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Tradição vence a violência

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Tradição? Religião? Festa? Famílias unidas por um mesmo sentimento. No dia 27 de setembro, no Morro do Fubá, em Cascadura, Zona Norte do Rio, acontece a tradicional homenagem a Cosme e Damião, quando as pessoas saem às ruas para distribuir doces e brinquedos para as crianças. A tradição se mantém, mas vem caindo nos últimos anos.

Moradores lamentam que este hábito carioca, especialmente nas favelas, esteja se perdendo. Se não for resgatado, tende a se extinguir ou se tornar gueto. Dificuldades financeiras e novos costumes foram apontados como alguns dos fatores para a redução do interesse por celebrar a data, além de duas outras razões: o aumento do número de adeptos de igrejas que não compartilham da mesma fé e a crescente sensação de insegurança. Nos últimos tempos, um embate vem acontecendo entre facções rivais da Praça Seca, Zona Oeste, e do Morro do Fubá. As constantes trocas de tiros na comunidade aumentam a preocupação dos pais com as crianças.

Quanto ao fator religioso, a distribuição de doces sempre foi feita por fiéis do catolicismo e adeptos de religiões afro-brasileiras, em particular a Umbanda. O crescimento das outras religiões diminuiu tanto o número de pessoas que correm atrás de doces nas ruas quanto o de gente que faz a distribuição.

Histórias de fé em família

A emoção de distribuir doces pela primeira vez fisgou o secretário Alexsandre Amaral. Praticante do Candomblé, ele decidiu entregar 100 saquinhos para as crianças no dia 27 em agradecimento: “Cosme e Damião ajudaram minha irmã em sua gravidez de risco.”, conta.

A professora Carla Amaral, irmã de Alexsandre, comprou uma grande variedade de doces e de brinquedos para montar uma mesa farta para as crianças. “Preparo tudo como se fosse um aniversário. Tenho que pagar essa promessa enquanto estiver viva”, afirma.

A agente comunitária Érica Teixeira, 30 anos, confirma que as pessoas estão mudando a tradição: “Sempre fui muito agraciada por Cosme e Damião, mas devido ao crescimento de outras religiões no morro, prefiro fazer a festa para as crianças no dia 12 de outubro, com distribuição de brinquedos e cachorro-quente. Só não pode faltar o tradicional bolo e guaraná”, conta.

Em 2010, Darliene Duarte fez uma promessa aos santos e, segundo ela, foi atendida. Desde então, compra doces, embala e entrega às crianças da comunidade os saquinhos com pé-de-moleque, paçoca, maria-mole e outros doces. Ela tem a ajuda dos filhos Daiane, Yasmin, Miguel e Matheus.

O dia 27 de setembro é sinônimo de alegria para as crianças: “Minha mãe nunca me deixou correr atrás de doces. Mas esse ano ela disse que vai deixar. É num sábado e não tenho que faltar à aula pra pegar os meus saquinhos”, comemora Matheus, 10 anos. Darliene, no entanto, admite que está preocupada: “Estou com um pouco de medo de deixar ele pelo morro correndo atrás de doces por causa dos últimos acontecimentos”.


Maria Cristina Neves dos Santos, moradora da Rua Alegria, teve uma gestação complicada e prometeu aos santos que nunca iria abandoná-los em troca de saúde. O bebê nasceu no dia 24 de setembro e três dias depois lá estava ela, com o recém-nascido nos braços, correndo atrás de doces. A data faz a moradora relembrar a infância: “Moro na comunidade há 30 anos e não será dessa vez que vou deixar de correr atrás de doces. Quando era garota, eu esperava ansiosamente por este dia. Até porque não tinha muita grana para comprar doces no restante do ano”.

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