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Sem patrocínio, colônia de férias resiste

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Os coordenadores e monitores voluntários da Colônia Eco. (Fotos: Amaury Alves)

Os coordenadores e monitores voluntários da Colônia Eco. (Fotos: Amaury Alves)

Crianças de seis a 12 anos de idade, moradoras do morro Santa Marta, em Botafogo, Zona Sul do Rio, têm, todos os anos, um encontro marcado com a diversão em praias, parques e outros espaços de lazer da cidade.  Isso acontece há 36 anos, durante o período da Colônia de Férias Eco, que já chegou a atender 350 crianças e agora atende 200. Este ano, entretanto, a falta de patrocínio, repetindo o que aconteceu em 2014, fez com que seu tempo de duração fosse reduzido de 15 dias para uma semana e alguns dos passeios tradicionais estão suspensos.

Crianças tem alternativas de diversão durante as férias

Crianças tem alternativas de diversão durante as férias

Os idealizadores do projeto se adaptaram, mas estão mobilizados para reverter o quadro.  “Durante 34 anos, fizemos durante 15 dias seguidos. Por falta de recursos, baixamos para uma semana. Temos custos altos. Só com o transporte das crianças são R$ 3 mil por dia. Já tivemos patrocínio da Companhia Nacional de Seguros (CNSEG) e no final de fevereiro teremos algumas reuniões para conversar com pessoas interessadas em patrocinar para voltar a fazer a colônia normalmente”, conta o coordenador do Grupo Eco, Itamar Silva, que idealizou o projeto no final dos anos 1970.

No dia cinco de janeiro, as crianças passaram o dia no Clube Megaville, em Guaratiba. O dia seguinte foi dedicado a um passeio na Praia do Flamengo, com direito a banho de mar. E a agenda da semana ainda teve sessão de cinema. “A programação é feita de acordo com os pedidos das crianças”, revela a coordenadora Jocélia Montes, lamentando a redução do tempo da colônia. A monitora Barbara Barreto completa: “O trabalho não pode morrer”.

Uma história de parcerias sólidas
Itamar, coordenador geral, está à frente do Grupo Eco há 36 anos

Itamar, coordenador geral, está à frente do Grupo Eco há 36 anos

Em 1977, o então estudante de Jornalismo Itamar Silva, nascido e criado no Santa Marta, criou o Grupo Eco com o intuito de estreitar os laços com os moradores da comunidade para produzir notícias sobre a favela e para ela. “Era um período difícil e a ideia foi incentivar as pessoas para que elas pudessem pensar sobre questões da favela, como a falta de saneamento básico, as vielas estreitas, entre outros. O Grupo Eco produziu um informativo impresso, que chegou a rodar 3 mil exemplares e teve até uma TV comunitária, a TV Favela, que funcionou até 2013.

Paralelamente ao trabalho principal, de fazer comunicação comunitária, Itamar teve uma ideia a partir de uma lembrança de infância: “Quando eu era criança, a professora da escola costumava pedir uma redação sobre as férias, na volta às aulas. Pra mim jogar bola de gude e soltar pipa no morro não era novidade, já que eu fazia isso o ano todo. Quando cresci, decidi criar uma colônia de férias para levar as crianças para passear e elas terem o que contar”, explica ele. “Nossa marca é o direito ao lazer: andar pela cidade, ser criança e poder ocupar os espaços”, comenta.

Um de seus mais fiéis incentivadores é o Colégio Santo Inácio, que desde o início, empresta o pátio, as quadras esportivas e as piscinas para as crianças usaram em dois ou três dias da colônia. Além disso, o colégio pagou as mochilas e as camisas usadas pelo grupo. “O Santo Inácio é um parceiro mais importante, que permite às crianças brincar num espaço limpo, seguro, arrumado, sendo bem cuidadas. Elas merecem isso e acredito que este é o nosso papel – cuidar delas, proporcionar lazer com segurança”, defende. Outros parceiros que merecem destaque por ele são os Sesc Tijuca e Nova Iguaçu, que se mobilizam para criar uma programação intensa para os coloninhos do Santa Marta. “É uma parceria fantástica, inclusive para se discutir o papel destas instituições que lidam com dinheiro público”, conta.

“Megavida”

Janara Siqueira, ex “coloninha”, entre os filhos Raí e Raissa

Janara Siqueira, ex “coloninha”, entre os filhos Raí e Raissa

“Esta é uma oportunidade que poucas crianças têm”, diz a monitora Janara Siqueira, 27 anos, ex coloninha.  Este ano ela está acompanhada de seus dois filhos. A mais velha,  Raíssa, 10 anos, começou a frequentar os passeios há quatro anos, para desespero do caçula Raí, 6 anos,  que ficava chorando na janela, esperando  a irmã voltar. “Agora ele é pura felicidade”, conta a mãe. “Acho legal, bom e divertido. Adorei o passeio na (sic) Megavida!”, grita o garoto, referindo-se ao Clube Megaville. A mãe ri do trocadilho, mas concorda: “É uma mega vida mesmo!”

O apego dos moradores do Santa Marta à Colônia Eco é tanto que alguns deles dedicam um tempo para atuar voluntariamente. É o caso do fotógrafo Roberto Sousa: “Fui convidado pra fotografar os 30 anos da colônia pela Dorlene e o combinado era fotografar só um dia. Fui no segundo, no terceiro e estou aqui há seis anos”, conta.

As amigas Ana Alice, 11 anos, e Raiane, nove, resumem: É bom compartilhar!

As amigas Ana Alice, 11 anos, e Raiane, nove, resumem: É bom compartilhar!

Antigos coloninhos viraram monitores e até coordenadores. Hoje são cerca de 40, todos voluntários: ‘É um trabalho de diversão, construção de amizade, transmissão de valores, fortalecimento do senso de responsabilidade e do companheirismo”, resume Jocélia Gomes, acompanhada da neta Nathalia. “Corta o nosso coração, se a gente pudesse, proporcionava um mês de colônia”.

Uma das coordenadoras do projeto, Dorlene Meirelles, participa há 36 anos. Começou como “coloninha” aos 10 e, três anos depois, já era monitora. Hoje seu trabalho é cuidar do grupo das crianças de 11 e 12 anos.  Seu colega Michael Luiz da Silva, 29 anos de idade e 16 anos de colônia, é responsável pelo grupo dos mais velhos. Segundo ele, o trabalho une monitoramento das atividades a noções de educação ambiental e cidadania.

As amigas Ana Alice Souza Batista, 11 anos, e Raiane, nove, fazem parte da segunda geração de suas famílias a frequentarem a colônia. Em poucas palavras, elas resumem: “É muito bom estar aqui e compartilhar as coisas com os outros”, falam em coro.

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