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Da Vila Kennedy para a JMJ, a história da cantora lírica que vai cantar para o Papa Francisco

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O nome dela é uma homenagem ao Ballet Giselle, muito famoso na França a partir do século XIX.


O nome dela é uma homenagem ao Ballet Giselle, muito famoso na França a partir do século XIX. A mãe dela sonhava em ter uma filha bailarina clássica, mas não foi o que aconteceu com a moça que iremos mostrar a história a seguir, no entanto, sua mãe, com certeza se orgulha muito da profissão que a filha escolheu.

Com 31 anos, a bela jovem Gisele Diniz nasceu na Lapa e tem uma história de vida tão bela quanto ela. Os seus pais são nordestinos e vieram para o Rio de Janeiro em busca de uma vida melhor, assim como num passado recente aconteceu e ainda acontece com diversos e diversos nordestinos; a mãe, Júlia, veio da Bahia para estudar medicina e o pai, conforme ela mesma conta, “veio do Maranhão pra buscar oportunidade de trabalho como a maioria dos brasileiros.” A zona oeste carioca foi uma opção para os pais de Gisele “por problemas de ordem financeira e dificuldades de vida”, conforme ela nos revelou.

Ter pais nordestinos, que migram pro sudeste é algo comum para milhares e milhares de brasileiros e então o que há de especial na história de vida de Gisele? Muita coisa, e nós vamos revelar, principalmente pelo fato dela ter se tornado Bacharel em canto, pós graduada em docência, cantora lírica, atriz, cantora popular, compositora e professora de música. Com certeza não é algo muito comum, ainda mais para uma moradora do subúrbio carioca, principalmente da zona oeste, onde fica uma comunidade que carrega diversos estigmas e sofre com o abandono do poder público de um modo geral como a Vila Kennedy.

Depois de muito tempo ser ver esta moça que possui uma belíssima voz, eis que este correspondente comunitário encontra com a cantora e atriz Gisele no Centro da cidade e resolve colocar o papo em dia e saber das novidades e agora vamos mostrar um pouco mais da sua trajetória super interessante.

Antes de ter uma vida dedicada à música como tem hoje, Gisele teve infância bem simples, assim como de tantas e tantas crianças de diversas comunidades, bairros e favelas cariocas, “brincava na rua, jogava vídeo game com meu irmão, brincava com meus primos que também moravam lá, tive um cachorro chamado Rambo que com meu irmão tentava adestrar, um porquinho da índia, um pato que lavamos com sabão em pó eu e meu irmão, pintinhos coloridos. Subia em árvore pra pegar manga, pulava muro, chegava em casa toda suja de graxa, essas coisas que crianças fazem. Sofri muito bulliyng na infância pois era uma criança gordinha e meio anti-social”, nos contou Gisele, lembrando uma época não muito distante quando nas ruas da Vila Kennedy ainda era possível as crianças brincarem sem tanto medo e receio como nos dias atuais por conta da violência e outras questões negativas que afligem comunidades pobres,  principalmente as dos subúrbio carioca, onde as ações do poder público parecem demorar mais pra chegar (quando chegam) e o abandono parece ser uma constante.

Na infância, um brinquedo fez com que a música estivesse diretamente presente na vida de Gisele e isso ela não tem como esquecer, “a música entrou na minha vida de uma forma bem natural, o meu primeiro brinquedo foi um pianinho para crianças dado por uma tia, depois um estojo com piano dos Trapalhões, meus ídolos quando era criança. Fazia gravações caseiras com meu pai que sempre gostou de música internacional.”

