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‘Diálogos’ discute situação da Baía de Guanabara

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Baia 5

O Diálogos sobre Baía de Guanabara contou com importantes lideranças que vivem em diferentes pontos do entorno da Baía (Fotos: Amaury Alves)

A quarta edição do “Diálogos Viva Favela”, realizada no dia 10 de novembro, integrou a  conferência “Mar Sem Lixo, Mar da Gente”, promovido pelo Swissnex Brasil. Um dos focos da conferência era discutir o tema “Preservando nossos oceanos: uma corrida contra o tempo” e coube ao Viva Favela abordar o tema de acordo com a perspectiva das favelas.

A questão da Baía de Guanabara ganhou os holofotes desde que o Rio de Janeiro foi escolhido como cidade sede das Olimpíadas de 2016, mas os problemas que envolvem as águas da Baía e a população que vive em seu entorno vão muito além do megaevento. Para conseguir uma abordagem ampla sobre o assunto, o Viva Favela convidou cinco pessoas que lidam com a Baía em seu cotidiano: Bruno Amaral, pescador do Caju; Ricardo Souza, do grupo Carcará, também do Caju; Janete Guilherme, da Ong Mulheres do Salgueiro e Edilene Estevam, do Fórum dos Atingidos pela Indústria do Petróleo e Petroquímica nas cercanias da Baía de Guanabara (FAAP – BG). Para mediar a conversa, o ambientalista e ativista Sérgio Ricardo.

Além do tema inédito, outra novidade foi que pela primeira vez o Diálogos aconteceu fora do auditório do Viva Rio e ocupou o teatro da Biblioteca Parque Estadual, no Centro.

“Quando fomos convidados pela Swissnex, queríamos dar uma abordagem diferente à questão das águas, então, decidimos trazer as pessoas que moram nas áreas do entorno da Baía e são diretamente afetadas em seu dia a dia com problemas causados pelo descaso com a água. De ambientais com impacto social e econômico”, diz o coordenador do Viva Favela, Carlos Costa.

Sérgio Ricardo

Sérgio Ricardo, do Instituto Baía Viva, apresentou a situação da Baía de Guanabara hoje

Segundo dados do Instituto Baía de Guanabara, mais de oito milhões de habitantes vivem em seu entorno, sendo que um terço mora em favelas, a maioria em condições precárias de urbanização. “A ocupação urbana sem planejamento gerou o caos urbano. Hoje, temos um cenário de muita desigualdade”, afirma Sérgio Ricardo, acreditando que haja uma identidade comum a toda esta população que mora nos arredores da Baía, da Zona Sul ou da Baixada.

Reinventar: estratégia possível para a Baía hoje

O derramamento de óleo pelos estaleiros, refinarias e indústrias do entorno; a crescente ameaça à biodiversidade marinha; a falta de diálogo com os principais interessados e afetados pelo desgaste e o enfraquecimento das águas são os maiores problemas que a Baía enfrenta. “Eu costumo falar que o desenvolvimento é isso: ‘des-envolvimento’, ou seja, o não envolvimento das pessoas interessadas”, brinca Edilene, resumindo o sentimento em comum dos integrantes da mesa. “Nunca somos consultados para nada”, reclama, citando alguns planos que começaram a ser desenvolvidos em Belford Roxo, onde mora. Segundo ela, a maior questão hoje é o saneamento, que ainda é precário na região onde ela vive. “Os rios todos são valões. Não adianta fazer grandes investimentos na ponta quando os moradores não tem sequer saneamento básico”, explica.

Na comunidade do Salgueiro, em São Gonçalo, a Ong onde Janete trabalha aproveita alguns materiais descartados na Baía para fazer artesanato e roupas. A favela fica no segundo maior município fluminense, que hoje vive um gravíssimo problema ambiental, mas que em outras épocas foi um dos maiores produtores de pescados do país. “Quando desativaram o lixão que tinha ali perto, muitas mulheres que tiravam o sustento de suas famílias de lá, tiveram de se reiventar”, esclarece. Janete dedicou-se a ajudar a reconstruir a autoconfiança e destas mulheres, treinando-as para serem lojistas e artesãs produtivas. Em 2014, mais de mil toneladas de tecidos, fechos, linhas, aviamentos e botões serviram de matéria-prima. Janete produziu desfiles e ensaios fotográficos com modelos vestindo roupas confeccionadas com sobras das fábricas têxteis da região.

Janete Guilherme

Janete Guilherme apresentou o trabalho desenvolvido pela Ong Mulheres do Salgueiro

Morador do Caju, Bruno Amaral cresceu vendo os avós viverem da pesca. Hoje lamenta outro cenário: embarcações despejando óleo em um lugar que já abrigou a maior frota de barco de pescadores do Brasil, com 150 barcos. “Hoje são uns 10, e só um ou dois vivem da pesca”.

Ricardo Costa, do Grupo Carcará, lembra que no século XIX, o mar chegava até à Casa de Banhos, construção que foi tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 1938 e hoje abriga o Museu da Limpeza Urbana.  Até onde a água do mar chegava, hoje é um estacionamento de carretas. “A Baía entrou neste processo de comoditização, e a nossa herança com o projeto do Porto Maravilha é esta. A população está sendo empurrada para longe da Baía”, reclama.

“A formação da cidadania é fundamental para que possamos políticas públicas que nos aproximem e a sua execução”, conclui Edilene Estevam.

 

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