Single Blog Title

This is a single blog caption

Vitor Dumas sofre com transporte precário

Share on Facebook0Tweet about this on Twitter

Fotos: Roberta Machado

“Péssima”. Esta foi a resposta de quase todos os entrevistados pelo Viva Favela quando perguntados sobre a qualidade do transporte em Vitor Dumas, localidade de Santa Cruz. O lugar, que envolve as cercanias da Estrada Vitor Dumas, só conta com uma linha de ônibus, o 892 (São Benedito – Santa Cruz via Matadouro), cuja frota é composta por dois veículos. Moradores se queixam da demora, da falta de ônibus de madrugada e do serviço escasso nos finais de semana.

As kombis acabam sendo a alternativa para quem mora ali. Estas, no entanto, também são alvo de críticas. “Andam como tartarugas, a 20km/h. Como o ônibus quase não aparece, podemos dizer que praticamente não temos transporte aqui em Vitor Dumas”, reclama a vigilante Patrícia Figueiredo, que paga R$100 para uma condução particular levar sua filha à creche, ali mesmo em Santa Cruz. Ela diz não poder contar com o transporte público.

As más condições dos veículos de transporte alternativo também são apontadas pela manicure Márcia Santos, que diz já ter sido arranhada por uma porta que estava caindo do carro. Márcia ainda lembra que as kombis custam R$2,50 e não aceitam Bilhete Único, o que encarece os custos de locomoção. Além do mais, tanto o transporte alternativo quanto a linha 892, da viação Algarve, circulam somente dentro de Santa Cruz, tornando quase sempre necessária outra condução para quem segue além do bairro.

Usuários preferem andar

Falete Pinto é enfermeira e trabalha em Cesarão, outra localidade de Santa Cruz. A distância entre sua casa e seu trabalho é de aproximadamente 4km. Quando cansa de esperar pelas conduções de Victor Dumas, Falete caminha 1,5km até a Avenida Areia Branca, onde passam mais linhas de ônibus para o centro de Santa Cruz. De lá, ela pega outro ônibus para o Cesarão. A enfermeira diz já ter pensado em se mudar de Vitor Dumas por conta da precariedade no transporte, mas ficou pela união e amizade dos moradores dali.

A caminhada até a Avenida Areia Branca acaba sendo a opção de muitos moradores do bairro. O eletricista Sérgio Cordeiro brinca com a situação: “as vans e o ônibus andam lentamente para pegar mais passageiros. Se a competição fosse quem anda mais rápido, seria melhor. É melhor ir andando”.

A Viação Algarve e a Secretaria Municipal de Transportes dizem não ter conhecimento deste tipo de queixa. A secretaria afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que fiscaliza freqüentemente os ônibus da cidade, inclusive com sistema de GPS. Ela reforça a necessidade que os usuários façam reclamações à Central de Teleatendimento da Prefeitura, o 1746, para que mudanças ocorram. Desde janeiro, o portal só recebeu oito reclamações referentes à linha 892, número considerado baixo.

Quanto ao horário de funcionamento da linha, a Prefeitura e a Algarve dão informações diferentes. A Secretaria Municipal de Transportes afirma que o edital de licitação da linha determina serviço noturno no período de 23h às 5h. Entretanto, a Algarve informou ao Viva Favela que os ônibus funcionam de 4h10 às 20h40, com freqüência de 20 minutos.
Ambas instituições, no entanto, garantem que buscam oferecer um serviço cada vez melhor à população.

A Secretaria Municipal de Transportes afirmou que vai avaliar a necessidade de aumento da frota em Vitor Dumas. Se o órgão escutar a demanda dos moradores, vai ouvir de muitos o desejo por uma linha que vá para Campo Grande. É o caso de Gerssi Pinheiro, membro da Associação de Moradores do Vale do Sal, que inclui Vitor Dumas. De acordo com Pinheiro, a primeira e única linha que passa por ali foi conquistada somente em 2009, por moradores e suas lideranças. Trata-se da antiga linha 889, atual 892.

A antiga 889, segundo Pinheiro, tinha quatro veículos. Com a transição para a 892, o número de carros foi diminuindo porque os ônibus não ficavam lotados. Ainda de acordo com ele, isto acontecia porque as kombis eram mais baratas e passavam com maior regularidade. Pinheiro acredita que hoje, com a chegada do Bilhete Único, mais pessoas usariam o transporte regular e que uma linha para Campo Grande certamente não ficaria vazia.

A atuação da viação Algarve, que administra a linha 892, já foi reprovada pelo Procon. Ela foi uma das empresas de ônibus punidas pela Operação Roleta Russa em junho deste ano. Após denúncias de usuários à central 151 do órgão, e da visita surpresa de fiscais à garagem da empresa, 140 veículos ficaram lacrados até serem regularizados. Funcionários do Procon encontraram pneus carecas, peças quebradas e documentação atrasada.

Mobilidade é apenas uma das carências do local

Ao receber a reportagem, Falete não cansava de enumerar os problemas no bairro. “Aqui é carente de tudo”, afirmou. Gerssi Pinheiro cita algumas necessidades: saneamento, pavimentação, área de lazer, controle de velocidade dos carros, creches, etc.

De fato, uma caminhada pelo bairro é suficiente para revelar estas carências ao visitante. Valões de esgoto correm entre as casas e em terrenos baldios, enquanto bolsões de água em vias sem pavimentação, como na Rua das Flores, dificultam a passagem de veículos e pedestres. Onde as ruas são asfaltadas, carros e motos circulam a uma velocidade ameaçadora para os pedestres, sem que haja calçadas para protegê-los. Falete, que já foi enfermeira de um posto de saúde por ali, afirma que já viu muitos pacientes acidentados em Vitor Dumas.

As carências do local comprovam o baixo desenvolvimento social de Santa Cruz, se comparado aos dados do município em geral. Em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano do bairro ficou na 119ª colocação dentre os 126 bairros da cidade: apresentou 0,742, considerado médio desenvolvimento. Além disso, no mesmo ano, foi constatado pelo Instituto Pereira Passos que a esperança de vida na Região Administrativa de Santa Cruz (Santa Cruz, Sepetiba e Guaratiba) era de 66 anos, contra 70,2 anos no município, e que a média de anos de estudo era menor (5,1 anos) que a média da cidade (6,8).

Deixe uma resposta

Parceiros