Atriz amadora e ativista: exemplo de vitalidade na maturidade
O casal Oscar Aparecido Fantinati e Elza Fantinati, moradores no Parque São Rafael há 52 anos, hoje, ambos aposentados só curtem a vida, mas com qualidade. Elza também é poeta, é atriz, participa de algumas peças; já deu oficinas de artesanato, tentou uns desenhos e umas pinturas, fez muito crochê e tricô, mas, principalmente, é uma senhora otimista animada e atuante. Tinha que ser destaque em nossas páginas.
Com seus 72 anos e o marido 71, Elza, também conhecida como Elzinha formam um casal que já completou 50 anos de união, com filhos criados e netos. Elzinha num determinado momento de sua vida, já com os filhos casados e lá pelos 48 decidiu voltar a estudar, completou o ensino médio, se relacionou de forma entusiasta com alunos muito mais jovens durante o supletivo e descobriu que podia fazer mais, muito mais.
Ainda durante o supletivo ela disse ter sido abordada por jovens de 18, 19 anos que buscavam retomar os estudos, mas que se lembraram de terem ganhado em suas mais tenras infâncias sapatinhos de crochê daquela mulher. Enturmou-se tão bem que experimentou algumas tentativas de fazer teatrinhos. Que depois viraram teatrão.
Vinte anos de costura, outros tantos em fábricas, mesmo porque ela trabalhou o tempo todo e acabou se envolvendo, se interessando e procurando se aperfeiçoar na arte do teatro que durante muito tempo era apenas uma brincadeira. Com o tempo e com o aprofundamento também desenvolveu uma capacidade maior de relacionamento e compreensão de uma série de coisas. Como ela mesma diz; das relações que estabeleceu e das peças que ensaiou e algumas que chegou a atuar, ganhou o gosto e o interesse em conhecer coisas novas e tornou-se então uma voraz leitora e uma estudiosa atenta; tanto da sua arte, como outros tipos de arte.
Leva e mantem consigo todo esse ânimo, essa garra, e compartilha o conhecimento acumulado. Da escola onde cursava o supletivo, partiu para um curso de teatro, ensaios e apresentação de peças através do Sesc, e nos tempos em que os centros educacionais unificados (Ceus) estavam mais ativos, atuou em vários trabalhos, alguns de forma destacada com competência e talento. Toda essa história retoma aos anos de 1998, portanto mais de quinze anos experimentando, atuando onde é convidada, pode e tem interesse.
Elzinha lembra-se do reconhecimento à qualidade do equipamento, ou seja, do teatro, feito pela atriz Gloria Menezes em ocasião de sua visita. Entretanto, tem consciência que, agora, com o passar do tempo, a utilização desses mesmos equipamentos estão muito aquém do que poderiam. Aparentemente a comunidade, incluindo os artistas, não se apropriaram desses equipamentos de forma intensa, mas isso pode ter a ver com ausência de incentivo do poder público. Para ela, que pegou interesse pela arte, uma coisa a se lamentar.
Elzinha começou concretamente a se expor no ofício fazendo dupla com outra animada senhora de nome Néa. A dupla de palhaças ficou conhecida como Pipoca e Palhaça, entretanto em outra peça ela se destacou interpretando uma cigana desbocada que falava em portunhol, o que levou Elzinha a estudar um pouco da língua espanhola. Também participou de forma amadora de peça baseada na obra de Guimarães Rosa, o livro Vidas Secas.
Ainda hoje, lá está ela no espaço mais ecumênico da Igreja Batista de São Mateus participando de um grupo de terceira idade com mais outras 60 pessoas que desenvolvem desde pequenas esquetes dramáticas, ensaios de canto, dança, enfim atividades lúdicas e, porque não dizer, terapêuticas entre si. O grupo ‘Vida e Maturidade’ sob a coordenação de Andreia e do Pastor Ramirez promove ainda viagens, almoços e lanches coletivos, tudo de forma muito bem organizada.
