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Um novembro para encrespar a consciência

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Dia 20 de novembro é a data oficial da Consciência Negra, mas as comemorações se estendem durante o mês inteiro para todos que, de alguma forma, se importam com a questão racial no Brasil. Entre os festejos, figura o Encrespando a Consciência Negra, evento que acontece no dia 28, no Engenho Novo, Zona Norte, que já está em sua terceira edição.

Foto: Divulgação/Meninas Black PowerO evento é pensado, organizado, produzido e realizado pelo coletivo Meninas Black Power, que existe desde 2010 e vem ganhando cada vez mais força nas redes sociais, através de um blog e uma fanpage e já reúne mais de 52 mil curtidas. O MBP, como é chamado, é formado por jovens entre 20 e 30 anos, do Rio, de São Paulo e do Espírito Santo com trajetórias profissionais diferentes, mas um objetivo em comum: combater o racismo e promover a cultura negra por intermédio principalmente da Internet.

O coletivo se consolidou através das redes sociais para problematizar a questão do cabelo crespo e todas as suas implicações, como a autoestima da mulher negra, que não é valorizada em nossa sociedade. Entre os motes, também está discutir a falta de representação dos negros nos meios de comunicação e nos espaços de poder, além do racismo e de todas as consequências que surgem dos processos em torno disso.

Foto: Arquivo PessoalJessyca Liris, de 20 anos, é estudante de comunicação e uma das integrantes do coletivo. Ela conta que entrou no MBP “meio sem querer”, mas considera ter tirado a sorte grande: “Fui convidada para escrever no blog e depois participei de uma reunião. Este encontro foi decisivo pra mim, foi mesmo um divisor de águas. Ouvir mulheres pretas falando o que nunca tinha escutado, mas que sempre precisei ouvir foi lindo e continua sendo. Lembro que gravei um vídeo respondendo por que estava ali. Na época, eu disse que estava ali porque queria ser a influência e a ajuda que nunca tive, para que meninas não passem o que passei”, diz ela, se referindo à trajetória sempre mais difícil enfrentada pela população negra.

Ações online e offline para combater o racismo

É para trazer estes problemas à tona que servem as oficinas do Encrespando, que seguem três eixos principais. O primeiro, chamado Toque Seu Crespo, utiliza cabelo como ferramenta para a discussão e a busca de soluções para o racismo. A oficina de turbantes serve para empoderar mulheres e homens na questão da manutenção das tradições afro e, por último, a oficina Boneca Preta é Identidade, que mostra como brinquedos que valorizam a temática negra podem ser usados na construção da identidade de crianças e jovens.

Foto: Divulgação/Meninas Black PowerDe acordo com Jessyca, abordar o tema de maneira lúdica é um dos caminhos para combater o racismo, mas também é necessário trabalhar muito na questão da educação: “A educação é a base para uma sociedade melhor, pois é na escola que aprendemos as coisas. Mas, historicamente, o que aprendemos lá é a reproduzir o racismo – e pouco aprendemos sobre nossa história, que é linda e rica, em todas as matérias, de história a matemática, passando por geografia e química”, explica. Ela ainda cita o papel da mídia, que também é decisivo na perpetuação dos estereótipos: “A TV não mostra pretos, a não ser em cargos serviçais. Os jornais só mostram quando a gente rouba, o quanto a gente mata… E o quanto a gente morre? Quem é que mostra? Quem noticia o nosso genocídio?”, questiona.

Estas questões também são amplamente discutidas nos blog e nas redes sociais, mas sem deixar para trás outros temas, como beleza e estética, cultura e educação. Mas, segundo as integrantes do coletivo, ainda há muita resistência em relação a alguns assuntos. Elas já foram, inclusive, acusadas de radicalismo e de promover a “ditadura do crespo”. A cada intervenção nas redes sociais, a resposta é sempre diplomática. Elas ainda fazem questão de explicar que cada um deve enxergar sua própria beleza, sem se importar com o padrão imposto.

Mas, apesar das dificuldades, a luta por um mundo com mais igualdade racial segue cada vez mais forte – e não se resume apenas aos novembros: “Todos os meses têm extrema importância para mim, mas novembro principalmente, garante Jessyca. “É mês de reivindicação, de comemoração, de exaltar nossos mais velhos, de relembrar nossos heróis e nossas irmãs e irmãos que ainda têm muita luta pela frente e que a gente tá aí nela, pra nós e por nós”, completa.

O Encrespando deste ano acontecerá na Rua Barão do Bom Retiro, no 920, no Engenho Novo, das 17h às 21h. Para mais informações, acesse o evento no Facebook. https://www.facebook.com/encrespandopormbp

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