Single Blog Title

This is a single blog caption

Iguacine se consolida como referência de Festival

Share on Facebook0Tweet about this on Twitter
Iguacine03

A 4º edição do Festival Iguacine apresentou mais de 50 filmes, entre locais e nacionais (Fotos: Divulgação/Iguacine)

A 4º edição do Iguacine, Festival Audiovisual da Baixada Fluminense aconteceu no último final de semana e reuniu, além dos filmes, também alguns debates. Idealizado pela Escola Livre de Cinema (ELC) de Nova Iguaçu, o festival homenageou a primeira década da escola com a mostra “ELC 10 anos em 10 filmes”, que apresentou filmes produzidos pelos alunos ao longo deste tempo. Além disso, houve outras duas mostras, a Competitiva Nacional, que contou com 27 filmes de 9 estados e a Competitiva Baixada, que teve 13 filmes de 6 municípios.

“A Escola Livre de Cinema comemora o retorno do festival e espera contribuir com o cenário de audiovisual da Baixada, estimulando cada vez mais a produção de novas narrativas sobre esse território. O Iguacine será uma demonstração do audiovisual como modo de pensar, sentir e agir nesse lugar” diz Luana, coordenadora do Iguacine.

O Iguacine é um festival de oportunidades, tanto para quem apresenta seu trabalho, quanto para quem assiste. Tamires Viana, que mora no Méier, veio acompanhar sua amiga Natália Nascimento, moradora de Nova Iguaçu. O interesse das amigas era pelo filme Kbela, que foi um dos homenageados da noite de sábado, 28. Embora não tivessem assistido aos filmes da Mostra Competitiva Baixada, elas chegaram para o debate que ocorreu após a sessão. Tamires se identificou com o que foi dito durante o debate. “Achei um movimento muito interessante porque trata de questões sociais que não são faladas – e eu sou desse meio, sou moradora de comunidade e a gente não vê as pessoas com essa identidade, elas acabam se excluindo”, referindo-se à temática do filme Kbela, que trata da questão da aceitação do cabelo crespo.

Iguacine06

Taiane Linhares, diretora e produtora do filme Tear

Diretora e produtora do documentário Tear, Taiane Linhares, teve a oportunidade de mostrar um pouco da história de Santo Aleixo, em Magé, local onde sua família se estabeleceu há anos. O instinto inicial para a produção do documentário foi a busca por um laço de identificação entre ela e Santo Aleixo. Assim como o as novas práticas do audiovisual hoje em dia, Taiane conseguiu produzir o documentário de forma bem independente. Em apenas duas visitas ela conseguiu as entrevistas necessárias para o filme: a primeira foi para se apresentar e a segunda já para gravar. A diretora ainda teve a sorte de contar com a colaboração dos moradores do local. “Na verdade só uma pessoa não quis contar sua história, porque ela passou pela ditadura e ficou com sequelas. Ainda era trauma muito grande, ela foi torturada. Mas a maioria das pessoas nos recebia muito bem e viam na oportunidade de contar a história uma espécie de terapia”, conta.

“Daniel’s Bar Astral, Magia e Você” é um filme produzido por Daniel Guerra e Paulo China e resgata um pouco a história da cidade de Nova Iguaçu. O filme dá conta da trajetória de um local de encontro surgido em 1989, onde as pessoas podiam falar de teatro, de música ou do que fosse interessante na época. Essa foi a primeira participação de Daniel no Iguacine e ele vê no festival uma oportunidade de abrir outros caminhos além da música e teatro. “Um festival de suma importância para Nova Iguaçu e Baixada pelo fato da nossa sociedade estar necessitando de abrir outros leques e outras vertentes não só da questão musical, do teatro, mas, o de cinema traz uma reflexão muito mais profunda” filosofa.

Festivais incentivam produções fora do eixo do Centro do Rio 

Iguacine02

Festival contou com público da Baixada e de outros lugares da cidade

Natália Nascimento, mora em Nova Iguaçu desde que nasceu e confessou que tinha preconceito com o local. Estudando na Zona Norte e estagiando na Zona Sul do Rio, Nova Iguaçu era apenas seu dormitório. Em sua primeira vez no Iguacine, para ela o Festival foi uma grata surpresa. “Não tenho muito contato com Nova Iguaçu e nem esperava que daqui pudesse sair coisas boas. Fiquei impressionada! Eu vi pessoas falando que vieram do Anil, vieram de longe para prestigiar o festival e eu que moro aqui nem conhecia. Eu fiquei chateada de não ter visto os filmes mas, eu gostei muito do debate e acho que eu ia ter gostado muito do documentário ‘As Galeras’ e alguns nomes já são conhecidos ali (no documentário)”, conta Natália.

O vencedor na Mostra Competitiva da Baixada por voto popular foi  “As Galeras”, de Juliana Portella, Gabriel Imperiano e Vinicius Freitas. Retratando a relação turbulenta do funk com a cidade, o documentário mostra um momento emblemático do funk carioca: os festivais de galeras. O desejo que os realizadores tinham de discutir a criminalização do funk foi o que motivou a produção. “Queríamos entender como isso acontece. Já sabíamos da existência de um histórico de perseguição – que também é uma forma de racismo já que sabemos que grande parte dos funkeiros é negra e de origem popular. Nosso objetivo, sobretudo, é falar do funk sem intensificar o contexto miséria violência tão explorado pela mídia em geral”, conta Juliana.

Iguacine05

Juliana Portella e Gabriel Imperiano, idealizadores do filme “As Galeras”

As dificuldades para produzir surgiam a todo o momento. “Na fala da Adriana Facina, uma das entrevistadas do filme, quase expulsaram a gente da UERJ. É que o segurança era meio carente de atenção” brinca Gabriel, referindo-se a fala da Doutora em Antropologia que defende o funk como elemento representativo da cultura carioca. Ele diz que só foi possível superar os ‘perrengues’ porque a equipe foi bem intuitiva e criativa. Juliana conclui dizendo que os festivais são as telas que motivam os produtores e que o resultado a deixou feliz. “É uma honra pra mim ganhar um prêmio por júri popular também. Significa que o público aceitou. Bom saber que ‘As Galeras’ levantou a galera”.

Um festival deste porte se consolidar na Baixada Fluminense é um fato muito importante. Para Taiane, existir um canal para desaguar as produções de pessoas que tem a mesma origem faz toda diferença. Segundo ela, quem mora na Baixada tem outra sensibilidade para o “fazer cinema”. “Então acho que a importância é essa a visão, o ponto de vista, a perspectiva de quem organiza o festival ser bastante próxima do ponto de vista e da percepção de quem faz os filmes. Alguns filmes não seriam possíveis fora desse contexto do festival feito aqui na Baixada ou feito por outras periferias. Também essa ideia do que é importante pra gente, o que é relevante pra gente, o que a gente acha que deve ser visto é muito diferente. Ter o Iguacine é muito importante para o que a gente produz seja visto e possa fazer parte de outros festivais”, garante.

Deixe uma resposta

Parceiros