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Funk aguarda legislação sobre bailes

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Fotos: Guilherme Junior Domingo 24 de novembro, amantes dos antigos bailes funk do Rio de Janeiro tiveram a oportunidade de ouvir vozes caladas faz tempo. Naquela tarde chuvosa, a Praça da Apoteose, reduto das escolas de samba, foi tomada pelos “bondes”, DJs, e MCs que se apresentaram para uma multidão. Tratava-se da terceira edição do Rio Parada Funk, evento criado para fortalecer os alicerces culturais de um dos ritmos mais adorados e odiados do Brasil.

 O “batidão”, todavia, já não desencadeia debates tão virulentos quanto nos anos 1990. Desde a implantação das UPPs em diversas comunidades da capital fluminense, os bailes que antes eram redutos de traficantes de drogas, com músicas e danças com forte apelo sexual, começaram a desaparecer. Há quem diga que o funk se elitizou. Chegou às novelas e programas de auditório dos principais canais de TV, fez sucesso no asfalto. E a controversa resolução 013, que deu ao comandante da UPP o poder de vetar qualquer evento cultural sem aviso prévio, contribuiu para silenciar o gênero musical nas favelas onde foi criado. Enquanto o ritmo se expande e conquista públicos de diversas classes sociais, os profissionais do funk permanecem no aguardo de uma legislação que os permita retomar suas atividades.
 A Resolução 013 continua vigorando
 Em agosto de 2013, o governador do Rio de Janeiro pareceu até dar um sinal de abertura, quando anunciou, em entrevista ao jornal comunitário Voz da Comunidade, a revogação da resolução 013. Mas para o técnico de informática Cid Jorge, articulador cultural e organizador de bailes no Morro da Providência, pouca coisa mudou desde então. “Depois das manifestações contra a corrupção que aconteceram na cidade, aí sim o Beltrame, o prefeito Eduardo Paes e Cabral resolveram liberar os bailes na comunidade. Foi uma espécie de ‘cala boca’ para enganar a população que se contenta com qualquer coisa”, reclamou.
 Contactada, a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança do Estado confirmou que a resolução 013, na ausência de outra regulamentação, continua vigorando. Uma comissão criada pela Secretaria de Segurança envolvendo as polícias militar e civil, o corpo de bombeiros e representantes da sociedade civil, como produtores culturais e moradores das comunidades pacificadas, foi encarregada de criar a já batizada resolução 014. Embora esta já esteja concluída, ainda não existe previsão para sua entrada em vigor, segundo informou a assessoria do órgão.
Para MC Leonardo, fundador da APAFUNK (Associação dos Profissionais e Amigos do Funk), a resolução 013, que teoricamente abrange qualquer manifestação cultural, acabou marginalizando especificamente o funk. Durante a II Conferência Funk do Rio de Janeiro, que aconteceu dia 18 de novembro, o MC levantou que o gênero sofre perseguição por ser considerado uma manifestação transgressora, e questionou a falta de apoio das autoridades para esta cultura popular de fato. “Na TV podemos até ouvir uma ou duas músicas de funk, entretanto, no mercado não há espaço para CDs de MCs. Por que o Estado e o Município liberam verba para o Rock In Rio e o Cirque du Soleil e não liberam pra gente? E os jovens do Cantagalo, você acha que eles se divertem em boates de Ipanema e Copacabana onde a favela está localizada?”. Por detrás desta discriminação, é todo um setor econômico que sofre. “Já estive com Beltrame e com o governador. O discurso é sempre o mesmo: ‘estamos cuidando disso’. Enquanto isso, tem 25 mil pessoas querendo trabalhar”, desabafa Léo.
Baile do asfalto, nova vertente do funk?
Ângela Rodrigues, moradora da Rocinha, fez questão de levar sua filha Íris para assistir aos dançarinos do Baile do Passinho que aconteceu na favela, dia 16 de novembro. Com uma linguagem voltada para o público infanto-juvenil, a festa patrocinada por uma marca de refrigerantes não oferecia bebidas alcoólicas e o repertório dos DJs era composto de músicas leves, bem diferentes das que eram ouvidas nos
antigos bailes da Curva do S, no alto do morro, antes da UPP inaugurada em 2012. Apesar de gratuito, era necessário fazer um cadastro pela internet para  participar.
 “Eu gosto muito do passinho. Eu freqüentava bailes quando era mais jovem. Gosto muito da batida. Hoje, como sabia que era um evento pra família, resolvi  trazer minha filha e oferecer a ela a oportunidade de assistir e julgar se é legal ou não”, diz Ângela. Perguntada sobre a proibição dos bailes, a dona de casa  preferiu se esquivar, mas confessa que tem dormido com mais tranquilidade depois das proibições.
 O produtor Cid Jorge reconhece que promover bailes a céu aberto é complicado. Segundo ele, alguns colegas do ramo não têm noção do quanto o volume do  som pode incomodar. “Eles querem colocar o som nas alturas para chamar a atenção do público e não pensam na população que quer descansar”.
Já nas casas fechadas, os novos expoentes do chamado “funk do asfalto” – Anitta, MC Coringa, Naldo Benny – fazem sucesso. Eu Amo Baile Funk, Baile da Favorita ou Baile do Bené são alguns destes eventos promovidos em boates, com entrada de até R$ 120,00. Cid Jorge vê esse novo baile com pesar. “As casas noturnas estão elitizando o funk porque os empresários e donos de equipes de som querem que esse estilo estoure nas pistas. Visam somente o lucro. Eles fecham com os donos de boates contratando MCs com baixos cachês e ainda colocam o preço dos ingressos nas alturas. É muita falta de bom senso.”
A data para o lançamento da Resolução 014 ainda não foi divulgada. Resta saber se o gênero oriundo das comunidades do Rio voltará a tocar em seu verdadeiro espaço ou precisará tomar novos rumos para continuar a ser aceito no asfalto. O público que lotou a Praça da Apoteose para acompanhar o Rio Parada Funk mesmo de baixo de chuva aguardará ansioso pela resposta das autoridades.

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