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Endereço é empecilho para conseguir trabalho

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Foto: Walter Mesquita

Escolaridade, curso de idiomas, criatividade, experiência profissional e uma série de outras coisas fazem parte da extensa lista de exigências que as empresas fazem na hora de contratar alguém. Além de se qualificar profissionalmente para conseguir uma vaga, moradores de periferia precisam lidar com outra dificuldade: a distância de casa à empresa. Para eles, lidar com o transporte público e o tempo que levam até o trabalho é uma dificuldade que pode ser superada. Mas, por outro lado, os contratantes temem que não seja uma boa escolha admitir um funcionário que leva mais de uma hora e meia para chegar à firma. Alguns receios são de que o funcionário chegue atrasado por causa do transporte e que o custo da passagem pese para o empregador.

Foto: Arquivo pessoalFuncionária do setor de Recursos Humanos de uma das maiores empresas de comunicação do país, Daniele Rodrigues argumenta que a empresa precisa pensar em alguns aspectos antes de contratar uma pessoa. “O fato da pessoa morar longe, pode sim ser um empecilho, porque ela vai pegar conduções que dão problemas constantemente, o que dificulta sua chegada na hora correta”, argumenta. Ela explica que a empresa precisa contar com os funcionários. Por isso, ter em seu quadro alguém que chegue constantemente atrasado é ruim, pois pode ser que ele não esteja lá quando for solicitado.

Daniele afirma que não é o caso da empresa em que trabalha, mas o fato de ter que pagar mais de duas passagens para chegar ao trabalho pode acabar fechando as portas para quem está à procura de um emprego: “A empresa não quer pagar três passagens para o funcionário, porque é um custo alto. Às vezes você tem duas pessoas bem qualificadas para o mesmo trabalho e, se uma gastar três passagens e a outra duas, vai ficar quem oferecer mais benefícios à empresa”, admite.

Morador do bairro Austin, em Nova Iguaçu, Bismark Salles diz que entende a posição do empregador, mesmo já tendo passado por uma situação assim em 2013. Apesar de informar em seu currículo o local onde mora, sofreu discriminação de uma empresa de Madureira quando foi selecionado. Na época, ele tentava a vaga de vendedor e argumentou que havia uma unidade da empresa na cidade onde mora. “Ele nem me ouviram. Queriam um vendedor para a unidade de Madureira e, por eu morar em Austin, não contrataram”, conta ele.

Mudança fez diferença

Foto: Arquivo PessoalAlém da distância, outra questão que parece incomodar os contratantes é o fato do candidato morar em favelas. Segundo a professora do Departamento de Psicologia da PUC, o preconceito que foi construído ao longo dos anos sobre os moradores de favela persiste, mesmo após inúmeras tentativas de desfazê-lo, é difícil de ser quebrado. “Infelizmente, historicamente as favelas têm marcas profundas do tráfico e da violência e, por isso, as pessoas tendem a generalizar que ‘quem mora na favela é bandido’”, conclui ela.

O preconceito não é de hoje, mas até algum tempo atrás era comum os moradores de periferia buscarem subempregos. A partir do momento em que o acesso à educação foi ampliado através de políticas públicas, as pessoas começaram a se aperfeiçoar através do ingresso a faculdade e, com isso, disputando colocações melhores.

“São pedagogos, advogados, engenheiros, dentre várias outras profissões, que precisam vencer o preconceito e os estereótipos que vivem no imaginário social a respeito do morador da favela. Talvez por isso, hoje o tema esteja mais evidente”, diz Elisa.

Dentro da faculdade, a psicóloga já presenciou relatos dessa realidade, quando um de suas alunas precisou omitir o lugar onde morava para conseguir uma vaga em sua área. “Uma aluna de Pedagogia relatou que para deixar currículo em escolas particulares, pedia a uma tia para colocar o endereço dela, pois tinha receio de colocar o seu próprio endereço e não ser chamada por morar na favela.”

Luiz Augusto dos Santos, 24 anos, sabe o quanto foi difícil retonar ao mercado. Ele que sempre teve dificuldades em conseguir trabalhar próximo de casa, precisava encontrar um emprego que permitisse que ele iniciasse a tão desejada faculdade. Com poucas oportunidades próximas a sua casa, ele começou a buscar vagas cada vez mais longe de casa. Luiz Augusto mora em Nova Iguaçu, e tentou inúmeras vezes, sem sucesso, vagas de emprego em outras regiões do Rio. Até que decidiu trocar o endereço pelo de sua namorada que mora em Curicica, na Zona Oeste. “Quando mudei de endereço, comecei a ser chamado para uma entrevista atrás da outra. Cheguei a fazer nove entrevistas em duas semanas podendo até escolher o que se adequava mais aos horários que eu queria. Encontrei um emprego na Barra da Tijuca duas semanas depois que mudei o endereço”, confirma.

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