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Ações culturais revelam jovens talentos no Rio

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O concurso Ação Jovem na Arte Urbana Carioca envolveu 32 artistas, entre 15 e 30 anos. (Foto: Coletivo Galera.com)

O concurso Ação Jovem na Arte Urbana Carioca envolveu 32 artistas, entre 15 e 30 anos. (Foto: Coletivo Galera.com)

Que o Rio de Janeiro é uma cidade multicultural, disso ninguém tem dúvida. A cultura do funk, por exemplo, que antes era vista só entre as vielas e barracos das comunidades, hoje vem conquistando espaço no asfalto. Dificilmente se vê uma danceteria que não toque o “som de preto e favelado” em suas festas, além de entrar em repertórios de famosos cantores de diversos gêneros musicais pelo Brasil. Já o samba permanece como o ritmo mais querido pelos brasileiros. Eventos como as feijoadas das agremiações cariocas e as tradicionais rodas de samba que acontecem em botequins espalhados pela cidade, tornam o ritmo, a identidade cultural brasileira mais conhecida no mundo.

As artes visuais e a cultura audiovisual vêm ganhando destaque na agenda dos cariocas também. Com a inauguração do mais novo museu da cidade, o MAR – Museu de Arte do Rio, e o sucesso de produções brasileiras em salas de cinema, essas duas linguagens já se tornaram populares nos programas de fim de semana do carioca.

Para entender como a cultura no Rio de Janeiro tem se diversificado com tanta naturalidade, o Viva Favela visitou três pontos de cultura onde ocorrem oficinas e eventos na área da música, artes e audiovisual. São eles: as oficinas de DJ do MODU (Movimento Desabafo Urbano), que vêm profissionalizando jovens da Vila Kennedy e arredores; o concurso Ação Jovem na Arte Urbana Carioca, que foi criado para lançar novos artistas plásticos de diversas comunidades do Rio; e o Cinema de Guerrilha da Baixada, que ministra cursos de audiovisual para alunos de escolas públicas e da periferia no centro de São João de Meriti.

Anderson DJ e a oficina de DJ do MODU

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Anderson DJ ensina cerca de 20 jovens. (Foto: Guilherme Junior)

Engana-se quem observa o semblante do professor Anderson ao falar das festas que vêm fazendo durante os últimos fins de semana. Com uma voz grave e um sorriso simpático, o DJ que trabalha à noite e tem seu período diurno para ministrar as oficinas de DJ, muda de expressão quando percebe que um de seus alunos “saíra da linha” no momento em que concede a entrevista. “Eu trato meus alunos como filhos. Dou muito valor à educação e respeito pelo próximo. Se eu percebo que eles fazem algo de errado, vou pra cima deles tirar satisfação.”

Atendendo a aproximadamente 20 jovens, a oficina de DJ da ONG MODU (Movimento Desabafo Urbano) que se constitui de um grupo de amigos que usam a linguagem hip hop como fator de inclusão social, profissionaliza os alunos para que os mesmos possam trabalhar em eventos diversos. “A gente recebe inscrições de jovens do Jardim Bangu, Santa Cruz e até Santa Tereza que é um bairro mais afastado da Vila Kennedy”, diz o DJ.

As oficinas de DJ do MODU são gratuitas. (Foto: Guilherme Junior)

As oficinas de DJ do MODU são gratuitas. (Foto: Guilherme Junior)

A metodologia utilizada por Anderson para que as aulas sejam produtivas são voltadas para a prática, embora o professor acentue que é necessário passar algumas informações teóricas além de ensinar postura e ética profissional aos alunos. “Logo na primeira aula, mostro o CDJ – aparelho digital onde os DJs fazem a discotecagem – passo os fundamentos básicos e os deixo ter contato com o aparelho para que depois de um tempo, eles aprendam a mixar sozinhos”.

Além das aulas práticas oferecidas no espaço CCIK (Centro Comunitário Irmãos Kennedy), Anderson diz que leva os alunos em destaque para sentir na pele o que é discotecar em uma festa. Para que eles estejam aptos a trabalhar sozinhos, precisam praticar e acabam recebendo uma remuneração simbólica após o expediente. “Os alunos já vêm com uma identidade própria. Uns já chegam com vontade de trabalhar com música eletrônica, outros com funk, mas aqui eu os mostro tudo, pois minha maior demanda é de discotecar em festas de aniversários onde o cliente pede diferentes ritmos”.

