“Escrever é minha terapia”, diz poetisa da Maré
Sara Alves pode ser vista cotidianamente circulando pelas ruas da Penha, onde trabalha como Agente Comunitária de Saúde. A prancheta e papel que fazem parte da rotina de trabalho também serve para que ela rabisque suas poesias entre os intervalos das visitas domiciliares. Sara é poeta e uma das ganhadoras do “Concurso Nacional de Novos Poetas Prêmio Poesia Livre” deste ano.
Ela escreve desde criança, mas a primeira coletânea – chamada “Momentos” – foi lançada em 2013. Este ano descobriu através do Facebook o concurso dos novos poetas e resolveu arriscar. A poesia “Trato Feito” foi escolhida para integrar a coletânea. Nascida e criada no Complexo da Maré, Sara conta sua história utilizando a mesma narrativa que usa em seus textos.
Confira abaixo um pouco do cotidiano da agente comunitária apaixonada pelas letras.
Como foi participar do concurso de poesia?
Foi o resultado de um estímulo recebido de uma grande amiga, Claudia Santos. Ela postou no Facebook a divulgação do concurso com um recadinho de incentivo. Ousei me inscrever e, sinceramente, não acreditava que seria classificada, pois vi que nos anos anteriores do concurso, havia um grande número de inscritos de todo país. A gente tinha que enviar dois para o concurso e eu fiquei muito feliz com a classificação e ainda mais porque o escolhido foi o “Trato Feio”, que fiz em homenagem ao meu marido.
Para mim é muito importante estar entre os poetas do livro “Antologia Poética” com inúmeros poetas e poetisas do Brasil inteiro. Acho que se acreditarmos em nosso sonhos eles se realizam.
Mas você já tinha lançado um livro, não é?
Chama-se “Momentos”, um livro de poesias, ele foi lançado em 2013 e esta realização só foi possível graças à editora Multifoco, em um projeto que se chama Publique, que ajuda novos escritores e escritoras que não têm condições de bancar a publicação de seus materiais.
Por quê você resolveu ser escritora?
Não resolvi ser escritora, a questão da escrita, pra mim, surgiu de maneira natural. Fui descobrindo que em muitos momentos da minha vida, a escrita estava presente e as razões sempre foram e são inúmeras. Estar feliz, triste, ansiosa, pensativa, estressada, alegre, esperançosa, tranquila, em paz. Enfim, a vida em todos os seus sentidos mais complexos e mais simples me convidam a escrever…minha escrita é minha terapia.
Você tem algum outro trabalho além de escrever?
Sou Agente Comunitária da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social/SMDS desde 1988 com muito orgulho! Além disso ou sou Pós-Graduada em Pedagogia Empresarial.
Você mora na Maré há quanto tempo?
Desde que nasci. Vivi minha infância na Nova Holanda, na antiga Rua B, mas em 1982 meus pais se mudaram para a Vila do João, onde eu cresci e moro até hoje.
Como é para você, enquanto moradora da Maré, receber um prêmio desta magnitude?
Sei que não só eu como muitas outras pessoas desenvolvem atividades artísticas, reconhecidas ou não, vivendo somente da sua arte ou não. O que vale a pena ressaltar é que em qualquer lugar do mundo há pessoas diversas com habilidades, competência, necessidades, dons, conhecimento, prática, seja lá o for. Acredito que a arte é uma parceria prazerosa que torna a vida mais leve, mais bonita, mais equilibrada.
Na Maré as pessoas conhecem e apreciam seu trabalho?
O que você chama de trabalho, eu chamo de terapia (risos). Ouvi um dia de uma grande amiga: “Sara, escreve, escreve pra não enlouquecer!!” Aí eu escrevo! Creio que muitas pessoas do meu convívio social conheçam meu trabalho e muitos elogiam. Muita gente também passa a conhecer meu trabalho através do jornal Maré de Notícias, que é o maior canal que eu tenho para divulgar meus poemas, pensamentos, sugestões. No meu trabalho como agente de saúde as pessoas também conhecem – e eu também uso as redes sociais para divulgar o que eu faço.
Quem quiser adquirir o livro de Sara, basta entrar em contato com a Editora Multifoco.