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#18 Saneamento Básico

Faça a sua parte: saiba como

Reunimos aqui informações importantes para que você saiba o que fazer para evitar doenças decorrentes da falta ou precariedade do Saneamento Básico.






Se sua casa não recebe água encanada pela rede pública de abastecimento, você deve se certificar de que a água que está usando é própria e não oferece riscos à saúde. A água de beber deve ser filtrada e fervida sempre que possível.  Uma receita simples para tratar água para consumo doméstico é usar água sanitária (hipoclorito de sódio a 2,5%) sem cheiro, sem corante, sem detergente e de procedência confiável, na proporção de duas gotas por litro de água. Essa água pode ser utilizada para a higiene, lavar alimentos e até mesmo consumo. Alguns postos de saúde fornecem água sanitária para desinfecção da água, neste caso siga as instruções da embalagem.

Para desinfetar alimentos que serão consumidos crus, aumente a proporção para uma colher de sopa em cada litro de água e deixe-os mergulhados nesta solução por 15 minutos, depois enxague em água corrente. As folhas devem ser lavadas uma a uma, dos dois lados.

Lave bem as mãos com água e sabão antes de manusear alimentos e antes das refeições. Lave também embalagens de comestíveis como latas e caixas tipo longa vida, antes de abrir. Mantenha a pia, panelas e utensílios de cozinha sempre limpos.

Em caso de entrada de água de enchente ou esgoto em casa, os locais atingidos devem ser lavados com água sanitária e usando-se luvas e botas de borracha ou sacos plástico presos às mãos e pés. Lave a pele com água limpa e sabão após o contato com a água suja.

Limpe a caixa d'água a cada seis meses.




Pense duas vezes antes de produzir lixo, e, principalmente, preste atenção em onde e como vai descartá-lo. Além da prefeitura e das empresas que prestam o serviço de limpeza urbana, você também é responsável pelo seu lixo.

Mesmo que seu lixo seja coletado na porta de sua casa pelo serviço de limpeza urbana da sua cidade, ainda assim você precisa colaborar. Informe-se sobre os dias de coleta e não coloque o lixo para fora nos outros dias, pois ele irá atrair animais como cachorros, que derrubam e sujam tudo, e roedores, que podem entrar na sua casa e na dos seus vizinhos, transmitindo doenças. Vale a pena pensar em alternativas para manter seu lixo a salvo, dentro de latões ou em grades de ferro suspensas.

Se a coleta for feita através de caçambas, faça o mesmo, evite levar o lixo em horários distantes do próximo recolhimento.

Separe o seu lixo! Se não puder separar papel, vidro, metal e plástico do lixo orgânico (restos de comida), separe ao menos o que é reciclável do lixo comum. Você só precisa manter um cesto ou saco separado para todo o lixo “limpo” (embalagens sujas devem ser lavadas antes do descarte).

Lembre-se de que o lixo pode ser uma fonte de renda. Se você não pretende vender seu lixo, pense que muitas pessoas vivem disso. Com uma mudança simples na sua rotina, você estará ajudando milhares de catadores que, ao facilitarem o processo de reciclagem, estão ajudando o planeta, ou seja, fazendo um favor a você.

Se sua comunidade não conta com serviço de coleta seletiva, você pode levar o lixo a um posto de coleta, ou contatar uma cooperativa de catadores, ou simplesmente separar e deixar as sacolas serem recolhidas pelo lixeiro. Acredite, mesmo sem coleta seletiva, separar faz diferença, sim.

Se sua comunidade não possui nenhum tipo de coleta de lixo, procure a associação de moradores para saber se algo está sendo feito, cobre da prefeitura e de vereadores, reúna os moradores e faça um abaixo assinado, faça barulho, mostre a Lei do Saneamento 11.445/07 e exija seu direito a este serviço!

Não queime seu lixo! Além de poluir o meio ambiente, é crime! Segundo a Lei de Crimes Ambientais (9.605/98), o indivíduo que queimar lixo doméstico ou qualquer outro pode ser multado e responder a inquérito. A fumaça libera gás carbônico que contribui para o efeito estufa, e se houver plástico se torna tóxica e cancerígena!

Jogar o lixo em terrenos baldios, valões ou nas ruas não é uma solução! Ao contrário, só atrai mais problemas. Esse lixo vai atrair animais transmissores de doenças como ratos e insetos, e pode ser levado pela chuva, espalhando o risco de infecções pelas ruas e para dentro das casas em caso de enchente. Já o despejo do lixo em rios, lagos e no mar é ainda mais problemático, pois contamina as águas que são consumidas por muitas pessoas, podendo levar doenças a pessoas e animais de uma comunidade ou mesmo uma cidade inteira.




