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Até traficantes pedem fim da violência

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“Vamos parar com esse negócio de tiro pra lá, tiro pra cá. Tá matando morador, ninguém aguenta mais”, este é o apelo feito por Playboy, traficante da região de Costa Barros, na Zona Norte do Rio. Em um áudio divulgado no início da semana, ele propõe  um cessar fogo a Claudinho da Mineira, do Morro do Chapadão. Playboy esclarece que a guerra não tem sido benéfica para nenhum dos dois lados e fala que ambos “estão sendo burros” ao manter a batalha. Embora não sugira uma trégua na disputa entre os poderes, ele pede que os tiroteios desnecessários acabem.

Os confrontos em Costa Barros se intensificaram desde janeiro, tanto entre as facções rivais quanto entre as facções e a polícia. Os moradores estão bastante assustados com a situação, tanto que nenhum deles quis falar à equipe de reportagem do Viva Favela sobre as atuais condições do local.

Na Rocinha, o tiro que atingiu Wesley entrou pela janela de sua casa. (Fotos: William de Oliveira)

Mas a questão da violência na cidade não está concentrada apenas na Zona Norte. Desde o início do ano constantes episódios têm vindo à tona, desde tiroteios em áreas de  com UPP (Unidades de Polícia Pacificadora) até os assaltos com armas brancas, como o que vitimou o médico Jaime Gold, na Lagoa.

O alardeamento destes casos foi determinante para que a sensação de insegurança entre a população crescesse. Os cariocas, principalmente, têm cobrado providências ao Estado, como mais policiamento e repressão ao crime. Tanto que o projeto de lei 435/15, que criminaliza o uso de armas brancas foi aprovado por 61 votos a 3 na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e só precisa do sancionamento do governador Luiz Fernando Pezão, fato que pode ocorrer nos próximos dias.

Em contrapartida à onda de pânico, os índices do ISP (Instituto de Segurança Pública) mostram que a violência no Estado têm diminuído. O comandante do Estado Maior, Coronel Robson Rodrigues, admite que a população está com medo, mas esclarece que o último mês de maio teve os mais baixos índices de homicídios dolosos desde o início da série histórica, em 1991. “Apesar de continuar a mostrar números altos, houve uma redução de 32,7% em relação a maio de 2014. Na Baixada Fluminense, por exemplo, os 177 homicídios caíram a 119”, disse.

Fragilidade do projeto de pacificação

A crise na segurança também evidencia a fragilidade do projeto da UPP, que ficou desacreditada principalmente depois dos últimos episódios no Complexo do Alemão, Morro do São Carlos e, mais recentemente, Rocinha. Nesta quarta-feira, dia 17, a Rocinha foi conflagrada com mais de cinco horas de tiroteio intenso.

A bala passou de raspão pelo rosto do adolescente

Segundo relato de moradores, foram os policiais do COE (Comando de Operações Especiais) que ocuparam a favela e trocaram tiros com traficantes. Ainda de acordo com eles, nem a UPP nem a Delegacia local tinham conhecimento da operação. Durante o tiroteio, Wesley Barbosa, de 13 anos, foi ferido na testa com uma bala que atravessou a janela de sua casa. A mãe dele, Claudionora Barbosa, relatou que os problemas causados por estas operações não melhoraram nem mesmo depois da pacificação. “Isso não deu certo nem antes e nem depois da UPP, eles não têm planejamento nenhum”, reclama.

Ela ainda se mostra preocupada com o dia a dia da comunidade. “Não importa de onde veio a bala, o que importa é que ela atingiu meu filho. Esses constantes tiroteios têm causado uma enorme evasão nas escolas e creches da Rocinha, não é possível que nem a Delegacia nem a UPP sabiam da operação”, duvida.”Meu filho não quer mais morar na nossa casa, ele não conseguiu dormir à noite, teve pesadelos, chorou muito e disse que não quer mais viver ali. Esse foi o presente que minha família ganhou dessa desastrosa operação”, desabafa ela.

Apesar do papel contraditório da polícia dentro das favelas, os traficantes ainda temem a chegada do comando, como relatado pelo próprio Playboy no áudio. Ele fala que, assim como as outras facções, eles também tem problemas com o governo e que continuar a troca de tiros pode acabar chamando mais atenção da mídia e, consequentemente, levando a mais policiamento, prejudicando a todos. “Aí amanhã avança bagulho de UPP. Vai prejudicar nós dois, tanto aí quanto aqui”.

Falência da guerra às drogas

O Coronel Ubiratan Angelo, coordenador de segurança Humana do Viva Rio, afirma que o áudio de Playboy mostra que a situação da guerra às drogas precisa urgentemente ser discutida. “A gente vê que até os traficantes estão começando a pensar nesta lógica, que é a do comércio e não da guerra”, explica.

Ele fala ainda que a descriminalização é o caminho para evitar crimes violentos. “Com a descriminalização, vira uma questão de fiscalização, de regulação. Aí acaba a guerra de gangue contra gangue e dessas gangues contra a polícia. Eles perceberam que mais vale seguir a da disputa comercial do que seguir a anti-guerra da disputa pelos espaços de violência e drogas”, garante.

No dia 6 de julho moradores da Rocinha se reunirão com a Comissão de Direitos Humanos da Alerj junto com instituições das esferas educacionais, sociais e de direitos para discutir a questão da segurança e os horários das operações policiais.

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