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Favelados 2.0: a importância da cultura maker nas favelas

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Residencia Favelado

A residência acontece no Complexo do Alemão e está com inscrições abertas até o dia 22 de fevereiro (Arte: Bianca Baderna)

Um time de favelados inseridos na cultura de rede e que desenvolvem projetos autorais em plataformas digitais são os donos da bola na residência Favelado 2.0, que acontece a partir de março no Complexo do Alemão. Entre convidados e oficineiros estão Raull Santiago, Thainã de Medeiros, Thamyra Thâmara, Marcelo Mangano, Daiene Mendes, Mayara Donaria, Carla CDD, Kinho Buttered, Enderson Araújo, Ana Muza Cipriano, João Lima,  Luis Henrique e Lucas Pelegrineti. Juntos eles contabilizam milhares de seguidores em suas redes sociais e fanpages, a maioria delas dedicadas a ações dentro de suas próprias comunidades.

A residência tem vagas para 20 jovens (de 15 a 29 anos) e está com inscrições abertas até o dia 22 de fevereiro. A iniciativa pega carona em uma onda que parece estar virando um tsunami dentro das favelas: o jovem maker. A cultura maker (faça-você-mesmo) sempre foi uma característica presente nas favelas, seja pela falta de recursos que acabam potencializando a criatividade, seja pela maior necessidade dos moradores de reinventarem seu cotidiano. O talento para o improviso se mostra nas gambiarras de água, luz e internet, além das construções que são verdadeiros desafios da arquitetura.

Oficina de fotografia Na casa de Cultura Milton Santos

Gambiarras são características presentes nas comunidades (Foto: Vitor Madeira)

E por que não valorizar essas habilidades?  Hoje, alçada ao status de pop, esta cultura vem criando cada vez mais espaços de desenvolvimento de inovação, mas que ainda não se estabeleceram formalmente dentro das favelas.

O Rio de Janeiro vive um momento efervescente neste sentido. Uma pesquisa realizada em 2015 pela Urban Systems deu à cidade o prêmio de maior smart city (cidade inteligente) do Brasil. O prêmio avaliou, entre outras características, a quantidade de domicílios com internet, as conexões de banda larga, os programas públicos de acesso e a cobertura 4G. Apesar deste acesso à internet em algumas favelas ainda ser precário, os jovens, principalmente, seguem criando gambiarras e hackeando as ferramentas para criarem suas narrativas dentro e fora das redes, utilizando smartphones e tablets como extensão de seus próprios corpos.

Segundo Thamyra, idealizadora do projeto GatoMídia, ainda há pouca inserção destes jovens favelados em espaços makers institucionalizados, como laboratórios ou makerspaces. “Eu concordo com a ideia que o corpo é tecnológico, nosso cérebro é o software e o corpo é o hardware. O conceito fechado de maker, que é aquele que desenvolve aplicativos e faz programação é um conceito bastante elitizado, que não abrange a nossa galera que está produzindo tecnologia social. Para mim, um cara que puxa um fio de internet e distribui para a rua inteira é um maker”, explica.

Aperfeiçoar as gambiarras

O designer e maker Marlus Araújo, diz que as gambiarras têm sido cada vez mais valorizadas, mas elas precisam ser aperfeiçoadas. “A maioria das invenções na história começam como um experimento meio gambiarra, mas depois ganham recursos e viram projetos. Quando não se tem recurso, a gambiarra, o protótipo, é a solução final. A nossa sociedade adora enaltecer essa criatividade popular, o famoso ‘jeitinho brasileiro’, por criar soluções para uma vida melhor, amenizar as dificuldades, mas não propõe uma transformação profunda nas relações sociais e de poder”, observa.

Para ele, além de potencializar essa criatividade de quem já hackeia a própria vida, também deveria haver investimentos em espaços de desenvolvimento dentro das comunidades. “Pergunte a um gambiólogo da favela o que ele prefere: ganhar o prêmio gambiarra do ano ou um makerspace na sua comunidade, uma oficina para fazer tudo? É claro que ele vai preferir o makerspace. Isso seria sair da gambiarra e impactar na vida de várias pessoas. Na minha visão, por mais que eu admire as gambiarras da vida, elas deveriam servir apenas como indicador de onde a criatividade deve ser potencializada. Acredito que os projetos de makerspaces públicos, tanto fora quanto dentro das periferias, devem ser estimulados para aproveitar esse potencial criativo e gerar transformações mais profundas na sociedade”, provoca.

Tecnologias sociais para desenvolvimento local 

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Em Campo Grande jovens fazem mapeamento dos problemas da comunidade (Foto: Ives Rocha/Cedaps)

No Rio de Janeiro, uma iniciativa que vem chamando a atenção é o Mapeamento Digital Liderado por Adolescentes e Jovens, capitaneado pelo UNICEF em parceria com o Cedaps (Centro de Promoção da Saúde)  e cuja metodologia já foi replicada em 20 comunidades Brasil afora. Os jovens utilizam smartphones para mapear, através de georreferenciamento, os problemas das comunidades e depois propõem soluções para eles. Patrick, de 15 anos, que participou da experiência em Campo Grande, na Zona Oeste, diz que é fundamental que os próprios moradores possam pensar em alternativas para os lugares onde moram. “Não é todo dia que a gente tem a oportunidade de melhorar nosso bairro, e eu gostei muito de fazer isso. Não é sempre que podemos pensar sobre os desleixos e problemas, ver os buracos e poder fazer alguma coisa. Existem programas da prefeitura que não funcionam, e um projeto como esse mostra que pode funcionar. Se a gente consegue, por que o governo não?”, questiona.

Com proposta semelhante, o aplicativo Nós por Nós está em fase de elaboração. Desenvolvido por jovens do Fórum de Juventudes do Rio de Janeiro, o app promete funcionar como uma ferramenta de autodefesa. “Um aplicativo para que ‘nós por nós’ possamos fazer nossas denúncias e consequentemente construir e consolidar nossa rede de proteção e apoio mútuo”, segundo a descrição.

Favelado 2.0

O Favelado 2.0 tem apoio da Via Varejo e do Common Action Forum e tem como ideia empoderar cada vez mais a cultura colaborativa na favela estimulando cada um a compartilhar conhecimento com outro, além de fortalecer uma cultura de rede local de Favelados Conectados construindo seu próprio futuro. A residência oferece oficinas de fotografia 2.0, roteiro para programa no Youtube, construção de texto criativo, ativismo na web, cobertura colaborativa, social mídia, criatividade 2.0, fanzine 2.0, hackeando o facebook, elaboração de projetos e empreendimento de ideias. Mais informações sobre a inscrição acesse o Facebook.

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