Mantenha a casa limpa, sem restos de alimentos no chão, e leve o lixo para um local distante (mas descarte em lixeiras e caçambas!) de modo que os ratos não farejem e sejam atraídos por alimentos e lixo.

Utilize óleo de hortelã (vendido em lojas de produtos naturais) em bolas de algodão como repelente natural.

Feche as entradas possíveis usando esponjas de cozinha cortadas no tamanho certo. Mesmo pequenos buracos devem ser tapados. Camundongos conseguem se esticar e passar onde aparentemente não caberiam.

Use palha de aço (ou lã de aço) para vedar os buracos por onde eles escapam. Os roedores não conseguem roer este material e não poderão voltar.

Tenha gatos em casa ou coloque tubos com areia sanitária de gato (suja de urina) próximo às entradas da casa. Os ratos farejam a urina e se afastam. Se tiver gato em casa, certifique-se de que ele tem energia suficiente para caçar e permita que o faça na parte de fora da casa, evitando que os ratos entrem. Gatos castrados tendem a ficar muito gordos e podem perder esta capacidade.




A água utilizada em sua casa é descartada corretamente?  Não adianta apenas um cano levando a água suja para longe da sua casa. Você pode até se livrar do mau cheiro desta forma, mas não estará se protegendo de doenças transmitidas pela água contaminada. Se o esgoto doméstico for despejado de forma inadequada, ele ainda estará colocando a saúde dos habitantes da casa, e de toda a comunidade, em risco. Se o destino for uma vala, por exemplo, uma chuva mais forte poderá trazê-lo de volta, contaminando todos os que tiverem contato com essas águas.

O esgoto é um problema coletivo. Converse com seus vizinhos para encontrar a melhor solução. A primeira pergunta a fazer é se as casas da sua rua estão ligadas à rede geral de esgoto ou de águas pluviais (da chuva). Se estiverem, o próximo passo é saber com as autoridades locais se o esgoto possui algum tipo de tratamento ou se é despejado diretamente em um rio ou mar. A falta de tratamento implica em danos ambientais que colocam a saúde de toda a população em risco. Cobre propostas concretas dos candidatos em época de eleições, e cobre providências dos eleitos depois!

Se as casas não estiverem conectadas à rede geral de esgoto ou de águas pluviais, nem a uma fossa séptica que faça esta ligação, procure a associação de moradores ou reúna seus vizinhos para planejar uma ação coletiva. É obrigação legal do Estado garantir o saneamento básico para todos os cidadãos brasileiros.

Se você possui os meios para construir uma solução independente para a sua casa, saiba que existem soluções inovadoras sendo testadas em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil. Há, por exemplo, o reaproveitamento de “águas cinzas” (aquelas usadas em pias, banho e máquina de lavar) para fins não potáveis como descargas sanitárias, lavagem de pisos e veículos, etc. E os banheiros secos que transformam os dejetos em adubo orgânico, e depois você pode até vender caso não possua nenhuma plantação para aproveitá-lo.
 

Moradores fazem o trabalho da prefeitura em Itaboraí e São Gonçalo

Foto: Paula Brito

Em Itaboraí, ao menos 21,3% dos habitantes convivem com esgoto a céu aberto e 11.265 residências despejam detritos de forma irregular nos mais diferentes locais. Estes dados, revelados, respectivamente, pelo Sistema de Indicadores da Cidadania (Incid) e pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), contrastam com o momento econômico pelo qual passa o município. Prestes a receber um dos maiores empreendimentos da história do país, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), Itaboraí ainda sofre com deficiências no fornecimento de água, na coleta de lixo, entre outros serviços relacionados ao saneamento básico.

Devido à ausência do poder público, os moradores se juntam em mutirões para fazer o trabalho. No bairro Gebara, quem mora na Rua 1, uma das principais vias do bairro, desistiu de esperar pela prefeitura e decidiu resolver pelo menos parte do problema. "Nossa rua não é asfaltada, e as águas da chuva provocam a formação de um lamaçal, sem falar no esgoto a céu aberto. Nós então decidimos nos reunir e colocar a mão na massa. Compramos cascalho, várias faixas de madeira e colocamos de um lado a outro. Assim nossas crianças não pisam mais no esgoto e não pegam mais doenças de pele. Sabemos que isso não vai funcionar por muito tempo, estamos chegando à época de chuvas e vai voltar aquele lamaçal logo, logo. Até lá, ficamos aqui", contou o morador Luiz Carlos da Silva, de 59 anos.

