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Chapadão tem tuberculose multirresistente

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Foto: Tamiris Barcellos
Em setembro deste ano foi registrado o primeiro caso de tuberculose multirresistente em uma criança do Estado do Rio. A doença foi diagnosticada no Morro do Chapadão, em Costa Barros, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro. A tuberculose multirresistente, também chamada MDR-TB, é a forma mais grave da tuberculose, e se caracteriza pela sua resistência ao tratamento básico. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, são registrados anualmente 71 mil casos novos de tuberculose, e cerca de 4 600 mortes ocasionadas pela doença. Os casos de tuberculose multirresistente, embora mais raros (607 doentes registrados em 2010), acusaram um aumento de 82% na década de 2000-2010, o que preocupa especialistas do setor.

No seu último relatório sobre a MDR-TB, publicado em outubro, a organização internacional Médicos sem Fronteiras alerta sobre os recordes preocupantes da doença no mundo, que tornou-se a segunda maior causa de mortalidade depois do HIV, com 1,4 milhões de mortes por ano. Na maioria dos casos, a MDR-TB se desenvolve quando o tratamento da tuberculose não é administrado com a devida regularidade ou quando é interrompido – a transmissão de pessoa a pessoa é mais rara.
Foto: Michele CostaA localidade onde foi descoberta a criança com tuberculose multirresistente é coberta pela Clínica da Família Manoel Fernandes de Araújo “Seu Neco”, que atende cerca de 22 500 habitantes. Segundo dados da unidade de saúde, que abriu em 2012, já foram identificados 22 moradores com tuberculose no setor. Anna Luyza, 10, desenvolveu a forma multirresistente devido a um acompanhamento irregular da doença. A criança foi diagnosticada com tuberculose pela primeira vez no início de 2011, e recebeu tratamento no centro de saúde de Vila Isabel, onde morava com a mãe. Todavia, a mãe de Anna Luysa “abandonou o tratamento”, conforme relata Maria Rosa Lopes Nestor, avó da criança. A doença voltou então a se manifestar em meados de 2012. Com febre, tosse e perda de peso, a menina chegou a ser internada no Hospital do Fundão, antes de receber alta e medicações para continuar o tratamento em casa. Hoje, Anna Luysa está sob a guarda do pai, Luiz Fernando de Melo Nestor, e se apresenta diariamente à Clínica da Família com a avó, para tomar a medicação injetável receitada para seu caso.
18 meses a 5 anos de tratamento
De acordo com o médico Lucas Freitas Xavier, que trabalha na unidade de saúde de Anna Luysa, o tratamento mínimo para tuberculose é de seis meses. Já a tuberculose multirresistente é mais difícil de diagnosticar e de tratar. “Nesse caso, tem que fazer uma nova cultura do escarro e a pesquisa de BAAR para ver qual é o tipo da bactéria”, disse o especialista, que em função dos resultados prescreve nova medicação.
Segundo a organização Médicos sem Fronteiras, este tratamento, mais tóxico, cura apenas em 50% dos casos e costuma estender-se por muito mais tempo, de 18 meses até 5 anos. O baixo índice de cura é, no entanto, estreitamente ligado às falhas no acompanhamento da doença. Para estimular os pacientes a não abandonarem o tratamento no meio do caminho, todo o acompanhamento da tuberculose é feito pelo Sistema Único de Saúde, por meio do programa Atenção Básica de Saúde. Os pacientes recebem medicamentos, que são administrados por agentes comunitários de saúde. As clínicas oferecem ainda o exame Raio-X e o teste PPD (Derivado Protéico Purificado), que serve para detectar a existência do bacilo de Koch, causador da doença.
Populações carentes mais vulneráveis
Foto: Mailde RochaGeso Pinheiro, 64, também morador da região, teve a infelicidade de sofrer com a tuberculose por duas vezes. O primeiro diagnóstico foi feito em 1992. Geso conseguiu curar-se na época, seguindo o tratamento até o fim. Em janeiro deste ano, porém, a doença voltou. Sua medicação é entregue em domicílio por um agente comunitário de saúde, que também confere se o idoso faz a ingestão do medicamento ao longo da semana. Nos fins de semana, a tarefa fica a cargo da família.
A reincidência da doença na vida de Geso, no entanto, não é simples questão de má sorte. A propagação da tuberculose está intimamente ligada às condições de vida da população. Como todas as doenças infecciosas, ela prolifera em áreas de grande concentração humana, com serviços de infraestrutura urbana precários, e onde coexistem a fome e a miséria. No caso do idoso, as condições de moradia são precárias: a casa é escura, tem cheiro forte de mofo e ainda está em obras. O neto de Geso, Oziel Pinheiro, de 21 anos, mora com o avô e também contraiu a tuberculose. Ambos não correm mais o risco de transmitir a doença porque estão em tratamento.

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