As oficinas de DJ do MODU são gratuitas e acontecem às terças, quintas e sábados no CCIK (Estrada Sargento Miguel Filho, 371, Vila Kennedy).

Ação Jovem na Arte Urbana Carioca revela artistas em comunidades

O Barraco de Ouro e a especulação imobiliária. (Foto: Coletivo Galera.com)

O Barraco de Ouro e a especulação imobiliária. (Foto: Coletivo Galera.com)

Ao chegar à galeria Largo das Artes, no Centro do Rio, para o lançamento do livro do concurso Ação Jovem na Arte Urbana Carioca, Vitor Galdino reencontra alguns amigos que conheceu em Nova Iorque. Grafiteiro de Campo Grande, zona oeste da cidade, Vitor se emociona ao falar da experiência de participar de uma exposição na Ilha de Manhattan, coração financeiro e cultural de uma das maiores cidades do mundo. Através de suas habilidades artísticas, Vitor, junto com um grupo de artistas, ficou em segundo lugar no concurso promovido pela ONG Fundo Carioca, em parceria com a Brazil Foundation, que tem sede em Nova Iorque. O projeto, sem fins lucrativos, foi uma competição de arte urbana entre jovens do Rio de Janeiro, criada para descobrir talentosos artistas de comunidades de baixa renda.

O concurso teve 32 artistas, organizados em oito grupos, que foram desafiados a criar trabalhos com diferentes linguagens – grafite, pintura, escultura e intervenções urbanas. A finalidade era de promover a arte com uma importância social nas comunidades escolhidas pelos próprios participantes. O projeto envolveu grafiteiros, em sua maioria, mas também pintores, escultores e artistas entre 15 e 30 anos, numa competição que durou dois meses e teve como orientadores os artistas plásticos de renome Alexandre Vogler, Guga Ferraz e Marcio SWK.

A Gente Critica e Faz denuncia uso eleitoral da ZO. (Foto: Coletivo Galera.com)

A Gente Critica e Faz denuncia uso eleitoral da ZO. (Foto: Coletivo Galera.com)

Dentre os projetos artísticos aprovados pelo concurso, destacaram-se o Barraco de Ouro, que foi realizado na Rocinha e teve como objetivo discutir a especulação imobiliária da cidade, e o projeto A gente critica e faz, elaborado por jovens da Zona Oeste e desenvolvido no bairro de Campo Grande: a ação envolvendo a reforma de uma praça e uma performance buscou criticar os políticos que vêem a Zona Oeste como um curral eleitoral onde buscam votos em período de eleições, abandonando seus eleitores após conquistarem suas candidaturas. A Zona Portuária foi o local escolhido pela equipe do Morro da Providência para desenvolver o projeto Cavalo-de-Troia, uma escultura-andante em fibra de vidro e madeira, com três metros de altura, que visava discutir as remoções de moradores para as obras de revitalização dessa área. Um verdadeiro “presente de grego” que a população foi obrigada a aceitar.

Os três projetos ficaram em primeiro, segundo e terceiro lugar, respectivamente. Um jovem de cada grupo foi contemplado com uma viagem para Nova Iorque, onde foi realizada a exposição do concurso em dezembro de 2012. Vitor Galdino, representante da equipe “A gente critica e faz” foi um desses contemplados. “Foi super legal conhecer a sede da Brazil Fundation em Nova Iorque. Fiquei lisonjeado em fazer quadros e expor em uma galeria da cidade. Apesar da cultura do grafite ter vindo dos EUA, a repressão é grande pelas ruas, mas há um grande incentivo das autoridades para se fazer trabalhos em tela e expô-los em galerias”, conta o artista emocionando-se. O livro lançado no Largo das Artes teve uma tiragem pequena para presentear os jovens participantes.