Foto: Paula BritoSegundo o Incid, 33,5% dos domicílios de Itaboraí possuem escoamento inadequado do esgoto, quando a média estadual é de 13,6%. Ou seja, as águas das chuvas e o descarte do esgoto são feitos pela mesma rede de drenagem e despejados sem qualquer tratamento nos rios da região (Vargem, Tingidor e Aldeia, afluentes do rio Porto das Caixas; Caceribu e a própria Baía de Guanabara).

A prefeitura informou que trabalha com o objetivo de que, até 2015, 70% do município sejam contemplados com rede de esgoto. Orçada em R$ 89 milhões, a obra de esgotamento sanitário prevê a implantação de 45 km de rede nos bairros, além de cinco elevatórias e uma nova Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). A licitação da empresa que será responsável pela obra acontecerá em breve, segundo a prefeitura, que informou ainda que as verbas para pacotes de obras de saneamento nos bairros já teriam sido aprovadas pelo Ministério das Cidades.

De acordo com informações da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), apenas 0,05% dos domicílios de Itaboraí possuem acesso ao serviço de esgotamento sanitário, cujo tratamento acontece, de forma precária, em quatro Estações de Tratamento Primário de Esgoto (ETE). Entre 2006 e 2008, a Cedae diz ter ampliado o serviço de abastecimento de água em 7,56%, passando a atender 20,81% dos domicílios. Este índice, no entanto, ainda se encontra muito abaixo dos demais municípios da região e grande parte da população ainda utiliza água de poços artesianos ou de caminhões-pipas.


Foto: Thiago Louza

O município também se encontra abaixo da média da região no quesito “Direito à Saúde”. A dona de casa Rosiane Gonçalves Batista, de 29 anos, é mãe de Leonardo, de sete anos, e moradora do bairro Vila Brasil. Grávida de três meses do segundo filho, ela afirma que tem medo de contrair alguma doença convivendo com o esgoto.  “Morar na Rua Minas Gerais é vergonhoso. Para que parte dela fosse manilhada, os moradores tiveram que juntar dinheiro e fazer um mutirão A prefeitura de Itaboraí deixou todo mundo largado. Tem bicho, rato, caramujo. Tenho medo pelo meu filho, que é criança e brinca com os colegas pulando o valão”, contou.

Em nota, a Secretaria Municipal de Obras de Itaboraí diz que “estará enviando uma equipe até os locais abordados e, se comprovada a necessidade, dará início aos trabalhos de pavimentação".

São Gonçalo

Foto: Thiago LouzaJá São Gonçalo, com quase 1 milhão de habitantes, possui 4.044 domicílios em “aglomerados subnormais” (termo usado para designar favelas no Censo do IBGE 2010). Destes, menos da metade (1.906) estariam ligados à rede geral de esgoto ou pluvial. O esgoto de 785 residências seria lançado em rios, lagos, ou mar, e de outras 576, em valas. A fossa séptica seria usada em 334, e a fossa rudimentar em 401.

Apesar de ser um dos principais acessos para quem vai à turística Região dos Lagos, o bairro de Marambaia, em São Gonçalo, sofre com sérios problemas de infraestrutura. São ruas esburacadas e sem pavimentação, falta d'água, esgoto a céu aberto, gravíssima deficiência de transportes, segurança e outros serviços. Para a agente comunitária de saúde Bernardete Rodrigues Figueiredo, de 58 anos, o bairro está abandonado. "Eles dizem que todas as ruas daqui estão asfaltadas e iluminadas. Mas fora a Rua Tibiriçá, todas as outras estão numa situação deplorável. Eu trabalho nesse bairro há 12 anos e nunca vi uma melhoria. Nossas crianças brincam nos valões de esgoto, temos que pagar galões de água para sobreviver e a praça está tomada pelo tráfico", contou.

