Comitê Rio 2016 convoca favelas a participar
Órgãos de comunicação comunitária se reuniram com representantes do Comitê Rio 2016 na tarde de quinta-feira, dia 19, na sede do comitê na Cidade Nova. O convite para participar deste encontro partiu de um grupo de quatro jornalistas comunitários que integram o comitê organizador dos Jogos Olímpicos. O objetivo era conversar sobre a participação das favelas no evento esportivo, cultural e de impacto social que vai mobilizar o Rio e atrair visitantes de mais de 200 países.
Este encontro é simbólico já que abre um diálogo real entre os organizadores dos jogos e as lideranças comunitárias que, no caso de favelas como Alemão, Maré e Cidade de Deus, atuam também como comunicadores. Ainda há muitos aspectos para serem discutidos até que fique claro o papel que a favela vai desempenhar neste jogo.
O grupo, formado pelos jornalistas Piê Garcia, Rosilene Miliotti, Pablo Ramoz e Helcimar Lopes, convidou mais de 60 veículos dos quais 33 compareceram. Desde fevereiro, eles estão realizando visitas em todas as áreas do comitê para entender os projetos, apresentar propostas e mapear iniciativas interessantes em favelas e periferias.
“Considero boa a adesão e quero que o próximo encontro seja ainda melhor”, afirmou Piê, que aprovou o modelo proposto pelo comitê de fazer reuniões temáticas e se mostrou otimista. “Se eu não acreditasse que esse diálogo pudesse se concretizar em ações para espaços populares, não estaria aqui. Agora espero ampliar a rede”.
Na opinião da diretora executiva do portal Voz da Comunidade, Daiene Mendes, do Complexo do Alemão, a iniciativa é válida. “É a oportunidade dos jovens que vivem nas favelas serem ouvidos nos eventos de grande porte que acontecem na cidade. Os resultados desse encontro podem ser grandiosos”, afirmou ela.
Credenciados x não credenciados

O diretor de comunicação Mário Andrada deixou claro a prioridade de se limpar a baía de Guanabara para as provas de Vela. (Fotos: Paulo Barros)
O diretor executivo de comunicação, Mário Andrada, falou sobre os impactos da realização dos jogos olímpicos no Rio. Ele enfatizou os esforços enormes que o Governo do Estado está fazendo para eliminar um problema crônico da cidade em tempo recorde: o péssimo estado da baía d Guanabara.
“Agora a baía da Guanabara é um problema mundial. Agora o governo quer limpá-la porque hoje ela não é mais um problema só do Rio de Janeiro”, frisou o diretor a uma plateia formada por comunicadores como Rene Silva, Betinho Vilas Novas, do portal Voz da Comunidade, do Complexo do Alemão; e representantes do Observatório de Favelas, das Redes da Maré, da Agência Nacional das Favelas (ANF), do CDD Acontece, da Cidade de Deus, da Rede de Instituições do Borel, entre outras.
Pelos números informados por Andrada, os olhos do mundo estarão realmente voltados para a cidade. Segundo ele, 32 mil jornalistas passarão pelo Rio no período dos jogos olímpicos e parolímpicos. Ao todo, serão seis mil horas de transmissão ao vivo pela televisão e o Comitê calcula uma audiência de 4,8 bilhões de telespectadores.
Questionado sobre o acesso que os órgãos de comunicação de pequeno porte e menor circulação terão para cobrir o evento, ele garantiu que todos os esforços serão feitos para garantir à mídia não credenciada os mesmos materiais e informações para trabalhar na cobertura jornalística do evento.
Durante a sua fala, o diretor reiterou várias vezes o compromisso do Comitê de “organizar os jogos olímpicos sustentáveis, com transparência e diálogo”. Ele disse que as prestações de contas Comitê Rio 2016 estão disponíveis no site oficial.
O valor dos ingressos para os jogos também foram mencionados. Segundo Mário, haverá ingressos que custarão até R$ 20 (meia entrada). Ele sublinhou a importância de divulgar estas informações para a população. “Para aqueles que não conseguirem ingressos ou que não puderem pagar, haverá testes com os mesmos atletas e nos mesmos locais com valores mais baratos e que serão abertos ao público”, informou.
Parcerias populares
Também foram apresentados os resultados do projeto da área de educação do comitê voltado para estudantes de escolas públicas e particulares; e de algumas iniciativas de parcerias do comitê com comunidades: uma delas envolve artesãos e produtores comunitários através da compra de 15 mil almofadas que vão decorar os quartos dos atletas da Vila Olímpica. A seleção será feita em breve. A outra parceria será com cooperativas de pescadores que vão fornecer pescados para a alimentação dos atletas. Além da demanda por voluntários de diversas áreas, foram anunciadas 85 mil contratações de profissionais terceirizados no período.
E onde entra a cultura das favelas?
Preocupados em não repetir o mico da Copa do Mundo, em 2014, quando as cerimônias de abertura e de encerramento foram muito criticadas por desfilar atrações que em nada representavam a identidade da cultura brasileira, as lideranças cobraram o posicionamento do comitê sobre o assunto. Mário Andrada informou que os cineastas Fernando Meirelles e Andrucha Waddington e a cenógrafa Daniela Thomas vão dirigir a Cerimônia de Abertura e Encerramento dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Ao ser perguntado sobre a demora para consultar grupos culturais da favela, que de fato representam um dos focos da cultura musical carioca, o funk, ele disse que o diálogo começou a tempo.
A jornalista Piê Garcia reafirmou a importância de cobrar e também fazer com que todas as pessoas da cidade metropolitana fiquem sabendo do que já está acontecendo e que pode trazer benefícios como as doações que acontecerão após o Comitê ser desmontado. “O papel dos veículos alternativos é importantíssimo para que as críticas cheguem e o que for ficar de legado também”, disse ela. Pablo Ramoz também se mostrou otimista. “O encontro é um marco para a realização do maior evento do mundo do modo mais justo, sustentável e igualitário possível. Sem os diálogos, não haverá legado”