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Um brasileiro no time da Croácia

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Foto: Guilherme Junior

À véspera do chute inaugural da grande festa do futebol, a Vila Kennedy, assim como o resto da cidade, demonstra um entusiasmo ainda tímido pela competição. Em meio a famigerados enfeites em verde e branco, uma ruela, no entanto, chama a atenção ao exibir uma bandeira desconhecida pela maioria dos transeuntes. Na casa de dois andares de portão cinza, a flâmula destaca as cores vermelho, azul e branco. Ali vive dona Joelma Alves da Silva, mãe do estreante em Copa do Mundo Eduardo da Silva, membro do time titular da Croácia, que disputará amanhã, em São Paulo, o primeiro jogo do mundial contra o Brasil.

Ao entrar na sala da dona de casa, fica nítido para quem a família vai torcer na partida de estréia. “Como mãe, o primeiro jogo torcerei pela Croácia. Apesar da difícil missão, tenho que torcer contra o Brasil, pois meu filho estará representando o time europeu. Nos outros jogos, eu volto a torcer pelo meu país”, explica a mãe do jogador.

Foto: Guilherme JuniorJoelma exibe com orgulho revistas, álbuns de figurinhas, camisas dos clubes pelo qual passou o jogador e uma infinidade de fotos tiradas durante o período em que o brasileiro, naturalizado croata, viveu na Europa. “Com 10 anos, matriculei o Eduardo no Bangu. Ele reclamava que só vivia no banco. Não tinha como mostrar suas habilidades. Como ele teve destaque no campeonato de favelas, preferiu tentar a carreira na Europa e logo depois se naturalizou croata. Já está lá há 17 anos” conta dona Joelma.

Jovens da Vila Kennedy também sonham com carreira na Europa

Dudu, como é carinhosamente chamado pelos amigos, partiu para Croácia em busca de uma carreira promissora na Europa, apesar da vontade de servir a clubes brasileiros. “Com 16 anos, Eduardo participou do campeonato de favelas promovido pela CBF. Um olheiro gostou de seu desempenho e o levou para jogar nos times de base do Dínamo Zagreb, na Croácia” explica Bruno Alves, o irmão caçula.

Na escolinha de futebol Fábio Américo, em Vila Kennedy, a trajetória do atacante brasileiro é fonte de inspiração. “Eu amo vê-lo jogar” afirma Deivison Silva, 21 anos. “Espero que ele tenha um ótimo desempenho nessa Copa. Torço muito pelo seu sucesso” completa o jovem, frisando que tem como exemplo a humildade e simplicidade do jogador. Outro jovem da escolinha, Marlon Brando, 17 anos, comenta a decisão do seu ex-vizinho de bairro de se expatriar. “Já o vi muitas vezes. Ele fez bem em sair do Brasil. Foi um diferencial em sua carreira.”

Destaque na última Copa das Favelas, onde foi consagrado melhor jogador, Gabriel Silva Costa, 17 anos, tem traçado destino semelhante ao de Eduardo. O campeonato permitiu que o jovem chamasse a atenção de um empresário que o levou para fazer testes na Bulgária. Gabriel ficou lá por 2 meses, e só voltou para acompanhar a Copa; logo depois, voltará para a Europa para disputar os principais campeonatos da Bulgária. Para o jovem, a experiência está sendo muito boa. “O futebol na Europa é mais rápido. Estou mais astuto. Já sinto uma certa evolução quando jogo”, revela.

Gabriel teve a oportunidade de conhecer Eduardo quando ele jogava no Arsenal da Inglaterra, e o admira pela sua luta e força de vontade. Assim como ele, vislumbra um futuro nos gramados europeus. “Eduardo aproveitou um grande momento de sua vida. Teve que deixar o país e representar outro para crescer. Agora participará de uma Copa do Mundo. Esse também é meu sonho. Claro que quero representar o Brasil, mas se tiver que representar outro país, que mal tem?”

Foto: arquivo pessoal Foto: arquivo pessoal

Além de ter jogado pelo Dínamo da Croácia e pelo Arsenal da Inglaterra, Eduardo atualmente é jogador do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, cujo contrato termina no fim do mês de junho. Ainda sem destino definido, segundo Bruno, o atacante volta a viver no Rio até arranjar um novo time.

O irmão do jogador tem se desdobrado para conceder entrevistas, já que Eduardo passou seus primeiros dias no Brasil concentrado junto a sua equipe na Praia do Forte, litoral norte da Bahia. A todo momento, recebe jornalistas de diversos veículos de comunicação. Ele também é o responsável pela caravana de 15 familiares que vai assistir ao jogo de abertura na Arena de São Paulo. “Vamos fretar um ônibus, pois não há mais passagens aéreas. Estaremos lá no dia 12 dando apoio ao meu irmão. E esperamos que a Croácia encontre novamente com o Brasil na grande final.”

Enquanto o mundial não começa, Bruno posa com orgulho no terraço de casa tendo a Vila Kennedy como pano de fundo – Eduardo sempre que pode, volta a sua comunidade para rever a família e amigos. A camisa, metade croata, metade brasileira, foi personalizada por uma costureira. Ao lado, acompanhando as peripécias do caçula, Dona Joelma exalta o primogênito com orgulho. “Fico emocionada ao saber que meu filho é inspiração para tantos jovens da Vila Kennedy. Sua estrela brilhou e hoje é um vencedor” finaliza.

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