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Filme traz visão da Providência sobre remoções

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As remoções de casas no morro da Providência por causa das obras do PAC chegaram à telona, com o documentário “Casas Marcadas”, de um grupo de alunos de uma oficina do Recine, o Festival Internacional de Cinema de Arquivo, promovido pelo Arquivo Nacional, e acabou ganhando uma Menção Honrosa na mostra. O filme tem 10 minutos e, segundo um de seus produtores o engenheiro civil Carlos R. Moreira, o Beto, também tem lado: “A ideia era dar visibilidade ao problema e contribuir com a comunidade. Optamos por dar voz aos moradores porque a grande mídia não (lhes) dá este espaço. Esse filme tem lado, o governo já tem muito espaço para falar.”

O engenheiro Beto se assustou com as casas marcadas pela SMH. (Foto: Tamiris Barcellos)

O engenheiro Beto se assustou com as casas marcadas pela SMH. (Foto: Tamiris Barcellos)

Beto escolheu seu lado na primeira visita que fez à Providência, num debate em que ficou muito espantado com as casas marcadas com as iniciais da secretaria Municipal de Habitação. Era a indicação de que seriam demolidas pela Prefeitura. “Foi muito impactante chegar lá e ver as marcações. Como disse um dos entrevistados, parecia o que fazem com os bichos no Nordeste”, conta o engenheiro, que visitou a favela com a turma de um curso de extensão da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Do espanto nasceu o documentário, ideia logo aceita por seu grupo, que marcou uma visita de reconhecimento ao local. O fotógrafo Maurício Hora, nascido e criado na favela, que levara Beto na primeira visita, serviu mais uma vez de guia e foi quem facilitou o contato com os moradores, a princípio arredios. Foram horas de pesquisas, algumas visitas à comunidade, muita conversa com moradores e várias histórias, até que se decidisse pelo formato do filme. “Casas Marcadas” teria 40% de seus 10 minutos com imagens antigas, para atender à exigência do Recine sobre o uso de material de arquivo.

Debruçaram-se então sobre imagens históricas cedidas pelo Arquivo Nacional e optaram por estabelecer uma ligação entre as remoções atuais e o Bota Abaixo de Pereira Passos, no início do século XX. “A linha de urbanismo é igual a de Pereira Passos, porém, na época, estava sendo implantada uma rede de saneamento básico. Hoje é mais perverso porque é por pura estética e não por necessidade”, opina o fotógrafo Maurício Hora, um dos moradores ouvidos no filme.

Documentário ganha fanpage

A primeira exibição do documentário, que teve orçamento zero, foi em dezembro de 2012, quando recebeu uma Menção Honrosa no Festival Recine. Após seu lançamento, o filme foi exibido nos Sindicatos dos Engenheiros e dos Arquitetos, na Vila Olímpica da Gamboa, no telão do projeto Cinemão, na Praça do Conhecimento no Complexo do Alemão, na Baixada Fluminense, na Praça da Cantareira em Niterói e na TVs Cidade Livre de Brasília e Taubaté. Em quase todas as exibições, moradores da Providência estão presentes para o debate sobre remoções nas favelas do Rio de Janeiro.

Em janeiro, “Casas Marcadas” foi oferecido no Youtube e atingiu, no primeiro dia, mais de mil visualizações. Hoje, já soma mais de 10.700. O filme, que acaba de ser selecionado para participar, em agosto, no Rio, do Festival Visões Periféricas, continuou a repercutir com a criação de uma fanpage no Facebook, por onde chegou a sugestão de que fosse legendado para poder ser entendido em outros países. Sugestão atendida, o documentário foi exibido em seminário sobre urbanismo, nos EUA, e em festivais, em Singapura e na França, quando o tema remoções foi discutido.

O maior problema das remoções, segundo Maurício, é afastar os moradores da favela onde viviam. Ele diz que a prefeitura prometeu erguer moradias no morro e no entorno para os que tiveram suas casas marcadas, mas nenhuma unidade foi construída. “Tirar essas pessoas da favela é ruim porque acaba com a identidade da comunidade. Além disso, as alternativas que o governo apresenta afastam os removidos de seus amigos, parentes e trabalho”, reclama.

O fotógrafo também avalia a construção do plano inclinado vai beneficiar apenas 20% da população local, o que seria prova de que, na instalação do sistema, não está sendo considerado o interesse dos moradores. Para ele a ideia do documentário é louvável, porque apresentou bem a situação da favela e deu visibilidade ao problema. Mas concretamente pouco contribuiu na luta contra as remoções.

 

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