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O templo que fundou um bairro

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A fachada de onde funciona o centro que surgiu antes mesmo do bairro. (Fotos: Letícia Rocha)

A fachada de onde funciona o centro que surgiu antes mesmo do bairro. (Fotos: Letícia Rocha)

A história do bairro Tenda Mirim, em Nova Iguaçu, se mistura com a tradição religiosa da região. Isto porque o lugar foi batizado, pelos próprios moradores com o nome de uma instituição espírita fundada em Comendador Soares em 22 de setembro de 1951.  Nesta época, o médium Benjamim Gonçalves resolveu praticar a caridade, um dos pilares do espiritismo, desmembrou o terreno que recebeu para fundação do terreiro e doou aos que posteriormente seriam os moradores do bairro.

O médium separou uma parte do grande terreno para construir o Centro, e o restante foi sendo transformado em lotes – alguns ele vendeu, outros ele doou. Com a chegada dos moradores, o bairro foi tomando forma, e as ruas foram nomeadas de acordo com os nomes de entidades que o Caboclo Mirim sugeria – Tibiriça, Pai Francisco, Pai Joaquim, Vovó Catarina e Iracema são alguns nomes de caboclos que deram nomes também às ruas da novo bairro.

Isso aconteceu há 64 anos e ainda hoje algumas famílias procuram o Centro para legalizar os terrenos que foram doados. Em sua maioria são filhos que herdaram a casa dos pais, mas não tem a documentação. Essas pessoas procuram pelo atual Comandante Geral do centro espírita, Waldir Rosa, ou por sua esposa, Leila Rosa,  a segunda pessoa no Centro, para conseguir a documentação do terreno e legalizar a situação do imóvel. Como “iniciaram” juntos, bairro e instituição, o espiritismo era a uma a única religião presente no bairro. Hoje a Tenda divide o espaço do bairro com igrejas, centros de candomblé e até outros centros espíritas.

História controversa
Nem todos os moradores do lugar conhecem os detalhes da história. Alguns arriscam versões baseadas no que viram e ouviram.  Como Bruno de Souza, morador do bairro há 27 anos. “O centro era muito famoso antigamente, vivia cheio e vinha muita gente de fora pra visitar. A gente passava por ali e via vários carros na porta, mas acho que hoje não funciona mais”, diz ele.

As ruas levam nomes das entidades sugeridas pelo Caboclo Mirim

As ruas levam nomes das entidades sugeridas pelo Caboclo Mirim

Outro morador, Jobson Barcellos, conhece a história contada pela mãe, que mora no bairro há 56 anos. “Não tem grandes coisas, o nome foi dado pela Tenda Mirim”. Como ele mesmo diz, há muitas dúvidas em relação ao ‘verdadeiro’ nome do lugar. “O certo seria aqui se chamar Laranjal, Bandeirantes, alguma coisa assim, mas não adianta, as pessoas apelidaram de Tenda Mirim. A história é basicamente essa: Na década de 1950 se instalou uma rede de tendas espíritas chamada Mirim, como se instalaram aqui e tinham poucos moradores, eles começam a dar nomes as ruas.” Ele que mora no bairro desde que nasceu, há 25 anos diz que esta é a essência  da história.

Assim que iniciou as atividades, a Tenda tinha muitos visitantes e pessoas interessadas em participar, pois era a única, explica Leila, “e quando tem um lugar só pra todo mundo, ele fica cheio”. Mas com o passar dos anos, foram surgindo outras casas e a Tenda foi ficando com menos frequentadores. Leila lembra que para fazer parte, é preciso ser morador da região.

Segundo a diretora, a relação com a comunidade continua boa. O único problema é que alguns adeptos de outras vertentes religiosas não aceitam a presença da Tenda ali. “Às vezes eles passam falando que está repreendido, mas eu não ligo, chamo até pra entrar” conta. “Dizem que em outras administrações, eles queriam entrar e quebrar tudo, mas não conseguiram.” Até para fazer caridade,  Leila disse que encontra problemas: “Atualmente a gente distribui cesta básica para 13 idosos. Esse projeto já existia quando meu marido e eu viemos para cá e decidimos manter. Mas já teve gente que não aceitou por ser oferecido pelo Centro”, conta ela.

A única imagem do altar da Tenda Mirim retrata Jesus Cristo

A única imagem do altar da Tenda Mirim retrata Jesus Cristo

Todo o bairro conta um pouco da história do Centro, começando pelo fato que todo o terreno pertencia à Tenda. Segundo Leila Rosa, todos os terreiros de centro espírita Tenda Mirim são doações – com poucas exceções – e com a região que hoje corresponde ao bairro de Comendador Soares não foi diferente. Como o espaço recebido era maior do que necessário para construção do Centro Espírita, o terreiro ficou apenas com o que iria precisar. A Tenda recebeu esse nome porque em 1920 o Caboclo Mirim fez sua primeira manifestação no médium Benjamin Gonçalves, que até então vivia o espiritismo puro. Quando esta entidade se manifestou, trouxe uma mudança. A partir dali começariam as primeiras ligações com a Umbanda. E assim foi a partir de 1924, quando passou a ser Centro Espírita-Umbandista Mirim. Hoje são, além da sede, 12 filiais espalhadas pelo Brasil.

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