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Ausência do poder público prejudica transporte em Paquetá

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Fotos: Mariana AlvimUma ilha já é, por natureza, isolada. No entanto, os moradores da Ilha de Paquetá parecem ter ficado, nos últimos anos, ainda mais separados da cidade do Rio de Janeiro devido à ausência de alguns serviços públicos, como o transporte. Na opinião de boa parte dos moradores, o serviço da CCR Barcas, único a transportá-los ao centro do Rio, melhorou, mas ainda precisa mudar. No que diz respeito ao transporte dentro da ilha, falta uma presença mais efetiva do poder público e a regulação de tradicionais formas de locomoção.

Na área com aproximadamente 1,2km², os cerca de 4.500 moradores se locomovem a pé, de bicicleta, com eletrotáxis (uma espécie de triciclo elétrico) e com o “trenzinho” (algo como um bondinho rebocado por um trator). As charretes estão diariamente circulando pela ilha, mas são usadas, sobretudo, por turistas.

A começar pela pavimentação, ela é problemática com chuva ou sol. “Calçada aqui não existe. Quando chove, há muita lama, e quando há sol, muita poeira”, contou o morador Marcos Madeira, que carregava sua filha em um carrinho. A prefeitura, ao que parece, não tem planos para solucionar a questão, já que a Secretaria de Conservação afirma que “grande parte das calçadas são de responsabilidade dos proprietários das casas”.

As calçadas na ilha são poucas, estreitas e mal-conservadas. De acordo com Sylvio de Oliveira, presidente da Associação de Moradores da Praia Morena, os deficientes físicos dependem dos ecotáxis, que não têm gratuidade e cobram R$4, independentemente do percurso. O veículo tem um custo inferior ao dos combustíveis tradicionais (como álcool e gasolina), mas por não haver qualquer regulamentação por parte do poder público, fica difícil avaliar se o valor cobrado é justo ou abusivo. Segundo o ecotaxista Ednard Lima Pereira, o gasto diário com bateria é de cerca de R$8-10.

A vereadora Laura Carneiro propôs um projeto de lei que regulamenta os eletrotáxis, mas este ainda não foi à votação. O prefeito Eduardo Paes, ao visitar a ilha, em julho, afirmou que iria legalizar esta forma de transporte, mas, segundo a Secretaria Municipal de Transportes, este projeto ainda está em estudo. Enquanto isso, moradores apontaram problemas como menores dirigindo, excesso de velocidade e má-conservação dos carros. Segundo um funcionário da Câmara Municipal, que preferiu não se identificar, o controle do preço dos transportes cabe ao Executivo logo, não estaria na alçada do projeto de Laura Carneiro.

Há também a opção do “trenzinho”, que acompanha os horários das barcas, mas, de acordo com o morador Marcos Madeira, este frequentemente não funciona, pela má-conservação.

As charretes, movidas por cavalos, não são utilizadas pelos moradores no dia-a-dia, mas ganham deles atenção significativa por sua polêmica. Em julho, a Secretaria de Promoção e Defesa dos Animais chegou a proibir a circulação deste meio de transporte na ilha por denúncias de maus tratos aos cavalos. Hoje, no entanto, ele permanece liberado. De acordo com a psicóloga Silvia Gonçalves, ativista pelos direitos dos animais na ilha, a cocheira onde ficam os cavalos está interditada desde 2010 por estar parcialmente destruída. Segundo ela, os animais ficam em contato direto com esgoto e passam por maus tratos como excesso de peso e chicoteamento.

Alex Araújo, 40, e Luís Fernando, 59, fazem coro àqueles que apontam as charretes como uma tradição da ilha. “É só você olhar para os cavalos e ver que eles são bem tratados. Uma ou duas pessoas não tinham cuidado com os animais, mas hoje elas não trabalham mais”, contaram os condutores das charretes. Para Silvia, no entanto, mesmo que haja fiscalização, a atividade em si já tira a liberdade dos cavalos. “A tradição não pode prevalecer sobre a vida dos animais”, afirmou a ativista. Trazendo a polêmica para o plano global, cabe lembrar que boa parte das cidades turísticas do mundo mantém ainda hoje este tipo de passeio a cavalo, como Nova York e Londres, por exemplo.

O frentista William Silva de Sousa, 49, que não gosta do mau cheiro deixado pelas charretes, afirma que já foi pior sair da ilha. Para ele, depois que a CCR Barcas aumentou o número de saídas e trocaram as embarcações, ainda neste ano, não há nada a reclamar. Ele, no entanto, trabalha à noite e, por isso, pega o fluxo contrário do resto dos moradores. Situação bem diferente de Marileide Gomes, que diz que as barcas não comportam a demanda do horário de maior procura. Ela contou que já foi parar no hospital com aumento de pressão por não conseguir embarcar e que já recebeu notificação do trabalho por chegar atrasada. “A grade de horários é suficiente, mas a capacidade e a qualidade, não”, afirma a telefonista, referindo-se à má-conservação das embarcações.

De acordo com a CCR Barcas, hoje acontecem 16 viagens por dia na linha, o que corresponde a 72% a mais do praticado anteriormente. O tempo de viagem também foi reduzido, passando de 70 para 40 minutos. Os intervalos entre cada saída da ilha variam de 1h a 1h30. Assim, o professor Leonardo Couto, que ficou de fora da embarcação que saía às 8h de uma quarta-feira, teve que esperar até 9h30 pela próxima saída. Ele conta que foi a terceira vez que isso aconteceu, em apenas duas semanas. “Com certeza eles deveriam ter um lugar pra mim, afinal eles prestam um serviço”. Os moradores afirmam que o verão, as segundas-feiras (quando os veranistas vão embora) e o início do mês (quando os moradores vão fazer compras fora da ilha) são os períodos mais críticos.

Em sua visita à ilha, o prefeito Eduardo Paes prometeu dar maior atenção à localidade. “Essa cidade é enorme e eu reconheço que Paquetá acaba saindo prejudicada, é uma ilha, o deslocamento não é täo fácil, e a gente acaba ouvindo mais o grito de outras áreas do Rio. Vou criar uma frequência de visitas e pelo menos a cada seis meses vir aqui”, afirmou a sua assessoria.

De acordo com Sylvio de Oliveira, a prefeitura tem sido receptiva quanto às demandas da associação. No entanto, projetos como a presença de guardas municipais e a regularização da velocidade das bicicletas elétricas enfrentam a lentidão e a burocracia características do poder público brasileiro.

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