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Complexo do Alemão pede Paz

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Em manifestação realizada no dia 4/4, cerca de quinhentas pessoas se reuniram em frente à comunidade do Complexo do Alemão em repúdio a morte do menino Eduardo de Jesus, atingido com um tiro de fuzil por um policial militar, que confessou o disparo. A criança de apenas 10 anos foi atingida na cabeça, por um tiro de arma calibre 762, após incursão da PM na comunidade, no dia 2 de abril. Pessoas de diversas comunidades se uniram ao Complexo do Alemão na manhã do dia 4, pra pedir paz, após ato pacífico realizado pelos moradores no dia 3/4, acenando com panos brancos em suas lajes e janelas.

 

O dia 4 de abril ficou marcado na comunidade com a participação de boa parte do Complexo, artistas da cultura Hip Hop, igrejas e demais religiões, além da presença do deputado estadual Marcelo Freixo e do ator Paulo Betti. Durante o evento o grafiteiro Rodrigo Mais Alto da BF fez uma tela com o desenho da comunidade e a palavra Paz em letras garrafais, com destaque, em cima da tela. Diversas pessoas discursaram a respeito da violência nas comunidades e favelas do estado do Rio de Janeiro nos últimos anos, e todos pediam mais amor, menos violência, e paz pra toda comunidade. Os rappers Sérgio Batista (Gim Reflexões) e Deco Rappista fizeram free style (rap improvisado na hora), e discursaram a paz em forma de rap, exaltando a Jesus em seus versos.

 

Raul Santiago, morador da comunidade há 26 anos, expressou sua indignação ao caso da morte de Eduardo. “Uma bala disparada na favela não é bala perdida. O sangue derramado não será esquecido, mas os mortos serão eternizados na nossa mente, no nosso coração. Hoje eles serão lembrados aqui na rua. Lutamos por todos nós, pelo futuro da favela, pela nossa sobrevivência”, disse Raul. As iniciativas que trabalham pelo social na comunidade com crianças, e a utilização de um dos transportes mais usados pelos moradores na região, também foram destacados pelo morador. “No Complexo do Alemão tem muita coisa positiva, tem muita atitude bacana, desde aquela senhorinha que cuida de diversas crianças pros pais trabalharem, como o moto táxi, que é uma iniciativa de favela primordial na nossa vida. Colocaram apenas a secretaria de segurança e ela sozinha ficou provado que é falha, faltam outras secretarias e outros trabalhos chegando junto, dialogando e trabalhando com as organizações existentes na favela”, lembrou Raul. Além disso, existem na comunidade organizações que trabalham com a cultura e a comunicação comunitária, como é o caso do coletivo Papo Reto, que é um canal que trabalha com o audiovisual na internet através do You Tube. Esses trabalhos começam a se expandir em rede de diálogo com outras comunidades, ajudando e contribuindo com os trabalhos de umas as outras.

 

A igreja Marca de Cristo participou do evento com os pastores Leonardo Apicelo e Valsonir Canabarro. O Pr. Leonardo discursou em prol do amor de Jesus na comunidade e ressaltou a importância do Hip Hop como um instrumento de conscientização no Complexo do Alemão. A igreja ainda deu suporte para que a mensagem de paz fosse registrada no ato pelos integrantes da cultura que participaram no local. O pr. lembrou, “o processo de pacificação não é feito com balas, não é feito de armas, ele é feito com ações que visam uma vida melhor, pra aqueles que não tiveram uma oportunidade na sua vida inteira. Eles precisam dessa oportunidade porque quando o jovem coloca uma arma na mão pra entrar em conflito com um policial é porque ele não tem o que perder. E ele não tem o que perder porque não deram nada a ele. Nós estamos aqui como povo de Deus, dizendo que o cidadão precisa ocupar os espaços que o estado deixou e nós somos esse povo que está gritando por paz”.

 

Já o deputado Marcelo Freixo, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania (CDDHC) da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) disse, “existe um caminho importante a ser construído, a história do Complexo do Alemão envolve a vida de muita gente e essas pessoas precisam ser ouvidas, não há outro caminho se não ouvir os moradores, a CDDHC está acompanhando e nós vamos preparar uma audiência pública junto com os moradores para que o resultado dela seja o desejo desse coletivo. Está faltando diálogo em que o estado venha entender o que a comunidade está dizendo, porque não há nenhuma possibilidade de qualquer projeto de pacificação se não for a partir do que existe, e quem conhece isso aqui, vive aqui, então um modelo de polícia… tudo isso, precisa ser feito a partir da realidade dessas pessoas”.

 

Ao final da manifestação dezenas de moto táxis se uniram à população e saíram em passeata pela principal avenida que cruza a comunidade do Alemão pedindo paz.

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