Para Moacir Rodrigues Nunes, de 61 anos, se não fosse uma obra feita pelos moradores, a Rua Imbé não existiria mais. "Quando vim morar aqui havia uma vala negra que ocupava três de nossas ruas. Era muito mosquito e um cheiro insuportável. Eu e mais uns moradores decidimos resolver do nosso jeito. Nós juntamos o dinheiro, compramos o material e instalamos umas 300 manilhas de 30 metros. Todo domingo, ao invés de descansar, nós íamos para a rua. Fizemos a tubulação das ruas Imbé, Tibiriçá e Itacuruçá. Anos depois a prefeitura veio aqui e asfaltou a rua Tibiriçá e eu tive que fazer outra obra, porque eles ainda fizeram questão de deixar 12 metros da minha rua a baixo do nível do asfalto. Ou seja, chovia e isso aqui virava um piscinão, alagava tudo. A prefeitura só vem aqui pra pegar o IPTU, nem capina nós temos. É um absurdo", declarou.

Não basta reclamar, é preciso fazer a sua parte

Fotos: Letícia RochaComendador Soares, popularmente conhecido como Morro Agudo, é um bairro de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Dos 112 mil moradores, apenas três mil possuem saneamento básico, segundo a própria prefeitura. Nas ruas, é comum encontrar o lixo: pacotes de biscoito, garrafas de água, refrigerante e muito mais. O mesmo acontece com os rios que banham a região.

Para Bruno Silva, que mora na localidade conhecida como Tenda Mirim, se a Lei do Lixo Zero, que existe em alguns bairros da capital, fosse aplicada na Baixada, a situação dos rios seria diferente. Por essa lei, quem joga um pedaço de papel ou uma latinha no chão paga uma multa de R$ 157.  “Aqui não é feita a dragagem dos rios, mas se as pessoas  tivessem o mínimo de consciência, não veríamos os rios transbordando e enchendo casas em dia de chuva forte”. Bruno comenta que já viu sofás e bicicletas boiando no rio próximo à sua casa.



Sair de casa e se deparar com o lixo na porta virou rotina para o estudante Luiz Felipe, 17 anos, que mora na região de Bandeirantes. Felipe reclama do fato de só se ver lixeiras nos centros. Ele acredita que a instalação de mais caçambas poderia diminuir o volume de lixo nas ruas. No entanto, lembra que a educação por parte das pessoas também é fundamental. “Com certeza, se as pessoas ajudassem um pouco mais, não ficaria essa imundice que é hoje”, conclui.

A coleta do lixo doméstico é feita com três vezes por semana pela empresa Emlurb e, segundo a Prefeitura, chega até mesmo nos lugares de difícil acesso. Segundo Luiz Felipe, o recolhimento dos entulhos também parece ser satisfatório. O mesmo não acontece com a limpeza das ruas. Felipe acredita que se acontecesse de forma regular diminuiria o problema. Na Rua Ana Lia, a Associação de Moradores encontrou uma alternativa para o problema: paga para que uma pessoa faça a limpeza da área. Já na Rua Lourenço Marquês, em Bandeirante, moradores escreveram no muro: “Favor não jogar lixo aqui!”. Infelizmente, nem sempre o pedido é respeitado. Uma vez ou outra é possível ver lixo no local.

Lixo, ratos e doenças no Morro do Fubá

Fotos: Raphael Silva

Junte um punhado de ruas sem asfalto, um serviço de coleta de lixo irregular e um bom grupo de moradores sem educação. Pronto. Aí está uma receita infalível para garantir o acúmulo de ratos e a proliferação de doenças que já deveriam estar erradicadas há muito tempo. Este foi o cenário ou o cardápio que o Viva Favela encontrou no Morro do Fubá, Zona Norte do Rio. As maiores concentrações de lixo estão nos cruzamentos das ruas Professor Ferreira Braga com a Rua Cajuru; da Rua Cajuru com a Rua Massiambu; e embaixo da Ponte Amarela.

A coleta de lixo acontece apenas duas vezes por semana. Existe até uma terceira, mas é para resíduos especiais, como móveis, galhos de árvores e outros itens. Os moradores não têm o hábito de separar o lixo para a coleta seletiva e sequer conseguem manter os sacos nos seus portões, apesar de existir uma equipe de saúde da Clínica da Família Souza Marques voltada para a orientação dos habitantes a respeito do assunto.

O lixo acumulado atrai grande quantidade de ratos para a comunidade, o que afeta diretamente a saúde da população. Pelo menos três crianças já foram mordidas há menos de três meses por esses animais, que transmitem doenças, direta ou indiretamente, para os seres humanos. Porém, em sua maioria, estas doenças são desconhecidas ou passam despercebidas pela comunidade, como destaca o médico de família Marcos Marzollo, da Clínica Souza Marques:

 “Talvez a comunidade não reconheça a questão dos ratos como sendo um risco potencial, e alguns acabam convivendo "pacificamente" com o problema”. Dentre as doenças, está a leptospirose, que é transmitida pela urina do animal. Além disso, em menor grau, mas igualmente grave, é a possibilidade de se contrair raiva. Há também os casos de micoses e outras afecções dermatológicas.