Enquanto isso, o marido acompanha e prestigia o futebol
Já o marido Oscar é diretor de alguns times, com destaque ao Unidos FC do Parque São Rafael e é uma espécie de zelador e dirigente que cuida das necessidades que são muitas do campo de futebol usado pelo clube. Reclama da dificuldade de se conseguir apoio institucional até mesmo para pequenas demandas para a manutenção do campo. Também exerce uma liderança local participando tanto quanto possível e a idade permitam das ações coletivas das comunidades em que vivem.
Voltando a cena, Elzinha diz que…..
Se fosse solicitada à aconselhar as mulheres da sua idade a também ter uma vida produtiva e atuante, diria que elas devem tentar focar basicamente no que gostam. De preferência com alguma atividade de natureza coletiva que possa beneficiar direta ou indiretamente a sociedade. Parece insinuar que a terceira idade ainda pode ser muito produtiva se deixar de focar apenas e tão somente em suas próprias famílias. E o exemplo de vida dela dá certa razão a essa insinuação.
Com relação à poesia, ela despertou um gosto maior quando leu “Recomeço”, de Carlos Drummond de Andrade cuja temática é exatamente o que o nome diz e indica: recomeçar as coisas, que sempre há tempo para coisas novas, etc. “Quando voltei para a escola e fui estudando a minha vida foi tomando um rumo diferente, mais rico. Até as dores da idade são relativas e vão embora quando você tem boas tarefas e coisas interessantes para fazer”, diz. ‘E uma renovação, de preferência para melhor. “A leitura faz você aprender, viajar; a conhecer as coisas, a se inquietar”, enfatiza.
Seu Oscar, mesmo com menor intensidade foi na mesma direção, tanto assim que destaca que na escolinha de esportes que funciona no espaço do campo, eles não descuidam de oferecer reforço escolar e um pouco mais de cultura as crianças. De novo lamenta, e ai secundado pela esposa, o desinteresse dos próprios pais ou responsáveis pelas crianças. O fato é que o casal lamenta como as coisas estão nos dias de hoje, principalmente, na falta de educação elementar das crianças “deixadas ao Deus dará” pelos próprios pais que parecem não perceber a gravidade e o prejuízo futuro com essa omissão.
Se ainda parece pouco o casal. O que acha, então, o leitor, o fato de que no processo do seu próprio crescimento como ser humano, Elzinha, depois dos 48 anos, ainda ter estudado violão, inglês e espanhol, teclado, computação? “Sempre um pouco de cada coisa, mas que abriu um mundo cada vez mais completo e complexo”, diz ela, que ainda indicou que o respeito, a tolerância e o compromisso com o outro é que tornam possível se viver bem, tanto tempo, como casal. As brigas sempre procuraram ser evitadas e quando não puderam deram tempo ao tempo para cada um se desarmar e buscar a harmonia.
Mas, se ainda é pouco ainda será possível encontrar o ‘seu’ Oscar pelo clube e a Elzinha encenando algum novo papel ou em ação naquela parte da comunidade do Parque São Rafael. Portanto, a Gazeta parabeniza o casal que não se cansa de fazer o bem, enquanto Elzinha nos brinda com um de seus poemas.
Paixão de um poeta
Como a natureza é bela / foi nosso Deus que a criou / cada coisa em seu lugar com a maior perfeição / para que os homens aprendam essa organização / mas, não é isto que fazem / tudo que querem é destruição / destroem as matas, poluem os rios / e se destroem / pouco interessa / o que interessa é a fama e riqueza / esqueceram que dependemos de Deus e da natureza / esqueceram que Deus criou tudo para a nossa proteção / por isso merece respeito, nossa admiração / mas o avarento só pensa em dinheiro e o resto é piada / esquece que sem a natureza a vida não vale nada / mas sou apaixonada pela vida / não quero ficar para trás / acho errado o que fazem e nisso tenho razão / pois sou apaixonada pela obra da criação.