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Geleia, um artista descoberto na Rocinha

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Geleia vive hoje da venda de telas e da pesca. (Fotos: Mariana Alvim)

Geleia vive hoje da venda de telas e da pesca. (Fotos: Mariana Alvim)

As cores vibrantes, as formas geométricas e os traços negros são a marca das cerca de 300 telas pintadas por José Jaime Costa, 55 anos, mais conhecido como Geleia da Rocinha. O apelido, segundo o artista plástico, foi dado por Nelson Rodrigues, que viu uma semelhança do então porteiro da Rede Globo, com o personagem Guarda Geleia, de Jô Soares. Do serviço que prestava para a emissora, só ficou o apelido. Hoje, Geleia se sustenta da pesca e de sua arte, que envolve restaurações, pintura de faixas, telas e sucata.

A origem de sua criatividade, segundo Geleia, poderia estar ligada a seu próprio nascimento, ocorrido sob o signo de Libra, no dia 27 de setembro, Dia de São Cosme e Damião. As cores, que tanto chamam a atenção em seu trabalho, ausentes apenas da tela “Pássaro Negro” remetem, segundo o próprio, à sua alegre infância na Rocinha. “Eu fiz tudo o que uma criança precisa para ser feliz: brinquei de bola, pipa, pique”, conta.

A vivência na favela, no entanto, nem sempre lhe abriu portas. “Para o mercado, o pintor do morro tem que pintar uma favelinha e vender a tela a R$ 30, no pé do morro. Um artista com trabalho diferenciado não é reconhecido e nem tem recursos para estar nas melhores galerias e chegar aos grandes compradores”, reclama Geleia, que hoje mora em uma casa-ateliê, em São Gonçalo.

O artista deixou a Rocinha em busca de mais espaço para seu ateliê, mas a favela não saiu dele. Os barracos serão o tema de um dos próximos trabalhos de Geleia, que quer explorar artisticamente a estrutura de uma moradia característica de comunidades. Ele e seu agente, Marco Antônio Teobaldo, planejam também montar uma exposição com uma série de mais de 40 telas, intitulada pelo artista como “Contorcionistas”. Três destes trabalhos estão expostos na Galeria Pretos Novos, na coletiva “Os brutalistas”.

Aulas de artes para crianças

O colorido das telas de Geleia chama a atenção

O colorido das telas de Geleia chama a atenção

O talento de Geleia nem sempre esteve nas ruas. Ele foi descoberto nos idos dos anos 80, quando o artista plástico Galvão Preto ofereceu aulas para crianças da Rocinha e ele, curioso, mesmo adulto, aproximou-se e foi convidado para ser aluno de uma das turmas  que estava vazia e acabou conseguindo crianças para o curso. Galvão notou logo talento em Geleia, que passou a receber encomendas para confeccionar faixas.

Outro acaso o levou a fazer uma parceria com o artista Gringo Cárdia, que estava a procura de um desenhista para fazer a capa do CD “Omelete Man”, de Carlinhos Brow, de 1998. A empregada de Cárdia indicou Geleia, que acabou assinando a  ilustração da capa.

Artistas importantes, como Iole de Freitas e Franz Manata, acompanharam de perto uma fase da produção de Geleia, que, apesar dessas ajudas, nunca teve interesse em estudar técnicas de artes plásticas. “Não me preocupo com uma evolução. Minha preocupação é que, assim que eu terminar uma pintura, eu esteja feliz com ela. Não quero sair da minha essência natural no desenho”, conta.

A partir daí, Geleia realizou vários trabalhos, que o levaram até para o exterior. A cenografia do show “Do cóccix ao pescoço”, de Elza Soares, e o painel da fachada da Sala Baden Powel estão em seu portfólio. Mesmo com o reconhecimento de seu talento, a pesca continua sendo necessária para seu sustento e as telas são pintadas em seu tempo livre. O mar e seus personagens estão, inclusive, bastante presentes em sua arte.

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