A preocupação com uma suposta “convivência pacífica” com os ratos não surge apenas no depoimento do doutor. A moradora Vanessa Gaspar vai além e afirma que “é como se ratos e humanos vivessem na mais pura harmonia”. Por outro lado, ela conta que os ratos já provocaram o óbito do filho de uma moradora do morro através da leptospirose, há cerca de dois anos, e morderam outras três crianças de uma mesma família enquanto dormiam em casa, próximo à Ponte Amarela, em dezembro passado (2013). Orientada por um agente de saúde da Clínica da Família Souza Marques, a mãe levou as crianças ao Hospital Francisco da Silva Teles, em Irajá, onde elas foram medicadas.

A Clínica da Família Souza Marques atende à parte da comunidade do Fubá que compreende desde a Rua Bauru, no bairro do Campinho, até um trecho da Rua Iguaíba, localizada no bairro de Cascadura, abrangendo em média 5.000 pessoas entre adultos e crianças. Para a doutora Thais Yamamoto, médica de família na unidade e preceptora da Uerj, a saúde é um elemento de corresponsabilidade do cadastrado (termo usado pelos profissionais da clínica para designar os moradores da área atendida) com a equipe de saúde. “Não adianta a equipe do Fubá se matar de fazer ações de prevenção com as crianças sobre coleta seletiva e a importância da higiene nas ruas em seus Programas de Saúde da Escola, se os próprios pais, ao chegarem à casa, mandam os filhos colocarem o lixo na rua de qualquer jeito”, afirma. Ela lembra ainda que os cachorros de rua contribuem para o problema quando rasgam as sacolas de mercado, criando o cenário propicio para os ratos fazerem seus ninhos.

Segundo o morador Alexandre Amaral, a população se acostumou com a presença dos ratos devido à quantidade desses animais na comunidade. “Os ratos fazem parte da realidade e do cotidiano da população, no dia a dia. É como se os ratos fossem animais de estimação das famílias do Fubá”, diz.

Determinadas políticas públicas também são essenciais para solucionar a questão, tais como o controle de roedores, obras de saneamento básico e melhorias nas habitações. Todas deficitárias, no caso do Morro do Fubá. Há demora no serviço de conservação dos canos e muitas ruas possuem esgoto a céu aberto. A Companhia de Agua e Esgoto (Cedae), apesar de ser constantemente acionada por moradores, não faz nada para reverter o quadro.

Pavuna, muito lixo e pouca conscientização

Fotos: Eli Geovane

Não é difícil, basta descer na estação do Metrô da Pavuna, andar alguns passos e logo se percebe a enorme quantidade de lixo espalhada pelas ruas deste tradicional bairro de classe média da Zona Norte.  Ali vivem quase cem mil habitantes, segundo o IBGE, e funciona um agitado comércio que atende a três das 13 cidades da Baixada Fluminense: Nilópolis, Nova Iguaçu e São João de Meriti, incluindo a presença de muitos feirantes vindos destes municípios.

A Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) diz que os resíduos nas ruas têm duas causas principais: o fluxo de pessoas e a falta de educação. Quem circula pela região raramente deposita o lixo nos locais adequados. O intenso comércio ambulante e a feira da Pavuna seriam duas outras razões fortes para a sujeira. Perguntada sobre projetos de intervenção para a redução do lixo no local, a coordenadora de comunicação da empresa, Virgínia Aguiar, garante que mais de uma vez já foram feitas campanhas educacionais. Sem grandes resultados. A Comlurb estaria estudando novas formas de melhorar os serviços.

Seis garis trabalham diariamente na Praça Copérnico, onde fica a Estação Pavuna. Eles recolhem cerca de duas toneladas de resíduos por dia. Ao conhecer estes números, dona Maria Dalva, 58 anos, moradora da região conhecida como Village, também na Pavuna, e feirante há 15 anos no mesmo local, comentou: “Eu vejo, sim, todos os dias, garis por aqui. Eu tenho visto também muitos ratos, baratas... Quando chove, as águas do rio levam tudo, inclusive as nossas barracas, e deixam muito lixo por aqui”. A comerciante reconhece que a Comlurb faz seu trabalho, mas identifica falhas: “Como a maior parte do lixo é produzida pelos feirantes, deveria haver mais containers espalhados pelo bairro. Acredito que assim haveria uma maior mobilização dos trabalhadores”, sugere.

