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Mototáxis tentam garantir direito de ir e vir

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Fotos: Rodolfo MenezesApenas três linhas de ônibus (537, 538, 539) atendem aos moradores da favela da Rocinha, Zona Sul do Rio, uma das maiores da América Latina. Enquanto o IBGE contabiliza 70 mil habitantes pelo senso 2010, os moradores falam que ali vivem 200 mil pessoas, enquanto o Data Favela calcula a população em 150 mil. O certo é que essas três linhas não são suficientes para levar trabalhadores, estudantes e demais moradores para outros bairros da cidade.

A Rocinha é uma favela populosa que cresceu, e ainda cresce, de forma desordenada em um morro muito alto e repleto de vielas e becos, por onde ônibus ou vans não conseguem passar. Por conta disso, os moradores se vêem obrigados a utilizar os mototáxis para conseguir sair e retornar, já que as três linhas que sobem pela Estrada da Gávea só chegam até a Rua 1. A partir dali, a grande maioria das pessoas depende dos mototáxis para chegar à porta de casa. O problema ainda é agravado com a reduzida frota de ônibus em cada linha.

Essa não é novidade no Rio ou exclusividade daquela comunidade. Mas lá, o número de mototaxistas impressiona a qualquer um. Quem mora na Rocinha, ou só está de passagem, admite que não há saída: “É um pouco confuso, mas acho que é importante pro acesso a algumas casas”, diz a turista paraibana Lilian Melo, 27 anos, reconhecendo a dificuldade que os demais transportes têm para acessar locais muito altos. Quanto à necessidade de fiscalização, ela opina: “É uma função do governo melhorar a condição de mobilidade das pessoas, então, é um dever né? Afinal, pagamos impostos pra isso”.

Atualmente, o controle de licenças e a fiscalização dos documentos dos mototaxistas na Rocinha são feitos por agentes da UPP. Assim como a coação a motoqueiros piratas que, segundo os moradores, usam licenças e coletes falsos. Procurados várias vezes pela reportagem, os agentes não foram encontrados para prestar esclarecimentos sobre o funcionamento do serviço de mototáxi na comunidade.

Já a fiscalização das regras de trânsito é feita por agentes do Centro de Operações da Prefeitura do Rio (CET-Rio), como Ricardo Silva, que está na Rocinha há dois anos. Ele diz que os mototaxistas ajudam muito a comunidade pela facilidade de locomoção do transporte. Porém, nem tudo é perfeito: “Ás vezes eles não obedecem e isso atrapalha. Os mototaxistas são bem-vindos desde que trabalhem direito e sigam as regras de trânsito”, disse. Perguntado sobre acidentes com mototáxis, ele lembra que muitos acontecem porque até mesmo os pedestres não respeitam a faixa: “Apesar de ser uma comunidade, isto também existe aqui”.

A desobediência citada por Ricardo Silva é classificada como imprudência por motoristas de ônibus. Uma das reclamações mais frequentes é a de que os mototaxistas freiam bem em frente aos ônibus ou “se jogam”, o que pode levar a acidentes graves, uma vez que os ônibus estão sempre muito lotados e, como são pesados, demoram mais a frear.

Menos estresse

“Você, quando está com pressa, atrasado pro trabalho, vai pegar o quê? O mototáxi, né? Moto não para no trânsito. Eles (os ônibus) fecham o trânsito, travam tudo”, diz um mototaxista que se identificou como Miguel. Ele e todos os demais entrevistados defendem a tese de que os ônibus e os veículos maiores atrapalham o trânsito e não respeitam a moto como veículo menor. Além dele, outros profissionais que não quiseram se identificar disseram haver uma “competição” entre os diferentes meios de transporte. Por isso, as constantes rixas e trocas de ofensas: “Aqui é cada um por si”, disse um deles.

Há 12 anos trabalhando como mototaxista, Darival Souza, 35 anos, provoca, com humor, quem critica o modo invasivo de dirigir de seus colegas de profissão: “Mamãe já foi muito xingada, mas pergunta pro motorista da van como ele fazia quando era do mototáxi, pra ver se continua com o mesmo discurso (risos)”, referindo-se a ex-mototaxistas que largaram a profissão por não suportarem o estresse.

Moradores não negam a importância dos mototáxis, mas reforçam que o transporte público é um direito a ser garantido a todos os cidadãos. A estudante de Serviço Social Elaine Gomes, 24 anos, nasceu e mora na Rocinha. Ela utiliza o transporte público todos os dias para ir à PUC-Rio, na Gávea, onde estuda. Nos fins de semana, usa o serviço de mototáxi para se locomover dentro da favela e diz considerar importante este transporte alternativo. No entanto, conta que uma jovem de 14 anos sofreu um acidente causado por um mototaxista e ninguém se responsabilizou pelo acidente. Nem sequer a socorreram: “Eu vejo a Rocinha precária em termos de transportes. Há falta de respeito com os moradores. Muito precisa ser melhorado”, desabafa.

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