Assim como acontece com milhares de moradores de comunidades menos favorecidas, a presença das igrejas é muito forte e assim aconteceu com esta jovem professora de música, “a minha primeira experiência prática com música foi cantando na igreja, no coral de crianças da Paróquia Cristo Operário, que fica na Vila Kennedy.” Essa experiência foi uma espécie de abrir de portas para o futuro de Gisele, “depois o canto foi o principal na minha vida. Levei um choque quando ouvi pela primeira vez a uma música cantada pelo Edson Cordeiro em uma propaganda da antiga e depois ouvindo no rádio o dueto do Freddie Mercurie e a maravilhosa falecida Montserrat Caballé. Cantava imitando ela com voz impostada aos 6 anos de idade.”

“Minha primeira Ave Maria de Gounod foi cantada no Centenário do clube Vasco da Gama quando eu tinha 16 anos”, continua Gisele, revelando ainda que a experiência religiosa foi algo fundamental para que ela desse continuidade na sua íntima relação com a música, “na adolescência cantava nas missas, no coro adulto da Igreja e mais tarde fiz parte de um ministério de música chamado CatholicVoices que chegou a ser conhecido no meio católico como grupo de música vocal Acappela com música tocada e gravada pela rádio Catedral FM. Com o passar do tempo decidi por ir atrás do meu sonho, estudar música.”

Eu, Sandro, sempre morei na VK e tenho um pouco de noção das diversas alegrias e também das imensas dificuldades que temos por aqui, como o acesso ao ensino de melhor qualidade. E o que dizer ou pensar pra quem escolhe um caminho que não é tão comum, como se profissionalizar na área musical, como fez Gisele, “minha vida nunca foi fácil, mas graças a Deus, eu e minha família nunca passamos fome. Meus pais tinham dificuldades financeiras, no começo não me incentivaram a estudar música pelo medo do futuro incerto. Minha mãe sempre talentosa tentou me ensinar a costurar, pintar, bordar, fazer cartões em papel vegetal, tricô, enfim, mas eu enjoava rápido dessas coisas.”

A insistência da menina Gisele fez com que seus pais resolvessem ajudá-la, mas as dificuldades novamente apareceram na vida dessa guerreira, “uma vez minha mãe tentou me tentou me colocar na Escola de Música Villa-Lobos, mais ou menos em torno dos meus 15 anos , mas na época meu pai tinha perdido o emprego e não pude começar pois o curso de música era pago.”

Muitas vezes nas nossas vidas surgem oportunidades onde menos podemos imaginar e Gisele pode nos comprovar isso, “quando tinha 18 anos, por acaso, quando estava fazendo um curso de informática no Antigo CEI, hoje Faetec República em Quintino, soube que havia um coral lá e uma escola de música e é lógico que não pensei duas vezes, desisti da informática e fui estudar música. Lá conheci meu 1º professor de música, hoje em dia meu colega de profissão, José Assumpção, que foi fundamental na minha escolha em estudar música em uma faculdade.” A partir do curso no antigo CEI de Quintino Gisele Diniz ficou sabendo do curso de ensino superior em música e ficou surpresa quando soube que poderia estudar em uma universidade pública. Quando começaram as aulas de canto pra valer, Gisele integrou o coro juvenil da escola de música do CEI e ainda fez parte do coro juvenil do Conservatório Brasileiro de Música.

A dedicação desta ex-moradora da Vila Kennedy começou a chamar a atenção de pessoas experientes na área musical e então o senhor José Assumpção, aquele que foi seu primeiro professor, a indicou para estudar canto com Madalena Moretzohn, esposa de um reconhecido maestro de coros no Brasil, chamado Julio Moretzohn. Mais uma indicação, desta vez do maestro Moretzohn e Gisele começou a cantar profissionalmente como coralista do Coro Sinfônico do Rio de Janeiro, que se apresenta no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Apesar do sucesso e das realizações que iam aparecendo na vida de Gisele, ela tinha algumas dúvidas, “pensava em fazer vestibular e faculdade de música, mas como? Não sabia por onde começar… Bom, só sei que os caminhos da vida, Deus, enfim, as vezes nos surpreendem. As pessoas foram aparecendo e fui correndo atrás de fazer um pré vestibular comunitário. No período estudando para o vestibular, fiz vários amigos, precursores universitários de Vila Kennedy. Cursei o curso de teoria e percepção musical da UNIRIO que depois de completo, vim a ser monitora e professora do curso”, e assim mais uma excelente realização na vida vitoriosa de Gisele.

