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Cia teatral aposta em talentos de favelas

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Com mais de 20 anos de estrada, a Cia Teatral InFocus, dedicada a peças infantis, vem cativando o público com montagens alegres feitas por um grupo de atores moradores de comunidades dos municípios de Niterói e São Gonçalo e do Rio de Janeiro. No dia 11 de outubro, véspera do Dia das Crianças, a companhia estreia “João e o pé de feijão”, na sala de cultura Leila Diniz, em Niterói, Rio de Janeiro.

Cezar Cavalcanti, um dos fundadores da companhia, diz que a prática teatral que ele acredita tem como base a vivência do cotidiano, suas ideias, conhecimentos e sentimentos. Mas o trabalho da companhia também está focado na adaptação de clássicos infantis. “Começamos com Pinóquio e depois fizemos ‘A cigarra e a formiga’, ‘O casamento da Dona Baratinha’, ‘Chapeuzinho Vermelho’, ‘Os três porquinhos’, ‘A roupa nova do rei’, ‘O gato de botas’, ‘A princesa e o sapo’ e ‘João e Maria’. Trabalhar com os sonhos das crianças não é fácil, ainda mais quando elas só sonham com o alimento do dia-a-dia”, diz.

Fotos: Divulgação InFocusProfessor de História e Geografia da rede pública, ele conta que descobriu muitos talentos durante encenações em suas aulas. É o caso de Junior Bertolli, 19 anos, morador do Morro do Feijão, em São Gonçalo, que hoje integra o time da companhia e teve seu projeto de vida modificado: “Meu sonho era crescer, ser advogado, ganhar dinheiro e sair do bairro. Eu pensava que quando eu tivesse meus filhos, não iria querer que eles ficassem aqui porque achava que o Morro do Feijão não daria futuro para ninguém”, conta ele, que foi apresentado ao teatro aos 12 anos durante os jogos teatrais das aulas de Cezar. “Minha vida é estar nos palcos e hoje não troco o lugar que moro por nada”, resume o rapaz.

Outra que teve seu sonho realizado foi a atriz Emilly Cortes, de 22 anos. Desde pequena ela desejava a fama, queria ser bailarina, mas por indicação da madrinha, a atriz Fernanda Sorentinny, começou a acompanhar os ensaios da InFocus até entrar em seu primeiro espetáculo: “Moro num morro onde as pessoas ouvem funk o dia e a semana inteiros. Não consigo ouvir uma música sem encaixar uma cena. Ser atriz está no meu sangue”, diz a atriz, moradora do Rocha, em São Gonçalo.

Alguns atores se sentiram motivados a levar o teatro para suas comunidades e passaram a dar aulas para crianças. Eles se surpreendem com o progresso dos alunos que não têm experiência nenhuma com teatro e, ao fim das oficinas, começam a participar ativamente das encenações.  O diretor do grupo, Gugu Araújo, diz que o lema da companhia é fazer teatro com, para e na comunidade: “Um grande trabalho é feito com exercícios e propostas para escutar os relatos dos jovens. Isso fundamenta a dramaturgia e o fazer teatral daqui”, explica ele, ao descrever o trabalho que tem como um dos objetivos resgatar a autoestima dos participantes. “Eles têm a autoestima muito baixa, por serem de locais muito conhecidos pela violência”, defende.

Hoje o grupo conta com mais de 20 integrantes, sendo pelo menos oito moradores de comunidades em Niterói e São Gonçalo e quatro de morros do Rio de Janeiro. Gugu conta também como é o método de trabalho que, segundo ele, vem dando certo. “Não somos profissionais, somos um grupo família, onde o objetivo maior é apresentar ao jovem um mundo novo, sem deixar que ele esqueça suas raízes. Na vida, somos todos atores e técnica. Teatro é algo que vem junto com o nascimento e pode ser feito em qualquer lugar e hora do dia ou da noite, sozinho ou acompanhado”, diz o diretor.

Ele comemora conseguir realizar um trabalho tão importante dentro de favelas. “É uma honra poder contribuir para a formação desses pequenos gigantes e saber que levo a felicidade a comunidades que não têm acesso à leitura e vivem enfrentando uma dura realidade. Gostaria que nesse dia 12 de outubro, toda a população olhasse com carinho para o futuro da nação. O que tem sido feito com eles? Estão deixando de sonhar para viver. Estão deixando de ser quem são para ser mais um na multidão. Precisamos olhar para eles com o carinho que merecem”, completa.

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