeste e Baixada que tem se destacado na cena cultural carioca. No mesmo encalço, o Coletivo Nuvem Negra, da PUC (Pontifícia Universidade Católica), que realizou esta semana uma série de debates temáticos. As meninas Black Power, que promovem oficinas de empoderamento para meninas negras também são um exemplo. Entre eles, muitos outros que desempenham trabalhos relevantes para começar a alterar este cenário.

Se antes as problematizações das causas ligadas aos negros ficavam concentradas apenas na esfera acadêmica, criando diagnósticos distantes do “mundo real”, hoje ela já é muito mais palpável – e os principais responsáveis por isso são, sem dúvida, a juventude. A Marcha das Mulheres Negras colocou 20 mil mulheres pretas na rua para gritar por seus direitos. É essa geração que expõe nas redes, sem medo, seus corpos pretos, seus cabelos black power, suas opiniões, estética e estilo. É a geração protagonista de sua narrativa. Não há ainda pesquisa que dê conta deste empoderamento espontâneo que tem surgido – a primavera negra já chegou. E pensar que estamos apenas começando.

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