Musa da Rocinha brilha na Viradouro

Há mais de uma década Isabele se dedica ao carnaval e este ano ela desfila pela Viradouro. (Fotos: Arquivo Pessoal)
Em 2015 a Viradouro retorna ao Grupo Especial depois de quatro anos desfilando na Série A. O enredo do desfile é “Nas veias do Brasil, é a Viradouro em um dia de Graça”, que homenageia Luiz Carlos da Vila, compositor do samba “Kizomba”, imortalizado no carnaval de 1988. À frente do carro abre-alas estará Isabele Gianazza, primeira musa da agremiação que virá representando a beleza negra cantada no samba. Nascida e criada na Rocinha, Isabele atende aos requisitos básicos para ter sido alçada ao posto de musa da agremiação de Niterói: corpo escultural e muito samba no pé.
O primeiro passo da trajetória de Isabele no mundo do carnaval aconteceu por acaso. Em 2004 ela foi com um grupo de amigas até a quadra da escola de samba da Acadêmicos da Rocinha e seu gingado acabou chamando a atenção do diretor da ala de passistas. O convite para integrar a escola foi prontamente aceito. Um ano depois, ela passou a integrar o grupo Borboletes, um braço artistico da Acadêmicos da Rocinha que faz espetáculos de samba pelo Brasil afora. Em 2007, Isabele passou a ser destaque de carro alegórico, mas a grande oportunidade só surgiu em 2012: o convite para ser rainha de bateria da sua escola do coração, a Acadêmicos da Rocinha. “Para a gente que vem de comunidade, que é nascida e criada lá, chegar a ser rainha é um sonho. Mas é um sonho muito longe, porque infelizmente para ser rainha de bateria geralmente você tem que ter condições financeiras”, explica ela, referindo-se aos altos investimentos nas fantasias e tratamentos estéticos.
De passista à musa da comunidade
Mas ela garante ter deixado muito de seu suor para conquistar a colocação. “Foi independente da minha condição financeira. Outras também tinham a mesma condição que eu, mas o convite veio para mim, porque eu era da comunidade. Me senti muito honrada. Foram dois anos muito proveitosos. Recebi muito carinho e ainda hoje sou chamada pelos meus súditos de ‘a melhor rainha’”. Por causa desta alcunha, Isabele conquistou dois prêmios consecutivos, algo até então inédito para as musas da Rocinha. “Em 2012 ganhei o prêmio de Melhor Rainha de Bateria e em 2013, o de Melhor Fantasia de Rainha de Bateria, mesmo com uma fantasia que não mostrava muito meu corpo. Entre as 17 rainhas, eu fui a única coberta. Então melhor reconhecimento do que esse, impossível”, gaba-se.
Quando foi convidada para ser rainha, Isabele já estava formada em Turismo, casada e vivia na Itália com a família. Mesmo assim não deixou de participar do desfile carregando sua “coroa”. Hoje, a família já retornou ao Brasil e ela tem em sua filha Gaya, de seis anos, a maior plateia. “Ela ama! Vai a todos os ensaios de rua comigo e na minha apresentação de Musa na Viradouro, ela estava presente. Ela está sempre comigo, me apoia, fala o que está feio ou bonito. Ama maquiagem, tudo o que envolve o samba”, derrete-se. Além da filha, Isabele diz ter também um grande companheiro em casa.“Não nos conhecemos no samba, mas eu já era do samba. Então ele sempre me respeitou, me apoiou. Me acompanha nos ensaios, nas quadras. E isso é fundamental para eu continuar nesse mundo que eu amo”., explica.
Em 2015, além de musa da Viradouro, Isabele também acumula a função de sair à frente da bateria do bloco Empurra que Pega, que desfila na terça-feira de carnaval no Leblon, onde ela assegura estar sendo muito bem recebida. Sobre a Viradouro, ela é só elogios também. “Foi uma escola que me abraçou. Sinto uma energia muito boa quando entro lá. Me tratam super bem, me abraçam, me beijam, e está sendo muito gostoso. Só tenho a agradecer”.