Cavalo de Tróia protesta contra remoções em favelas. (Foto: Coletivo Galera.com)

Cavalo de Tróia protesta contra remoções em favelas. (Foto: Coletivo Galera.com)

Charles Siqueira, organizador do concurso, demonstra através de um grande sorriso o sucesso do projeto. “Fiquei muito feliz com o resultado. Esse já é o segundo concurso que criamos. O primeiro foi de fotografia. Com este último, conseguimos criar um grande grupo de jovens artistas, que hoje são amigos e parceiros de trabalho, e já estamos pensando no terceiro concurso, cuja linguagem será contação de histórias. Espero que tenhamos o mesmo sucesso.”

Para quem tem curiosidade em ver os trabalhos ao ar livre, alguns murais estão espalhados pelas comunidades da Rocinha, Grota, no Complexo do Alemão, Morro dos Prazeres, Morro do Turano e na estação de trem de Campo Grande.

Cinema de Guerrilha, a Baixada cinematográfica

Reunião da ONG Cinema de Guerrilha da Baixada. (Foto: Guilherme Junior)

Reunião da ONG Cinema de Guerrilha da Baixada. (Foto: Guilherme Junior)

A apenas cinco minutos da estação de metrô da Pavuna, no centro comercial de São João de Meriti, zona metropolitana do Rio, acontecem as reuniões do Cinema de Guerrilha da Baixada. Ao chegar ao Bar do Caramujo, sede das oficinas de audiovisual da ONG, encontramos o cineasta Cavi Borges, famoso pelas produções independentes e pela locadora de filmes raros, a Cavideo, localizada no bairro do Humaitá, Zona Sul do Rio. Numa típica conversa de botequim com um dos fundadores do CGB, Ricardo Rodrigues, Cavi conta suas peripécias depois que descobriu sua vocação para cineasta. A conversa é toda registrada por câmeras e uma parafernália de equipamentos de audiovisual conseguida através da venda de rifas pelos componentes da ONG. A entrevista se estende pela noite, acompanhada pelos olhos e ouvidos atentos dos alunos. É assim toda segunda-feira, dia em que todos se reúnem para aprender a trabalhar com produções audiovisuais.

“O Cinema de Guerrilha surgiu num domingo de junho, em 2011, no Bar da Sopa. Estávamos com uma pequena câmera que ganhei – e que iria vender – como premiação no IV Festival Internacional Cine Cufa – 2010. Caiu uma abelha no copo de cerveja do ator e cantor Fernando Silva quando o Vitor Gracciano (ator-diretor-editor) resolveu filmar a luta pela sobrevivência daquele inseto. Depois filmamos uma esquete baseada nesse acontecimento, que o Vitor rapidamente editou e colocou trilha sonora. Daí surgiu o curta A Dona Irosnildes. Foi onde desisti de vender a câmera e assim dar início ao movimento Cinema de Guerrilha da Baixada”, conta Ricardo Rodrigues.

Alunos do CGB já atuam em pequenos papéis na TV. (Foto: Guilherme Junior)

Alunos do CGB já atuam em pequenos papéis na TV. (Foto: Guilherme Junior)

Os curtas metragens produzidos pelo CGB já são figurinhas carimbadas em festivais do Brasil e do mundo. As produções já participaram de cerca de 90 festivais, graças à determinação de Ricardo Rodrigues: “desde 2010 que me determino a mandar nossos filmes para todos os festivais possíveis. Enquanto o filme puder ser inscrito, eu envio, na tentativa de participar. Nunca desisto de fazer com que o filme ganhe seu espaço.”

Ricardo enfatiza a importância do cinema na construção social do indivíduo: “Viver a magia do cinema já constrói um ser humano diferente. Toda a arte em si é imprescindível para essa construção social, assim como o esporte”.

As oficinas do CGB têm por objetivo profissionalizar jovens de escolas públicas e moradores de periferias do Rio, que não pagam para frequentá-las. Para os demais, é cobrada uma mensalidade simbólica de R$ 20,00. Muitos alunos já trabalham em pequenos papéis na TV e o próximo passo é formar roteiristas, cinegrafistas, maquiadores e figurinistas, entre outras funções para o cinema. Os interessados podem comparecer ao Bar do Caramujo, na ciclovia do Centro de São João de Meriti às segundas-feiras, a partir das 19h.

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