Rios, o ponto final do lixo

A Pavuna é cortada pelos rios Pavuna e Pavuninha, que são de competência do Governo do Estado, pois atravessam vários outros municípios, e pelo canal da Rua Comendador Guerra, de responsabilidade da Fundação Rio Águas, que recebeu serviços de manutenção recentemente. Já o esgotamento sanitário do bairro cabe à Cedae.

Carlos Geraldo, 47 anos, catador de lixo e reciclador de uma ONG (não identificada pelo trabalhador), trabalha há quatro meses nas proximidades do Rio Pavuna. Ele também tem recomendações à Comlurb, como o aumento do contingente de funcionários para recolhimento do lixo e a oferta de projetos de reciclagem. Morador de Tomazinho, município de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, o reciclador afirma que é terceirizado e que a organização para a qual trabalha não recebe nenhuma ajuda do governo para atuar ali. Perguntado se já teve problemas de saúde devido ao contato com o lixo, respondeu sem hesitar: “ontem eu estava doente! Mas fazer o quê, né? Tenho que trabalhar. Vou te dizer uma coisa, é a população que estraga tudo, mas onde estão os projetos da prefeitura para mudar esta situação? Não tem nada funcionando aqui” reclama.

A Clínica de Família Manoel Fernandes, que atende a população local, registra casos frequentes de dermatites que podem ser ocasionadas por condições precárias de higiene e pelo contato com o lixo, além de doenças provocadas pelas fezes de animais. De acordo com a enfermeira Tatiana Ferreira, a procura por atendimento de saúde durante as chuvas fortes aumenta, e as equipes chegam a atender até 15% mais casos desse tipo de doença em relação aos atendimentos em dias comuns.

Serviço

Doenças causadas pela ausência de saneamento básico e a presença de lixo:
Dengue – Tétano – Leptospirose – Febre Tifóide entre outras.

Atendimento de saúde pública na Pavuna:

CMS Nascimento Gurgel
Rua Mercúrio, S/N, Pavuna
Tel: (21) 3835-5660 / 2474-4749
E-mail: cmsnascimentogurgel@vivario.org.br / psngurgel@rio.rj.gov.br

UCF Epitácio Soares Reis
Av. Chrisóstomo Pimentel de Oliveira, S/N, Pavuna
Tel: (21) 2455-7190 / 2455-5671
E-mail: ucfepitaciosoares@vivario.org.br / epitaciosoaresreis@gmail.com

UCF Manoel Fernandes
Praça Edmundo da Luz Pinto (entrada pela Rua Adelina Maia ou Rua Laudo de Camargo), Pavuna
Tel: (21) 3019-9138 / 3358-7884 / 3012-0182
E-mail: cf.seuneco@gmail.com / cfpavuna2@vivario.org.br
 

Rocinha sofre com falta d’água em pleno verão

Fotos: Cecilia VasconcelosNum dos verões de temperaturas mais elevadas dos últimos anos, moradores da Rocinha têm que enfrentar um inimigo ainda maior: a falta d'água! Com torneiras secas há dias, moradores se viram como podem para enfrentar o calor, cozinhar, além, é claro, da higiene pessoal. Hoje, existem duas Elevatórias na Comunidade, mas de acordo com os moradores, não está sendo o suficiente. A Cedae diz que o abastecimento está regularizado, mas não é o que dizem os moradores.

A água cai a cada 4 ou 5 dias, obrigando-os a estocar água e carregar baldes na cabeça por metros de distância com subidas e muitas escadas.

Simone Moura, 30 anos, moradora da localidade da Cachopa, diz que já se acostumou com a situação. Água na casa dela só aparece a cada 4 dias. E por pouco tempo, geralmente no período da manhã. Na noite de terça-feira, dia 18 de fevereiro, a depiladora aproveitou a visita do irmão e, junto com ele, passou mais de duas horas carregando água para estocar numa piscina de plástico improvisada para os dias de escassez. A água coletada numa bica de fonte natural, como ela mesma diz, é o que salva muita gente.

“A distancia é grande, a bica é lá embaixo (na Vila Verde) e eu moro aqui em cima (Cachopa). Se meu irmão não me ajudasse eu estaria esperando água da chuva até agora”. Simone improvisou uma calha pra colher água da chuva, o que já não acontece há algumas semanas no Rio de Janeiro. “Não tem outro jeito, somos obrigados a isso”.

