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Roda de samba resgata patrimônio de Madureira

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Foto: Arquivo pessoal/Nem

O Pagode da Tia Doca, uma das mais tradicionais rodas de samba do coração de Madureira, Zona Norte do Rio, está de volta! Atualmente o filho de Tia Doca, Nem, é quem comanda a roda de samba que resgata as raízes do pagode fundado por sua mãe: o projeto Ouvindo e Cantando Samba no Acústico. O evento acontece em todos os finais de semana no Centro Cultural Tia Doca. Chegando cedo, é possível sentar, mas depois que roda começa a tocar, o local enche tanto que ninguém mais fica parado.

Mesmo com o falecimento de Tia Doca, um dos maiores nomes da história da Portela, em 2009, o local continuou sendo referência do samba carioca e ponto de encontro de sambistas consagrados.  Hoje o repertório é voltado para os bons pagodes modernos, especialmente os da turma do Cacique de Ramos. Almir Guineto e Jorge Aragão já apareceram por lá para dar uma canja. Canções de Zeca Pagodinho e Beth Carvalho são cantadas em coro como orações.

“Essa foi a maior herança deixada pela minha mãe. Poder cantar e ouvir um samba de raiz sem agrotóxicos é de contagiar”, diz Nem, vocalista da roda. Nos anos 2000, os sucessos do pagode original foram gravados no CD “Pagode da Tia Doca”, com um luxuoso coro das pastoras. Outro momento importante foi a participação no documentário “O Mistério do Samba”, idealizado pela cantora Marisa Monte.

Em 1979, Tia Doca abriu o quintal de sua casa para promover o famoso pagode, que serviu de berço para diversos artistas, como o sambista Dudu Nobre. Foi também no “Terreirão da Tia Doca” que sua amiga Clara Nunes promoveu encontros musicais. Trinta anos depois, as rodas de samba continuaram trazendo alegria aos seus fãs. Um deles é o estudante Jorge Zacharias, 22 anos. Ele diz que seu pai já frequentava o pagode na juventude e essa roda tornou-se tradição e referência de bom samba não só para sua família como em todo o subúrbio carioca.

Foto: Thais MaraNaquele território livre para criação e descobertas, destacava-se  ainda outra habilidade da pastora, que reforçava sua tradição ancestral. Excelente cozinheira, nos dias de festa com samba, Doca demonstrava sua habilidade nos quitutes, como a sopa de ervilha, apontada como uma das comidas preferidas de Zeca Pagodinho. Hoje, os freqüentadores do Pagode de Tia Doca podem ter o prazer de saborear um delicioso (e gratuito) prato de  macarrão à bolonhesa.

Matricarca do samba

“Umas das matriarcas do samba, uma celebridade de verdade, simples e humilde”. Essas palavras da mangueirense Leci Brandão dão o tom do legado de Tia Doca para a Portela e para o samba. Uma mulher realizadora, bem-sucedida, que portou, desde sempre, a bandeira de resistência do samba. Nascida em 1932 no Morro da Serrinha, reduto do Império Serrano, e prima da Grande Dama Imperiana Dona Ivone Lara, Jilçária Cruz Costa, a Tia Doca, virou pastora da Velha Guarda da Portela em 1970, por sugestão de Alberto Lonato, vindo a substituir a lendária Tia Vicentina.

Figura emblemática do samba carioca, tocava surdo, pandeiro e tamborim e fez tudo na Águia de Madureira: foi destaque, diretora da ala das baianas e integrante da diretoria: “Só não carreguei tijolo nem joguei bola com o Paulo da Portela. De resto, fiz de tudo para ajudar minha escola”, dizia. Como integrante da Ala dos Compositores da Portela, teve músicas gravadas por Monarco e Jovelina Pérola Negra.

Em 2009, minutos antes de a Portela iniciar seu segundo ensaio técnico na Avenida Marquês de Sapucaí, a notícia de que Tia Doca teria morrido se espalhou como rastro de pólvora. Um susto e um aviso, talvez. Uma semana depois, no dia 25 de janeiro, ela faleceu, vítima de um infarto. Quando o coração que batia no ritmo e na cadência do samba parou, todo mundo lamentou a despedida de uma das figuras mais ilustres da passarela, do palco e da alegria cariocas.

Ouvindo e Cantando Samba no Acústico é composta: Nem (vocal), Tuta (cavaquinho), Márcio Ricardo (violão), Emerson (banjo), Willian (surdo), Keko (percussão), Carlinhos (cuíca), Ronaldinho (pandeiro), Cidinho (tantan) e Dom Elton (percussão).

Quando: Todo fim de semana, sempre a partir das 18h
Onde: Rua João Vicente n°219, Madureira
Quanto: R$ 5,00.
Mais informações: (21) 3018-5470

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