Single Blog Title

This is a single blog caption

Baile esbanja charme no viaduto de Madureira

Share on Facebook0Tweet about this on Twitter

Fotos: Guilherme JuniorEra fim do verão de 2012 quando boa parte dos telespectadores brasileiros começava a assistir uma nova saga no horário nobre.  A novela não demoraria para galgar a audiência. Ambientada no subúrbio do Rio de Janeiro e num lixão de mentirinha, a trama do autor João Emanuel Carneiro, “Avenida Brasil”, tornou-se fenômeno de público e  até o último capítulo, em outubro do mesmo ano.

Naquela época, Dj Michel mal poderia supor que Madureira, bairro conhecido pelos diversidade de movimentos culturais, entraria para a lista de destinos turísticos da cidade e que a novela multiplicaria o número de frequentadores do famoso baile charme embaixo do Viaduto Negrão de Lima, o velho viaduto de Madureira,  onde Michel discoteca como residente há vinte anos.

Orgulhoso por comandar um dos bailes mais cotados pelos adeptos do “passinho do charme”, Michel assegura que  o baile do viaduto já figura como referência cultural de Madureira, talvez de todo subúrbio. “O baile ficou parado três semanas por causa de uma reforma pra melhorar a segurança do local. Um frequentador me parou na rua e disse que já estava ficando doente por não poder ir para o viaduto nas noites de sábado. Foi daí que percebi a importância do meu trabalho e desse espaço.” Ele acredita que, do ponto de vista cultural, para Madureira o baile do viaduto é tão importante quanto as escolas de samba Portela e Império Serrano, além do Jongo da Serrinha.

Na novela, o “Baile do Divino”, nome fictício para o baile do viaduto, tinha o personagem Darkson (José Loretto) como um dos dançarinos de charme morador do Divino, bairro inspirado em Madureira.  O ator teve aulas com dançarinos para compor o personagem “charmeiro”. Dj Michel conta que depois que personagens como o Darkson começaram a aparecer em cena, o número de visitantes subiu gradativamente. “Antes da novela, nós tínhamos um público de 90% de nativos e os 10% restantes eram visitantes. Depois que o baile começou a aparecer na novela, o número de visitantes subiu para 40% e o pessoal local, que já não vinha há algum tempo, voltou.” Adriano, 37 anos, frequentador desde os 15, confirma as palavras do DJ. “Vinha direto pro baile charme, mas dei uma parada. Voltei depois que ele começou a passar na novela.”

No carnaval de 2013, a Portela teve Madureira como enredo e o viaduto, claro, não poderia ficar de fora. A escola teve uma ala e um carro alegórico dedicados ao movimento, com grande influência da cultura negra dos Estados Unidos.

No viaduto, “chapinha” não tem vez

Não é difícil encontrar meninas com um visual transado e com penteado “Black Power” sob o viaduto Negrão de Lima. Algumas dizem que o baile charme é onde os negros do Rio se encontram verdadeiramente. Assumir o cabelo crespo é mais que uma atitude. É encarar o preconceito de frente, sem medo de crítica. No viaduto, chapinha não tem vez. “Lá fora eu sinto certo preconceito por eu ter cabelo natural. Sou mais uma que jogou a prancha fora e decidiu usar um penteado mais raiz. Aqui me sinto em casa. Somos família. Todo mundo se conhece e se respeita”, conta Ana Paula, que é técnica em radiologia.

A estudante Kirse Lima, frequenta o baile há quatro anos. Nele conheceu seu namorado. Ela observa que, historicamente, é no subúrbio que se encontra número maior de afro-brasileiros. E nos bailes charme, que acontecem em guetos, a tendência é os negros serem maioria entre os frequentadores. Mas a presença de outras raças não a incomoda, diz ela: “A interação entre diversas tribos é característica do espaço.“

Aprender os diversos passinhos ao som de ritmos americanos como R&B e Soul foi um desafio para a estudante Paloma. Não que sejam difíceis, ela explica,  mas porque tem alguns que exigem prática.  “São muitos passos. A melhor escola para aprendê-los é praticando aqui todo sábado.”

SERVIÇO

Os bailes charme do viaduto Negrão de Lima acontecem aos sábados, a partir das 22h. Os ingressos custam R$10, cavalheiros, e R$5, damas (exceto em eventos especiais).

Deixe uma resposta

Parceiros