Moradores preparam o réveillon na favela
Os moradores de várias comunidades do Rio de Janeiro são espectadores privilegiados do maior réveillon do mundo, na orla carioca. Segundo a Prefeitura, mais de dois milhões de pessoas devem assistir à queima de fogos em Copacabana, que este ano homenageia os 450 anos da cidade, a serem completados em 1º de março de 2015.
Além das favelas que contornam as praias do Leme e de Copacabana e, por isso, oferecem a melhor vista do espetáculo – como Babilônia, Chapéu Mangueira, Tabajaras, Cabritos, Pavão-Pavãozinho e Cantagalo –, outras comunidades são boa opção para quem busca um visual de tirar o fôlego.
No Vidigal, onde é possível ver parte de Copacabana e da Lagoa Rodrigo de Freitas, além das praias de Ipanema e do Leblon, a festa Run VDG acontece pelo segundo ano consecutivo, com lotação esgotada. Além disso, o hostel e bar Da Laje, inaugurado em maio último, fará seu primeiro réveillon para comemorar a chegada de 2015 até de manhã.
De um modo geral, os moradores do Vidigal comemoram a chegada do novo ano em casa, com churrasquinho e cerveja gelada, além da queima de fogos em várias partes da comunidade.
Já no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, as visitas caíram drasticamente em relação ao ano passado, o que derrubou os preços do réveillon. Enquanto em 2013 os turistas chegaram a pagar R$ 1.350,00 por pessoa, este ano os valores não ultrapassam R$ 450,00, segundo o empresário Daniel De Plá, que explica a queda com uma única frase: “O Rio está caro demais”.
Na Rocinha, Zona Sul do Rio, a procura dos turistas aumentou muito, principalmente na região que tem vista para Copacabana, como é o caso da laje do seu Carlinhos, na Rua 1. O auxiliar de guia turístico, Alessandro Azevedo, 22 anos, afirma que “o número de visitas dobrou de 2013 para 2014”, comemora ele, esperando um 2015 ainda melhor.
“Espero vender muito neste réveillon”
Na parte baixa da Rocinha, sem vista para Copacabana, os moradores também não deixam de aproveitar o réveillon. A diversão é garantida com o tradicional Baile da Via Ápia, realizado há mais de 20 anos no mesmo local. É uma verdadeira discoteca a céu aberto, que deixa a rua tomada por pessoas que gostam de dançar até o sol nascer.
Quem não está ali para dançar também pode encontrar uma boa oportunidade de trabalho. É o caso de Maria do Socorro Ferreira da Silva, 57 anos, mais conhecida como Tia Socorro. Ela trabalha há 25 anos servindo comidas e bebidas em sua barraca e já participou de quase todos os eventos da Rocinha.
“Meu primeiro réveillon foi em 1990, quando comecei vendendo cachorro quente, balas e salgados nos bailes na Via Ápia. Também participei de bailes das equipes Mega Mix, O Escorpião, Furação 2000 e Curt Som Rio. Já conheci vários artistas e grupos de funk, gospel, forró e pagode, entre eles, o Raça Negra, que gosto muito”, lembra ela.
Muito querida pelos moradores e até por visitantes da Rocinha, Tia Socorro explica com simplicidade o que representa seu trabalho: “Gosto muito do que faço. Hoje minha renda e meu sustento familiar vêm através deste trabalho. Espero poder conseguir vender muito neste réveillon”.
Já no outro lado da favela, Maria Clara dos Santos, 50 anos, mais conhecida como Mão Santa ou Mulher Maracujá, vai receber várias famílias brasileiras e estrangeiras em seu albergue. Ela vai comemorar a chegada de 2015 com muita festa e uma linda vista da queima de fogos.
Maria veio da Bahia para a Rocinha com um filho pequeno. E logo começou a ter fama de “mão santa” e curandeira. “Saí em vários jornais com o titulo Mulher usa coquetel de ervas para curar doenças da Rocinha”, diz ela. Depois de perder a casa em que morava na parte alta da favela, deu a volta por cima e construiu o albergue República da Mulher Maracujá, onde recebe turistas do mundo todo. Em uma dessas visitas, foi convidada para atuar no filme Favela Diary (Diário da Favela), com previsão de lançamento no início de 2015.
Hoje, anda com uma roupa amarela cheia de bolinhas, imitando a parte de dentro do maracujá. “Eu queria levar alegria ao mundo”, explica, sonhando em apresentar a Mulher Maracujá na sua cidade natal, Santa Inês, na Bahia.