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Campanha expõe homicídio de jovens negros

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Divulgação/Anistia Internacional
Dez jovens foram assassinados pela ROTAM (Rota Ostensiva Tática Metropolitana) na semana passada no Pará, região Norte do Brasil. As investigações apontam que os homicídios foram uma revanche contra a morte de um policial ocorrida na semana anterior. Casos como este, embora raramente ganhem destaque nos meios de comunicação, são comuns no Brasil. Para colocar esta pauta na agenda de discussões tanto da sociedade civil quanto dos governos, a Anistia Internacional lançou no último final de semana a campanha “Jovem Negro Vivo”.

Segundo a pesquisa “Mapa da Violência: Os jovens do Brasil”, divulgada esse ano, o país contabilizou 56 mil homicídios em 2012, dos quais mais de 50% das vítimas eram jovens com idade entre 15 e 29 anos. O dado alarmante é que deste número, 77% dos assassinados eram negros. De acordo com o diretor executivo da Anistia, Atila Roque, o problema maior reside na indiferença como são tratados estes casos. “O Brasil tem hoje o número de 30 mil mortos por ano. É como se um avião cheio de adolescentes e jovens caísse a cada dois dias e os jornais não dessem nada, não falassem sobre isso”, lamenta.


O coordenador da campanha, Alexandre Ciconello, alerta que desde a década de 1990 o número de homicídios vem aumentando, mas até hoje nenhuma ação direta foi posta em prática. Ainda segundo ele, a campanha “Jovem Negro Vivo” busca chamar a atenção do mundo para estes casos e, por isso, acontecerá em três fases diferentes. “A primeira pretende romper com a indiferença, fazer com que as pessoas entendam que isso não é natural. A segunda vai investigar o porquê desta violência policial que acaba resultando em homicídios; e a última lançará uma pesquisa aprofundada sobre o tema, disponibilizando o material para que todos tenham os dados sobre o assunto”, explica.

Fotos: Debora PioAlgumas mães que tiveram seus filhos assassinados também foram ao evento fazer coro à campanha, como a mãe de Douglas Rafael da Silva, o DG, morto este ano no Morro do Cantagalo, e Maria de Fátima Silva, mãe de Hugo Leonardo, assassinado em 2012. Maria carregava um cartaz pedindo justiça. Ela afirmou que antes de ser morto pelos policiais, Leonardo vinha sofrendo torturas e ameaças. “Desde que a UPP entrou na Rocinha começaram essas práticas. Mataram meu filho com dois tiros e até hoje eu não recebi nada, nem um pedido de desculpas. Eu fiquei calada muito tempo, mas depois que o caso Amarildo veio à tona eu resolvi falar”, revolta-se.

De acordo com Ciconello, o aumento da letalidade provocada por agentes da segurança pública é um dos resultados de uma estrutura deficiente e que precisa ser repensada. “Para os moradores da favela, a polícia representa uma ameaça. Não há um controle, um órgão que possa dar respostas sobre os autos de resistência, por exemplo. Os policiais também não recebem treinamento adequado, eles se capacitam para identificar o morador de favela como inimigo, o que acaba resultando nestas mortes”, enumera.

O Dream Team do Passinho se apresentou no encerramento do evento e o integrante Rafael Mike fez um discurso emocionado sobre o mote da campanha: “Eu sou de Nova Iguaçu e já perdi vários amigos assassinados. Vários deles eram como nós, apenas jovens que tinham seus sonhos. Nós somos pretos que sonham, num país que é máquina de matar crioulos. Isso precisa acabar”.

Atila Roque conclui que um dos caminhos possíveis é a sociedade dizer de forma clara que não é cúmplice e que não concorda com isso. “A gente precisa de um Plano Nacional de Redução de Homicídios que seja efetivamente a prioridade do país. A prioridade não deve ser só a redução da inflação ou o desenvolvimento. Afinal, que desenvolvimento é esse que convive com o extermínio sistemático de sua juventude? Eu quero o jovem negro vivo, nós devemos nos importar com isso”, afirma.

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