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Vila Kennedy vive sem cobertura celular

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Foto: Amaury Alves

“O número que você ligou está fora da área ou desligado”. Esta é a fatídica gravação que se ouve quase todas as vezes que se tenta entrar em contato com algum morador da Vila Kennedy, mais especificamente os da localidade Conjunto Quafá. As causas desta falha na rede de cobertura celular não são claras: há quem as atribua à topografia do local, ou à presença do presídio de segurança máxima vizinho. Em todo caso, a situação é tão comum que quem mora no bairro costuma fazer malabarismos para alcançar o sinal de alguma operadora, e poder se comunicar.

O cabeleireiro William Braga é um destes. Quando precisa dar um telefonema, sobe na laje de sua casa e se posiciona em um lugar estratégico. Segundo ele, o canto do muro é onde há mais probabilidade de conseguir completar uma ligação. “Subir na laje é o jeito mais garantido de fazer a ligação. Mesmo assim, eu ainda tenho que ter um pouco de sorte. Nas áreas comuns da casa eu nem tento, o sinal é zero”, reclama.

Bloqueadores invertidos

De acordo com os moradores, o descontentamento com o serviço de telefonia celular não é de ontem: a cobertura nunca funcionou corretamente na região. A precariedade do serviço é atribuída principalmente às antenas bloqueadoras de celular que ficam dentro do Complexo Penitenciário do Gericinó, que se encontra nos limites do bairro. Braga é um dos que acreditam na teoria. “Eu acho que as antenas bloqueadoras operam no sentido contrário, apenas potencializando o sinal para os presos, porque lá dentro todo mundo consegue falar”, ironiza.

Foto: Vitor MadeiraA Secretaria de Administração Penitenciária (SEAP) confirma que duas unidades dentro do Complexo, a Penitenciária Laércio da Costa Pelegrino (Bangu I) e a Cadeia Pública Bandeira Stampa, possuem antenas bloqueadoras, mas que estas “funcionam apenas dentro das mesmas”, descartando que possam afetar a vida dos moradores do entorno.

A esposa de um detento que está sob custódia na unidade de segurança máxima Bangu I, que não quis se identificar, afirmou, no entanto, que se comunica com o marido sem grandes interferências. “A gente se fala todos os dias, pelo telefone ou pela internet. Ele tem até perfil nas redes sociais. Não tenho problema de comunicação com ele”, garante.

Consultadas, as maiores operadoras em funcionamento no Rio (Claro, Vivo, Tim e Oi) afirmaram que há cobertura no local e que as antenas funcionam normalmente. Todas garantem ainda que pretendem expandir a rede para atender melhor aos usuários. Apenas o representante da Tim esclareceu que há fatores que podem dificultar o pleno funcionamento do serviço de telefonia móvel, como “condições meteorológicas, geografia do local (montanhas, antenas e construções ao redor) e distância da antena mais próxima, por exemplo”.

Tecnologia 3G inútil

Enquanto o imbróglio não se resolve, os moradores da Vila Kennedy têm que recorrer ao telefone fixo para se comunicar, na contramão dos hábitos desenvolvidos no resto do país. Dados do IBGE divulgados em 2013 apontam que o número de usuários de telefonia móvel quase triplicou entre 2006 e 2012, passando de 100 para 262 milhões. No mesmo período, o número de usuários de telefone fixo cresceu apenas de 14%, chegando a 44 milhões. A pesquisa mostra ainda que 54% dos moradores de favelas brasileiras possuem somente celulares.

Sinal dessas novas tendências, Braga tem um smartphone, mas reconhece que a alta tecnologia do seu aparelho celular é inútil na localidade onde vive. “O 3G também não funciona, então a gente fica refém da telefonia a cabo e o fenômeno do wi-fi é mais ou menos recente e ainda não chega a todos os lugares”, explica.

Foto: Vitor MadeiraNem mesmo Fabiana Vilella, dona de um comércio que vende chips e acessórios de celular, consegue fugir do problema. “Não funciona mesmo. Uso dois chips de operadoras diferentes e nem assim. Para falar, é sempre uma dificuldade achar uma área onde esteja pegando”.

A sensação dos entrevistados é de que Vila Kennedy se encontra num buraco negro da telefonia móvel. “Parece que vivemos no vácuo”, resume Braga.

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