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Dança preconceito, dança

Pensar em grupos de dança ao estilo LGBT é lembrar do Village People mandando seus hits YMCA e Macho Man, é recordar as cenas do filme Priscila, a rainha do deserto. Aqui pertinho, o que logo vem à mente é a coreografia da dançarina Lacraia para a Éguinha Pocotó (MC Serginho) e o Quadradinho de Oito do Bonde das Bonecas (de Brás de Pina).

Um novo grupo de dança tem feito sucesso na favela de Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. É o Urban Style, criado há aproximadamente um ano, a partir do projeto Atitude Social, da prefeitura da cidade. O grupo tem 20 integrantes, dos quais 15 fixos, entre homens e mulheres, e o dançarino JP Black é o coreógrafo.

Os membros do grupo são jovens e moradores da Vila Cruzeiro e sua ideia principal é combater a homofobia através da dança. Os dançarinos, homossexuais, afirmam sua sexualidade sem medo com a arte e as peças de roupas femininas, como blusas curtas, shorts jeans curtos e meia calça preta ou vermelha.

O figurino é planejado de acordo com a música que será apresentada no dia. A confecção é toda dos próprios integrantes, que compram as peças em brechós e depois customizam. Apesar do estilo de dança incluir hip-hop, street dance e Ragga, roupas mais folgadas e calças não são cogitadas. A ideia é usar roupas apertadas e curtas, características do funk, que o Urban também coreografa, como as músicas do “Show das Poderosas” (da cantora Anitta).

Para o grupo, a dança é vista como uma oportunidade de extravasar e quebrar paradigmas de gênero. Não há diferenças entre homens e mulheres no palco. Todos viram “elas” e dançam até o chão com movimentos flexíveis e despojados. Longe dos holofotes, ao contrário, a diferenciação de papeis existe (é só no palco que eles se vestem de elas). “No dia-a-dia não me visto assim porque tenho medo de constranger as pessoas, mas na dança é permitido extravasar”, diz Bruno Santos, 23 anos, integrante do Urban Style e um dos responsáveis pelo figurino.

Gabriel Godin e Yke Oyile também fazem parte da equipe que produz os modelos usados nas apresentações. Os meninos admitem que, nos últimos meses, estão cogitando adotar figurinos mais ao estilo "homenzinho", com calça militar e chapéu. Para eles, a ideia é quebrar o paradigma de que a roupa tem o poder de definir o que você é, seu gênero e orientação sexual.

O grupo já se apresentou na favela da Nova Brasília, no Complexo do Alemão (evento Funk Consciente); no Morro do Adeus (Estações Culturais) e na Penha (Arena Dicró). Participou também do lançamento da marca Império, criada por Mayke Machado para o projeto da Agência de Redes para Juventude. “Decidi chamá-los por ser um grupo LGBT criado na própria comunidade, articulado por jovens que lutam por respeito e igualdade na favela”, explica Mayke.

Foto: Renato Moura

O Urban Style acredita ser bem aceito pela maioria dos moradores da favela. Sua meta é se apresentar cada vez mais na Vila Cruzeiro, buscando ser reconhecido no próprio território. Se a dança não tiver o poder de mudar a cabeça de muitos que ainda acreditam que existe um modelo “ideal” de identidade sexual, ela poderá colaborar para o processo de auto-aceitação do indivíduo que se considera gay. A dança é um processo de autoconhecimento e coletividade, que facilita a aceitação e o respeito a si mesmo e ao outro.

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