Luís Carlos Oliveira é casado, tem uma filha de nove anos e atualmente está desempregado. Ele já cobrou uma solução da Cedae e nada: “Já me vi pegando água sete dias na semana aqui nesse lugar. É uma vergonha”. Luiz é morador da Vila Verde e se vira como pode para manter a higiene, cuidar da filha e da casa.

Lúcia Macedo, moradora da Cachopa, casada, está na mesma condição: “Estou há mais de dez dias sem água. Para cozinhar, tenho que comprar água engarrafada. Às vezes tomo banho no trabalho”. Lúcia trabalha na Clínica da Família, na Rua 1, ao lado do posto da Cedae onde, segundo ela, não adianta reclamar.

Até na base da UPP localizada na Cachopa, a água não chega. Alguns policiais informaram que também já reclamaram diretamente no posto da Cedae e não foram atendidos. Eles também poupam e estocam a pouca água que chega como podem.

Através da Assessoria de imprensa, a Cedae informou que o abastecimento está normalizado, mas explica que, nos meses anteriores, as áreas de Vila Verde e Terreirão foram prejudicadas por conta de um baixo rendimento de uma das Elevatórias. De acordo com a companhia, as elevatórias que atendem à comunidade ainda estão em obra e, quando prontas, permitirão que o abastecimento seja ainda mais satisfatório. A Cedae informou ainda que desconhece reclamações por falta d'água durante períodos longos, como relatado por alguns moradores. A base da UPP da Cachopa, por ser abastecida pelo mesmo sistema da Vila Verde, passou por problemas também. 

Jardim Gramacho: abastecimento de água precário

Fotos: Andressa Cabral

Em tempo de escassez, a água tem dia e hora para cair em Jardim Gramacho: terças, quartas e quintas-feiras, no período das 22h às 4h. É esta a situação por que passam os moradores do bairro de Caxias, sobretudo no verão. Desta vez, a população da região está sem abastecimento regular desde dezembro de 2013. Para lidar com a situação, moradores tomam medidas diversas, que vão desde a simples estocagem de água até apelar para as ligações clandestinas com a rede pública.

Pascoal Xavier, presidente da Associação Recreativa e Esportiva Xavier (AREX), mora há mais de 50 anos na comunidade e, diante desta situação, agiu preventivamente. “Até certo ponto da rua a água é boa para se consumir. Depois disso, ela é barrenta. Dá pra usar para fazer faxina, por exemplo, mas não dá para beber. Para me garantir, eu construí um poço na academia. Quando eu tenho uma quantidade razoável, eu colaboro com os vizinhos que não têm água”, conta.

Outros moradores não têm água encanada em casa, pois o abastecimento chega apenas a uma parte do bairro. É o caso de Thamires Dias, que também arruma meios alternativos para não ficar sem água. “Aqui em casa nós temos duas caixas d’água e um barril, onde a gente guarda água da chuva, que serve para lavar roupa, tomar banho... Para beber, nós compramos com o vizinho que tem água encanada”, disse. No período de estiagem, a situação complica. “Quando não chove somos obrigados a comprar uma quantidade maior de água para deixar armazenada. Economizando bastante, ela dura cerca de duas semanas”, calcula.

O caso de Simone Batista é ainda mais grave. Ela trabalhava na coleta de lixo no aterro de Gramacho e ficou desempregada de junho de 2012 a janeiro de 2014. Sem ter como se sustentar, ela contava com o apoio dos vizinhos para fazer uso da água. “Tinha que escolher entre comprar comida para os meus filhos ou água”, conta a catadora.

Os caminhões-pipas, que deveriam atender a comunidade, não vão ao local regularmente e, quando chegam, alguns moradores costumam comprar toda a água e revender para os vizinhos. “O caminhão-pipa cobra R$ 200 por 3000 litros de água. Quem quer comprar tem que se juntar com alguns vizinhos para dividir o dinheiro e a água.”

Um morador que não quis se identificar encontrou uma solução curiosa para ter água em casa. “O cano da Cedae vem até certo ponto. Daqui em diante não tem mais água, incluindo a região onde eu moro. Junto com um vizinho, comprei uma bomba d’água, fizemos um furo no cano da rua e, por meio de uma borracha que vai da rua até minha casa, nós puxamos a água para usarmos”, revela.

