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Tem crepe pra todo mundo no subúrbio

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No bairro Riachuelo, zona norte do Rio de Janeiro, que liga o Centro do Rio ao Subúrbio e faz o eixo Jacarézinho e favela do Rato Molhado, os frequentadores da Praça Dom Bosco podem saborear uma iguaria nada comum no dia-a-dia deles. 

Fotos: Landa AraújoTem cachorro quente, espetinho, salgadinho, pipoca, balas, doces e bolos. Mas só tem os crepes do Francisco. O negócio começou há pouco mais de cinco meses, mas o “Trailer Linha do Crepe” já passou pela Praça do Arará, em Benfica, e foi vizinho do Jacarezinho, no bairro conhecido como Rocha.  “Aqui eu nunca fui assaltado, trato todo mundo bem e vendo até 20 crepes por dia. Faço questão de manter a qualidade no atendimento e nos produtos”, diz Francisco Moreira, mais conhecido como Chico. Ele conta como foi o “namoro” com o espaço.

Também com crepes, ele era sócio em uma pequena barraca, que ficava muito próximo da praça. Já havia feito uma tentativa de alugar o trailer, cuja dona tinha uma venda de flores no local. Depois, ali passou a ser uma sorveteria, mas também não deu certo e foi aí que ele fez uma nova proposta para alugar o espaço. “Eu sabia que esse espaço era meu (risos)”, afirma.

O clima da praça é tranqüilo, recebe moradores do entorno, do Jacarézinho e do Rato Molhado.  Apesar de ter um histórico de grande número de usuários de crack próximo ao bairro, Chico diz que nunca viu ou sofreu algum inconveniente com os dependentes químicos e foi muito bem recebido pelos moradores locais.  

Nordestino, Chico tem 30 anos e é o quinto filho de sete homens. Em 2000, diretamente da cidade de Dona Inês, na Paraíba, chegou ao Rio já conhecendo as comunidades da Rocinha e de Benfica, onde os irmãos moravam. Mas foi em Benfica que marcou seu território.

O aprendizado vem de muito tempo, logo que chegou foi trabalhar como crepeiro em uma lanchonete referência no Rio.  O irmão, Amauri Araújo, gerente do estabelecimento, o indicou para a primeira empreitada:

“Olha, ele foi meu aluno, só que até hoje ainda não encontrei um crepeiro do porte do Francisco, é o mais organizado e de um acabamento sem comparação. Defino-o como um mestre”, diz Amauri, orgulhoso. E completa: “Engraçado (risos)… quando o Francisco foi pro salão de atendimento pela primeira vez, nossa caixinha dobrou. Ele nasceu pra isso.”

Quem quer Crepe?

Os sabores são variados. Tem do clássico queijo com presunto até o mais sofisticado doce, com creme de avelã, morango e sorvete. Diferencial é o que não falta em seu trailer. Ele gosta de dar um ar requintado e capricha no uniforme de mestre cuca – com direito ao chapéu, também conhecido como toque. “Eu acho que com o uniforme, os meus clientes me veem com mais profissionalismo, me respeitam e confiam no meu negócio”, diz.

"É um atrativo que faltava por que a praça era morta. Eu como sempre, três, quatro vezes por semana", diz a cliente Joyce Azevedo, 23 anos.

Em seu cardápio, as bebidas são cruciais. Vinhos – tinto ou branco – servidos em taças de plástico para acompanhar os crepes: “fica melhor para transportar e não perde o charme”.  

 “Isso aqui (o crepe) é minha cachaça, eu não consigo largar. Amo o que faço”, diz Francisco.

A vizinhança já até esboçou a necessidade de melhorar a praça para combinar com o espaço gastronômico.

Bianca Abrahão acompanha os crepes de Chico desde de que ele tinha o empreendimento anterior e sempre que pode traz outras pessoas para conhecer o espaço, como a irmã, moradora da Tijuca. " Eu gosto muito dos crepes, veio para inovar, engrandecer o espaço. O Chico é um cara cem por cento e muito higiênico", diz.

Chico faz questão de manter tudo limpinho, organizado, na ordem. Os produtos são comprados diariamente, para manter a qualidade. E os moradores curtem o crepe até naquela saidinha de baile. “Aqui eu tenho que ir conforme a maré me leva. Trato todo mundo com respeito e sou respeitado, nunca fui destratado por ninguém”, diz Chico.

Morador de Benfica, na comunidade do Arará, Francisco já trabalhou na praça perto de casa e viu que dava certo inovar com crepe na comunidade: “No começo fiquei preocupado em não vender muito, eu saí de uma sociedade no bairro do Rocha e abri meu negócio com a cara e coragem, mas logo vi que ele ia adiante”, revela.

Inovação para Ensinar e Produzir

Foto: Arquivo pessoalDesde 2005, Francisco dá aulas de crepe no Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes – SindRio. Ele também utiliza uma ferramenta feita por ele mesmo: desde que a Vigilância Sanitária proibiu o uso do rodo de madeira para a confecção de crepes (2008), Chico faz os rodos de politileno para substituí-los.  

O crepeiro também inspira os alunos a serem pró-ativos e irem em busca de seus ideais. "Ele é uma pessoa muito segura, passa com convicção os seus conhecimentos. Eu abri, há quase um ano, uma creperia que faz o maior sucesso em Belo Horizonte e tudo que eu aprendi foi com ele que me deu todas as dicas que eu precisava. Com muita calma e paciência, bem do jeito dele”, diz Thais Nogueira, que teve aula com ele no SindRio em fevereiro de 2012 e o convidou para ser seu consultor ao iniciar o negócio.

Ideais não faltam para Chico, que pretende expandir os negócios e ter uma rede de crepes nas comunidades do Rio. E você? Vai um crepe aí?

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