Comunicadores defendem rádio livre nas favelas
A comunicação alternativa ocupa espaços cada vez mais importantes nas favelas cariocas. Para fortalecer essa prática, a Nave do Conhecimento do Complexo do Alemão recebeu nesta quarta-feira (24) o Encontrão de Comunicadores, que ofereceu uma Oficina de Rádio Livre aos participantes. A troca permitiu um intercâmbio cultural entre comunicadores do Complexo do Alemão e outros de países latino-americanos, como Bolívia, Chile e Peru.
A Oficina de Rádio Livre é uma das iniciativas da Mutirão RIO 2016, que reúne 15 comunicadores independentes da América Latina em tempo de megaeventos. O objetivo é compartilhar diferentes experiências, em territórios que a apropriação do direto à comunicação já existe, mas precisa ser fortalecida. Nessa edição, o parceiro do encontro foi o coletivo Gato MÍDIA do Alemão, que é um projeto de aprendizado em mídia e tecnologia, destinado a jovens de periferias.
Assim como grande parte dos radialistas comunitários das favelas espalhadas pelo Rio de Janeiro, o chileno Omar Andres, que ministrou a oficina de rádio no Complexo do Alemão, é autodidata no domínio do sistema de som. Tudo o que ensinou, aprendeu sozinho. “Nós compartilhamos nosso próprio conhecimento”, explicou ele, que é um dos radialistas voluntários da Rádio Comunitária Villa Olímpica, no Chile.
Apesar da oficina no Rio ter sido realizada na língua castelhana, a reunião aproximou realidades e necessidades de comunicação, com o objetivo comum de instruir os comunicadores presentes a atuarem em seus respectivos espaços, contribuindo para o desenvolvimento local.
Mas afinal, o que é rádio livre?
É um meio que promove, educa, expressa, cria, reconhece e acompanha ações e tudo que as envolve. Suas ferramentas são livres, sua comunicação é participativa e uma grande diferença da mídia comercial é não visar o lucro. “Se pelo menos quatro pessoas escutam o que você fala, uma atmosfera se constroi e o trabalho faz mais sentido”, afirmou Andres.
Um dos objetivos da rádio livre é dar valor e significado as vozes representadas. Para qualquer pessoa produzir uma rádio comunitária, livre ou popular, deve elaborar um conteúdo bem construído, ter equipamentos suficientes para por sua ideia em prática, com boa técnica, gravar, transmitir e dividir funções, atuando com democracia na produção da informação.
“Que rádio queremos?”
Com os equipamentos a mostra na mesa, cada detalhe é importante: a vibração de som das vozes nos microfones, regular a equalização de graves, médios e agudos, ligar adaptadores em celulares ou computadores. Os participantes já familiarizados com o equipamento, tiveram a oportunidade de conectar fontes e configurar o notebook para começar uma transmissão ao vivo. Eles também aprenderam que três ferramentas são essenciais para a rádio digital: reprodutor de música, programa de servidor gratuito e o gravador de áudio.
O universitário Diego Veríssimo ficou satisfeito com o que aprendeu na Oficina Livre: “Espero que eu possa praticar, sair daqui pronto para fazer minha própria rádio e espalhar minhas ideias por aí”, contou o jovem.
Rádios comunitárias criminalizadas
Apesar de todo o trabalho dos comunicadores comunitários, eles ainda enfrentam dificuldades diante de uma das legislações mais restritivas do mundo, que coíbe, controla e pune as rádios comunitárias.
A lei estabelece que as rádios devem atuar em baixa potência (25 Watts), restringe a atuação do serviço de radiofusão a uma cobertura de um raio (1km) a partir da antena transmissora, proíbe a formação de rede entre as emissoras, e ainda não garante a proteção contra a interferências de emissoras comerciais e serviços de telecomunicação. Além disso, a busca de outorgas para a emissão ainda é manipulada por políticos, que monopolizam as rádios de todo o país.
Com tantos motivos para desistir, o desejo ainda é continuar. A luta é diária e a persistência é o que move as rádios livres do Brasil, do Chile e do mundo inteiro.