O visível invisível
Todos os dias sempre temos tantas coisas a fazer, é uma correria no cotidiano, onde só há 24h para dormir e cumprir todas as obrigações. Mas, em meio a um sinal que fechava, onde pude atravessar o mais rápido possível, deparei-me com uma cena que fugia da rotina… Quatro meninas, que aparentavam ter entre 12 e 13 anos de idade, usando uniforme de uma escola do municipal de Nova Iguaçu, estavam paradas em frente à Catedral de Santo Antônio, maravilhadas com a Arquitetura do templo. Elas apontavam e mostravam os detalhes singelos uma para as outras. Seus olhos fascinados como se estivessem em frente a um castelo das princesas da Disney ou a uma das pinturas feitas por Michelangelo na Basílica de São Pedro.
Elas não se davam conta que estavam atrapalhando a circulação das pessoas naquela estreita calçada de pedestres em frente à igreja. E as pessoas passavam por elas e só se incomodavam, também não se davam conta dos olhos brilhando e alegres das meninas por estarem vendo aquela igreja do século XIX, que faz parte da história de Nova Iguaçu. Ao passar por elas vi o que estava acontecendo, e parei em frente à floricultura que fica ao lado, observando por alguns segundos antes de seguir em frente. Não podendo deixar de pensar no livro “O mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder, que diz que quanto mais velhos ficamos, vamos perdendo a capacidade de admirar as coisas do nosso cotidiano.
Aquela catedral é linda, um patrimônio histórico de Nova Iguaçu. Mas todos os dias, começando por mim, muitos de nós passamos, olhamos e não vemos a sua beleza nem por um segundo. E quantas coisas perdemos no nosso dia-a-dia… pessoas, lugares, momentos. Posso dizer que naquele dia, sem nenhuma palavra, aquelas meninas me ensinaram tanto sobre o visível que acaba tornando-se invisível aos nossos olhos, pelo simples fato de estarmos desatentos as belezas que nos cercam, mesmo em meio a uma cidade muitas vezes tão cinza.
Segundo Adriano, o florista que trabalha na floricultura ao lado da igreja há 20 anos, diz que o que chama tanto a atenção das crianças quando estão passando é o soar do sino. Que produz um som bonito e singelo, que só é perceptível à crianças e turistas. As crianças fazem os pais parar e os turistas sobem na passarela em frente à igreja para fotografar. Michele, que trabalha em uma banca de jornal, que fica em frente a igreja, há 4 anos, também fala sobre o fascínio das crianças pelos sinos da igreja… Pois, segundo ela, os devotos, quando passam, fazem o sinal da cruz de maneira automática, sem nem mesmo olhar direito para a igreja. E as demais pessoas passam e a vêm mas não a enxergam.
Além da belíssima arquitetura, também é marcada de forma significativa pela história de Nova Iguaçu, onde a Freguesia de Santo Antônio de Jacutinga é a única dentro das freguesias que originaram a cidade que aderiu o nome da aldeia indígena local, a dos Jacutingas. A igreja construída, onde hoje é o centro comercial da cidade de Nova Iguaçu, foi o quarto templo de Santo Antônio de Jacutinga, onde o primeiro foi em Jambuí, o segundo em Calhamaço, o terceiro na Prata (onde está conservada até hoje). Mas, depois de tanto percorrer, foi instalada no antigo arraial de Maxabomba, próximo a parada ferroviária, que naquele período era considerada sem importância.
Mesmo querendo parar e conversar, saber o que pensavam, a hora passava e a agitada rotina gritava para voltar a ser seguida. Mas as meninas continuaram ali, não sei por quanto tempo, mas provavelmente imaginando, sonhando e tornando aquele dia mais especial e cheio de significado…