População aguarda mudanças

Durante a campanha política, o então candidato e hoje atual prefeito de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso (PSD), tinha entre suas propostas a melhoria no abastecimento de água, que a prefeitura iria exigir da Cedae. Caso não houvesse melhora, a prefeitura criaria um sistema de abastecimento operado pelo município. Até o momento a população não viu nenhuma mudança de cenário. Luis Renato, novo secretário de Meio Ambiente, Agricultura e Abastecimento do município, está assumindo o cargo com a missão de buscar melhorias no abastecimento do local.
 

Nova Iguaçu: vizinhos da maior estação de tratamento do mundo sofrem com falta de água e esgoto

Fotos: Juliana Portella

A Baixada Fluminense é uma região  muito afetada por problemas de saneamento básico.  No bairro Jardim Guandu, em Nova Iguaçu, onde está instalada a Estação de Tratamento da Cedae (Companhia de Águas e Esgotos), que recentemente entrou para o Guiness Book, livro dos recordes, como a maior estação de tratamento de água do mundo, moradores reclamam de sistema de esgoto precário e da falta de água constante.
 
Durante esse verão, a dona de casa Maria de Lourdes viu as torneiras de sua residência secarem e deixarem sua família sem água por quinze dias. “Vivemos em total abandono, além de não termos água, temos que conviver com esgoto a céu aberto e rua sem asfalto”, revela. A Cedae informou que no mês de fevereiro, em alguns pontos da rede de água que abastece o bairro houve interrupção no fornecimento para reparos.
 
No bairro de Jardim Paraíso o abastecimento também é irregular. De acordo com a estudante Denise de Sousa, a água só serve para lavar roupa, louças e tomar banho. “Para beber não serve, porque a maioria dos moradores tem fossa em casa e dessa forma a água fica imprópria para o consumo”, contou.

A situação não é diferente no bairro de Cabuçu. A dona de casa Ana Lúcia, moradora da Rua Tegipió, reclama da falta de um sistema de esgoto. “Moro aqui há 15 anos e nada mudou. Precisamos de ajuda imediatamente, pois a população está necessitada”, ressaltou. Uma vala de esgoto está aberta no meio da rua, que fica há poucos metros do CIEP 075, Jardim Cabuçu, e a 4 km da praça do bairro. A população está bastante incomodada com o mau cheiro e o excesso de mosquitos.

A Prefeitura de Nova Iguaçu reconhece a necessidade de melhoria e informa que pretende adotar uma política de saneamento adequada para a cidade. Garante, inclusive, que está sendo desenvolvido um Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB). O secretário municipal de Urbanismo, Habitação e Meio Ambiente, Giovanni Guidone, disse que o objetivo do plano é debater projetos de melhorias para a drenagem, esgotamento sanitário, resíduos sólidos e abastecimento de água, com foco no desenvolvimento sustentável.



O plano, que definirá regras para esses quatro temas, é uma parceria da Prefeitura com o Governo do Estado, através da Secretaria de Estado do Ambiente (SEA), com o apoio do Instituto Estadual do Ambiente (INEA), da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) e do Comitê de Bacia da Baía de Guanabara, e com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O plano servirá de instrumento para a captação de recursos estaduais e federais, e a sua elaboração atende às diretrizes nacionais de saneamento básico.

Para Guidone, além de ser requisito obrigatório para acessar recursos federais para os serviços de saneamento básico a partir do ano de 2014, o plano é uma conquista ambiental significativa para o município. “Foi realizado um diagnóstico com levantamento de dados sobre drenagem, esgotamento sanitário, resíduos sólidos e abastecimento de água. Os pontos altos da audiência foram o prognóstico e o programa de ações do plano. Fazer com que todos tenham acesso de forma digna a esses serviços (o princípio da universalidade), é uma das nossas maiores preocupações e prioridades”, destacou o secretário.

Preto no branco: ensaio sobre a sujeira

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Ao lado de um dos maiores centros de pesquisa em saúde pública do país, a Fiocruz, Manguinhos vive com lixo acumulado nos cantos, falta de água e rios extremamente poluídos - que, nos dias de calor, servem de piscina para as crianças da comunidade. O desenvolvimento social, apesar de grandes programas governamentais como a UPP e o PAC, ainda parece estar longe dali. 

As tubulações de água e esgoto de Manguinhos vazam, apesar das recorrentes reclamações dos moradores aos órgãos responsáveis. Obras do PAC, que representariam a chegada de maior dignidade à população, deixaram um rastro de destruição, com canos quebrados e escombros espalhados pelas ruas e vielas. Para os moradores, a sensação é de que os direitos são fornecidos à meia boca pelo Estado.

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