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Pelada e bate-papo marcam Flupp na Maré

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Fotos: Elisângela Leite

A primeira edição da FLUPP Brasil passou por Curitiba, Salvador e São Paulo antes da sua última parada na Maré, nos dias 6 e 7 de junho. Se o evento já está no seu terceiro ano, é a primeira vez que ele se expande além das fronteiras do Rio de Janeiro. Entre as novidades, além da pelada que simbolicamente abriu a feira em ano de Copa, está a preocupação com uma abordagem mais política, em sintonia com o momento que atravessa o país.

“O tema remeterá a uma reflexão profunda sobre o País. Por isso, nós elegemos quatro pensadores brasileiros que terão suas obras discutidas com total abertura crítica”, explica Júlio Ludemir, idealizador do projeto junto com Ecio Salles, referindo-se aos escritores Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda, Mário de Andrade e Darcy Ribeiro, cujos pensamentos foram amplamente debatidos no evento. Esta edição também apresentou quarenta autores que serão publicados em um livro com lançamento previsto para agosto.

Cria do Complexo do Alemão, Ecio explica que a Flupp tem como proposta a formação de leitores e autores da periferia, possibilitando que eles tenham um contato mais próximo com escritores publicados. Desta troca, espera-se o surgimento de novas vocações. “Temos uma pessoa, que é faxineira, sem escolaridade, com uma história de vida muito intensa. Ela foi mantida em cárcere privado por uma patroa. Quando ela entrou para Flupp ela sabia que tinha uma história pra contar, mas não sabia como. Hoje ela tem a realização de um desejo que é contar a história dela” relata Ecio.

Para o professor Marcos Alvito, que passou pelas quatro cidades onde aconteceram os encontros da Flupp Brasil, o acesso à literatura deve ser proporcionado, sobretudo, a partir da escola. “Não há como você substituir uma escola pública de qualidade. Nem eu acho que seja o papel da Flupp” reconhece. Todavia, o professor acredita que este tipo de manifestação favorece uma visão mais integrada e democrática da cidade, mostrando que “espaços violentos são espaços habitados por seres humanos iguais aos outros e que são capazes de gostar de literatura e produzir essa literatura”.

Moradora da Maré lança primeiro livro

A mineira Aline Melo, de 31 anos, moradora da Vila do Pinheiro, acompanha a Flupp desde o início. Ela conta que começou a compor poesias na adolescência, mas sentia a necessidade de escrever contos infantis e, recentemente lançou “A fadinha Maria e sua boneca de pano”. O livro é vendido por R$ 10 e toda a renda é revertida para manter o projeto Maré Latina. “Hoje trabalho no projeto Maré Latina de Aprendizado, que trabalha com crianças ensinando teatro, literatura e curta metragem”, esclarece.

Aline, que estudou em escola pública a vida inteira, é de uma cidade rural do interior de Minas Gerais e veio para o Rio de Janeiro aos 19 anos. Aqui, ela se formou em Letras (Espanhol e Latim) e já fez uma pós-graduação. “Na minha escola eu não senti essa deficiência na disciplina de literatura que vejo que as crianças daqui têm. Nós tínhamos aulas até nos sábados”.

Flupp Brasil

Ecio relata que ao longo dos anos, a Flupp foi desenvolvendo um público diversificado. “Fizemos um projeto para jovens, mas muitas pessoas com mais idade acabaram entrando e se identificando.” Nas diferentes cidades pela qual passou, também se deparou com características locais. “Em cada cidade que realizamos o evento, percebemos características diferentes. Em Curitiba, os destaques foram os autores urbanos contemporâneos. Em Salvador, tivemos uma presença do movimento negro muito forte. Em São Paulo, a poesia vem da periferia e no Rio de Janeiro, o forte são os pensamentos sobre a cidade de autores jovens, que tem um discurso do cotidiano”, comenta Ecio.

Ecio se surpreende com o fato do poder público ainda não ter tomado consciência da força da literatura como eixo para a realização de eventos. “As pessoas não levam fé na possibilidade de você discutir literatura na periferia. A gente acumulou uma experiência de travar diálogos com outros atores e em outros lugares do Brasil e entramos na agenda de eventos de São Paulo e Salvador. Pessoal de Curitiba quer vir ao Rio participar da Flupp em novembro. Esse acúmulo de diálogos foi o que nós trouxemos desse percurso”.

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