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Teleférico ainda é alvo de polêmica

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Fotos: Rodrigues MouraMais de dois anos após a inauguração do teleférico do Complexo do Alemão, inspirado no modelo da Colômbia, o meio de transporte ainda gera polêmica. O morro da Providência, também no Rio de Janeiro, será a segunda favela brasileira a receber o sistema de transporte de massa por cabo. Sua inauguração está prestes a acontecer, embora a central de atendimento da prefeitura não saiba informar o que falta para isso. Na Rocinha, próxima favela cotada pela prefeitura para receber o teleférico, grande parte dos moradores luta para que isso não aconteça. Eles são a favor da continuação das obras inacabadas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 1 e de uma rede de saneamento básico que atenda toda a comunidade.

As opiniões sobre novo tipo de transporte divergem, e não raro ouve-se relatos de vantagens e desvantagens por parte de um mesmo usuário.Para a moradora do Itararé Maria Dolores, a construção do teleférico do Complexo do Alemão foi muito boa. Antigamente, ela descia a pé ou de van para ir ao trabalho. Hoje em dia, usa o transporte diariamente, gastando apenas 16 minutos para ir de uma extremidade a outra do Complexo, passando por seis estações. “Para mim, melhorou muito. Acho que facilitou a vida de muitos”, comemora, mas logo em seguida acrescenta que “outros têm medo”.

Dolores considera um privilégio para o Complexo do Alemão ter recebido o teleférico, e acredita que outras favelas também deveriam receber o modal. A moradora lembra, porém, que ao optar pelo meio, o governo realizou muitas remoções e deixou de investir em outras prioridades. Para ela, uma das grandes carências do topo da favela é a falta de lazer, principalmente para as crianças. Segundo a moradora, a falta de médicos nos postos de saúde também é grande.Outra desvantagem citada por ela é que os turistas vêm conhecer o teleférico e a sua vista, e não a favela em si.

Uma das grandes vantagens do modelo do Alemão é que a estação do teleférico de Bonsucesso faz integração com o trem. Severina Silva, moradora da favela, trabalha em Niterói e usa o sistema com a integração todos os dias. Já Barbosa da Silva, que mora bem ao lado da estação Itararé,diz que prefere usar a Kombi, pois morre de medo de se locomover por um cabo de aço.Ele contou que sua casa chegou a ser marcada para ser removida, mas que por algum motivo conseguiu ficar e acompanhar bem de perto as obras. Para ele, apesar do medo, o teleférico é algo maravilhoso. “Ninguém nunca pensou em fazer uma coisa dessas aqui, todo mundo usa”, comenta.

Segundo Raul Lisboa, analista técnico da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e especialista em planejamento de transporte, o modelo mais eficiente para as favelas é o que se dá através da participação ativa da comunidade no desenvolvimento do projeto. Participação que infelizmente não tem acontecido, a julgar pelo caso da Rocinha, onde moradores estão lutando há meses para serem ouvidos pelo governo.Eles preferem que o investimento destinado ao teleférico seja usado em saneamento básico, e reclamam constantemente da falta de diálogo sobre o projeto que está sendo elaborado pelo governo e que ainda não tem previsão para o início da obra.

Para Lisboa, as vantagens do meio de transporte são o conforto, a rapidez e o fato dele não ser poluente. Já entre as desvantagens, ele destaca que o transporte não atende bem à população residente nas partes baixas da comunidade e distantes das estações do teleférico. Outra desvantagem é o fato do meio não realizar transporte de carga pesada, volumes de maior porte, material de construção, entulho e lixo, não facilitando a vida dos moradores. Por fim, ele lembra a questão da visitação turística, que representa perda de privacidade para os habitantes. “Com as gôndolas sobre suas casas, os moradores viram alvo da curiosidade de estranhos”, ressalta.

Teleférico do Alemão atende menos da metade do esperado

O primeiro teleférico a virar cartão postal de uma favela no Brasil, o do Complexo do Alemão, foi construído com recursos do PAC e em parceria com os governos federal e estadual ao custo de R$210 milhões. Ele atingiu, no mês passado, a marca de sete milhões de passageiros transportados. Segundo a Supervia, que é a empresa responsável pela administração do teleférico (controlada pela Odebrecht TransPort), há, hoje, 20 mil moradores cadastrados (28,5% da população local) e apenas 12 mil pessoas utilizam o meio diariamente.

De acordo com o Censo Demográfico de 2010, há aproximadamente 70 mil residentes no Complexo do Alemão. O número de moradores que utiliza o transporte representa, então, 17% da população local, mostrando que os outros 83% utilizam outros meios de transporte. Para a Supervia, a tendência é que com o tempo o número de usuários aumente como tem acontecido desde a sua inauguração, em julho de 2011, quando registrava-se cinco mil usuários por dia.

A previsão inicial do governo foi de que o teleférico seria usado por 30 mil pessoas por dia, o que corresponde a sua capacidade máxima. São possíveis três mil embarques por hora, contando com oito passageiros em cada uma das 152 gôndolas. Portanto, o uso do teleférico do Alemão não atingiu nem a metade de sua capacidade máxima.Mas, mesmo se tivesse atingido, e ainda que fosse usado apenas por moradores e não por turistas, estaria atendendo a menos da metade da população local. O dado gera suspeitas quanto à real motivação do estado com o projeto: se foi para atender aos habitantes do Complexo ou para se tornar uma nova atração turística.

Como forma de beneficiar os moradores da favela, os que se cadastrarem tem direito a duas passagens diárias gratuitas pelos 3,5 quilômetros de extensão do teleférico. A partir da 3ª passagem, pagam R$1,00, assim como visitantes que utilizam Bilhete Único, Vale-Transporte ou Cartão Expresso. Aos que adquirem a passagem diretamente na bilheteria, o valor sobre para R$5,00.

O Teleférico funciona de segunda a sexta-feira, das 6h às 21h, e nos sábados, domingos e feriados, das 8h às 20h. Nos dias úteis, 70% dos passageiros são moradores e aos finais de semana, 30%. Os não moradores representam turistas, trabalhadores ou visitantes de famílias que residem no Complexo. Para se cadastrar, basta que o morador vá a um posto da Riocard com CPF e comprovante de residência. A partir do ano que vem, o cadastro será feito uma vez por mês, exclusivamente na estação Bonsucesso.

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