Pra chegar onde chegou hoje, esta cantora lírica saída da Vila Kennedy, comunidade surgida como um conjunto habitacional na década de 1960 após a remoção de moradores de favelas das zonas norte e sul da capital fluminense, teve que superar várias e várias barreiras e ela faz questão de não esquecer isto, “com muita, muita dificuldade em função da carência do nosso ensino público e do não ensino de música nas escolas, consegui depois de duas tentativas, ser aprovada no vestibular. Finalmente passei para Licenciatura em música na UNIRIO. Já na universidade depois de 2 anos e meio estudando, como queria cantar e estudar canto, transferi para o Bacharelado em canto na mesma instituição.”

Paralelamente ao período da formação acadêmica e também depois dessa importante fase da sua vida, Gisele lembra que participou de alguns concertos por grandes e importantes salas de música clássica do Brasil, como corista e solista e também de peças de teatro, cantando em eventos e lecionando canto para amadores, jovens cantores e atores.

Chegamos em 2013, os parentes de Gisele continuam morando na Vila Kennedy, mas ela teve que se mudar para um outro bairro para que desse modo tivesse um pouco mais de facilidade para cumprir com seus compromissos artísticos e profissionais.

A Vila Kennedy irá completar 50 anos em 2014 e é o lugar de origem de figuras ilustres como os jogadores Léo Moura e Eduardo Silva (atualmente no Shakhtar Donetsk da Ucrânia), o lutador Fábio Leão, o rapper e ator André Ramiro e tantos outros e também da cantora lírica Gisele Diniz. Se você ainda não a conhece, fique tranqüilo (a), não vai faltar oportunidade para isso, pois é com muita honra, orgulho e prazer que divulgamos que Gisele Diniz, esta jovem talentosíssima, que viveu boa parte dos seus 31 anos aqui na Vila Kennedy, foi uma das cantoras convidadas para cantar no evento principal do papa Francisco e a gravar a trilha sonora para a via sacra da Jornada Mundial da Juventude.

Como mais uma prova do seu grande talento e reconhecimento do meio artístico, Gisele este ano ainda está compondo duas músicas para a peça A Roupa do Rei com o ator Raul Gazzola junto a produtora Cativante.

Pra finalizar esta matéria, Gisele faz questão de deixar uma mensagem para os moradores da Vila Kennedy, mas certamente ela serve pra que tem um sonho, seja morador de um bairro pobre, de uma favela, comunidade ou que simplesmente acha que não vai conseguir realizar seu sonho, “com minha história de vida, gostaria de animar os jovens a não desistirem dos seus sonhos, pois a realidade da Vila Kennedy e a dos jovens promissores que nela vivem, pode ser mudada. Acredito que criança tem que manter em sua mente viva o sonho de um mundo melhor. Quando eu era criança pensava em dar orgulho aos colegas e amigos que cresceram comigo usando a música. Tenho consciência que infelizmente em comunidades carentes é mais fácil ver só o seu lado mais frágil, é comum se esquecer que tem jovens que sonham com um mundo melhor e que as muitas vezes são jóias raras escondidas. Tenho grandes e talentosos amigos em Vila Kennedy, alguns por força da vida desistiram dos seus sonhos, outros não… Bom, eu ainda tento não desistir do meu… ainda sonho em fazer um solo em uma ópera importante e que meus pais possam estar vivos para me assistirem lá. Mas só Deus sabe né?”

Gisele, por tudo que você fez e está fazendo, o seu sonho tem tudo para se tornar realidade. Que o seu desejo, o meu e de muitos de ver a Vila Kennedy, um lugar tão belo como a sua carreira possa ser realizado o quanto antes.

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