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Folia de rua ressurge na Penha

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Famílias inteiras se reúnem para pular no bloco. (Fotos: Divulgação/Bloco Devassa)

Famílias inteiras se reúnem para pular no bloco. (Fotos: Divulgação/Bloco Devassa)

“Agora tem um bloco que sai na Rua Patagônia, a Banda Devassa, vou levar minha filha!”. A notícia contagiou a professora Elisabete Costa, que comemora a descoberta dos blocos de rua na Penha, bairro da Zona Norte onde nasceu e foi criada.  Finalmente ela vai poder brincar o carnaval com Elisa, de sete anos, sem ter que se deslocar para o Centro ou Zona Sul: “Quando era criança cheguei a pular o carnaval aqui no bairro, e os novos blocos que vêm surgindo têm a mesma característica familiar da minha infância”, lembra a professora.

De poucos anos para cá, o ressurgimento dos blocos no bairro da Penha têm possibilitado aos moradores reviver uma época áurea, em que se brincava o carnaval com tranquilidade. Graças a iniciativas como às do militar reformado da Marinha, Arizoli Carvalho, conhecido como Ari, e outros amantes do samba. Ele dedica seu tempo livre para trazer um pouco da antiga alegria carnavalesca da Zona Norte. “Durante anos, saía daqui para os blocos na Zona Sul. Enquanto surgiam cada vez mais agremiações do outro lado do túnel, a Penha e outros bairros da Leopoldina, berço do samba, se tornaram verdadeiros retiros espirituais. Não se via nem uma criança fantasiada, nenhum bloco sequer passava, a não ser o Cacique de Ramos. Todos foram caindo no ostracismo e desaparecendo por conta da falta de patrocínio e da violência”, conta Ari, que também é o idealizador da Banda Devassa.

No ano passado cerca de 3 mil pessoas participaram do desfile

No ano passado cerca de 3 mil pessoas participaram do desfile

Fundado em 2011, o bloco, que se concentra na Rua Patagônia arrastou 3 mil pessoas no ano passado. Ari comemora: “Ver as crianças se divertindo na nossa área e reviver esses momentos da nossa juventude é muito recompensador”, diz, garantindo que colocar um bloco na rua dá trabalho: licença da Prefeitura, da Riotour, legalização, estatuto, CNPJ, contatar as autoridades além de licenças do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar entre outros órgãos responsáveis pela organização do evento.

As histórias de um carnaval lúdico e organizado deixa saudades nos moradores antigos. O taxista Raul Mota, ex-morador da Penha Circular se recorda dos blocos tradicionais da Leopoldina, como “O Carinhoso” e o o “Preguiça de Olaria”, onde, segundo ele,  todos saíam de camisolão e tamanco: “Era o maior barulhão. Ali misturavam o pessoal do Cacique e o da Imperatriz Leopoldinense. Hoje em dia a Zona Sul já não comporta mais tantos blocos e temos que fixar as pessoas em seus bairros, é um bom negócio para o poder público e para a população”, opina Raul, que durante anos também levava seus três filhos para pular o carnaval no Centro.

Estudioso do samba na cidade do Rio, o jornalista Alberto Barbosa também tem saudade das manifestações carnavalescas populares nas ruas do seu bairro. Para ele, os blocos de rua foram acabando nos subúrbios por conta do crime e devido à falta de investimento da prefeitura: “O resultado é essa confusão de deslocamento e tumulto no trânsito pelas ruas da cidade. O governo não promove o carnaval nos subúrbios pela falta de visibilidade. Não há interesse porque a mídia está no Centro e na Zona Sul”, critica.

Réplica da Ponte da Torre de Londres foi o Coreto Oficial do Carnaval de 1948 na Penha. (Foto: Divulgação/Ney e Paulo Regal)

Réplica da Ponte da Torre de Londres foi o Coreto Oficial do Carnaval de 1948 na Penha. (Foto: Divulgação/Ney e Paulo Regal)

A professora e jornalista aposentada Denise Gomes brincou muito na Avenida Luziânia, no bloco “Carinhoso”. Fundada por seu primo Maurício Marinho, a agremiação foi fundada em 1977 e acabou em 1987, com o surgimento da guerra de gangues de comunidades próximas. Mas o Carinhoso teve seus dias de glória, alcançando boas colocações nas disputas promovidas pela Federação de Blocos Carnavalescos do Estado do Rio de Janeiro. “Era um bloco muito simpático, que chegou a se apresentar e a concorrer com grandes escolas de samba na Avenida Lobo Júnior. Os foliões se fantasivam, tinham várias alas, era um bloco irreverente, mas muito família. Me vem à memória os coretos, que disputavam grandes concursos, e ficavam na frente da minha casa”, conta Denise. O presidente da federação, Isaldino Gonçalves, relembra apresentação do “Vai Barrar. Nunca!” e do “Carinhoso”, em Bonsucesso: “O carnaval era pacífico, não tinha esse vandalismo que vemos hoje em dia nos blocos”.

De acordo com Barbosa, as pessoas comprometidas com o samba e o carnaval estão fazendo ressurgir a festa mais popular do Rio nas ruas da Penha. Ele ressalta que o grande diferencial dos blocos da Penha era a organização, já que o trabalho não se resumia só ao carnaval, mas se estendia durante o ano todo. “Durante a festa da Penha, os barracões das escolas de samba apresentavam seus enredos e todas as agremiações se reuniam. Tia Ciata tinha a barraca mais famosa da festa, e lá ela mantinha contato com os compositores famosos da música brasileira, como Donga, Pixinguinha, Ary Barroso, que fez duas músicas para a Penha. O carnaval nas ruas da Penha têm que ressuscitar e mostrar as origens dessa região, tão ligada ao samba e à tradição carnavalesca”, finaliza.

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