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Pesquisa revela o retrato do crack

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Fotos: Fernando MascoteHomem, jovem e não-branco: além de ser o perfil mais comum entre os presos ou entre os mortos por armas de fogo no Brasil, são essas as características mais comuns entre usuários de crack no país. Esses e outros dados fazem parte da pesquisa “Perfil dos usuários de crack e/ou similares no Brasil”, da Fiocruz, revelada em setembro.

Anunciada como a maior sobre o assunto já feita no mundo, a consulta traz dados que surpreendem o senso comum, como a constatação de que a maior parte dos usuários está no Nordeste, e não no Sudeste, e que o preço baixo da droga não é decisivo para que seja experimentada.

Outros dados, no entanto, são triviais. Pessoas expostas a baixo desenvolvimento social compõem a maior parte dos usuários da droga. No país, apenas dois em cada dez usuários concluíram o ensino médio – a maioria (55%) tem escolaridade do 4º ao 8º ano. A obtenção de renda também não é regular: apenas 4,2% dessas pessoas trabalhadores com carteira assinada. A maior parte dos usuários da droga (65%) obtém renda através de trabalhos esporádicos ou autônomos e uma minoria no tráfico de drogas (6,4%), em furtos (9%) e na prostituição (7,5%).

Dos 370 mil usuários que se estima existirem nas capitais brasileiras, 150 mil (40%) estão nas capitais do Nordeste. Para o secretário nacional de Políticas sobre Drogas, do ministério da Justiça, Vitore Maximiano, este fato está relacionado com questões sociais. “No Nordeste, acreditamos que seja em razão do próprio IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais baixo, quando equiparado nacionalmente”, afirmou em entrevista à Agência Brasil. Apesar de em números absolutos ter 40% de todos os usuários de crack das capitais, o Nordeste perde para o Sul em números absolutos.

Perdas e influências

Um dos ex-dependentes em tratamento na Casa Viva, que acolhe menores viciados em drogas, tem 17 anos e diz ter começado a usar crack e maconha com 12 anos, segundo diz, por influência dos amigos. Outro adolescente, de 15 anos, também em tratamento, atribui à mesma causa sua entrada na droga, ainda que estimulada também pelo fim de um namoro.

Apesar de não ser a maioria dos casos, a pressão de amigos foi relatada por 26,7% dos pesquisados como causa determinante da  iniciação com a droga, enquanto 29,2% apontaram problemas familiares ou perdas afetivas como a razão. O motivo apontado por mais da metade dos usuários foi a curiosidade em torno dos efeitos da droga.

Há um mês, um menino de 16 anos iniciou tratamento na Casa Viva de Bonsucesso. Ele atribui o uso de crack, cocaína, loló, tabaco e maconha à influência de parentes, que também eram usuários. Experiência com outras substâncias por usuários de crack é muito comum: 92,1% deles usam tabaco, 83,8% álcool, 76,1% maconha/haxixe e 52,2% cocaína. Os três meninos aqui retratados reproduziram outra tendência entre os usuários de crack: eles passavam a maior parte do tempo na rua, o que é característica de 40% destas pessoas.

Reforma na família

Dois dos meninos entrevistados relataram o quanto o sofrimento da família os motivou a procurar ajuda. “Minha mãe estava muito magra. Ela ia direto para a rua me procurar e eu roubava coisas de casa”, contou um dos jovens. O outro disse que só via a mãe chorando, quando ele estava em casa. “Não dá para fazer nada, nem trabalhar, nem passear, pois a todo tempo a gente tinha que ficar procurando ele na rua quando fugia”, conta a mãe dele.

De acordo com Dina Caldas, coordenadora regional do movimento Amor Exigente, que auxilia famílias de dependentes químicos em diversos países, a família tem um papel muito importante na recuperação do viciado. “É preciso ter união da família e se não houver mudança na estrutura familiar, provavelmente, a retomada da sobriedade será muito mais difícil. Cada membro da família precisa rever seu papel, assumindo responsabilidade pelo que faz. A cobrança vale para todos”, diz.

Dina ressalta que é preciso acabar com o paradigma que relaciona a droga às famílias pobres. De acordo com ela, os males da dependência não escolhem cor, local ou classe social. A maioria dos ouvidos na pesquisa, porém, tem origem em famílias de baixa renda. Cléo Moraes, coordenador da Casa Viva de Bonsucesso, destaca que fatores como personalidade e outras variáveis também podem influenciar na dependência química. Ele admite, no entanto, que uma boa parte dos menores tratados na instituição tem algum tipo de desestruturação familiar e social, como o assassinato de parentes, o envolvimento com o tráfico e a moradia precária ou em situações irregulares.

Os menores de idade compõem 14% dos usuários de crack, o que totaliza 50 mil pessoas nas capitais brasileiras. No entanto, a faixa de 16 a 24 anos é a que soma a maior parte dos usuários (30%). Além da baixa idade e do envolvimento com a droga, os entrevistados pelo Viva Favela têm mais coisas em comum: os três descartam a volta às drogas e torcem por uma vida que inclua emprego e família.

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