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Santa Marta rejeita título de favela modelo

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Esgoto no caminho de crianças e moradores. (Fotos: Guilherme Lima)

Esgoto no caminho de crianças e moradores. (Fotos: Guilherme Lima)

Apontada pelo governo do Estado como favela modelo, a comunidade Santa Marta foi a primeira do Rio a receber, há cinco anos, uma Unidade de Polícia Pacificadora. Os moradores, no entanto, rejeitam o título. Muitos dos antigos problemas sobreviveram às transformações e continuam degradando a qualidade de vida no morro. Eles reclamam principalmente da falta de saneamento básico, do alto valor da tarifa de luz e da qualidade do bondinho.

As reclamações são tantas que, na onda das últimas manifestações, um grupo de moradores está organizando um protesto na segunda-feira, dia 8 de julho, com concentração marcada para às 16h, na Praça Corumbá, na São Clemente. O grupo sairá em passeata por Botafogo, à partir de 18h, mas não tem o apoio da associação de moradores.

O presidente da associação, José Mário dos Santos, não vê necessidade para manifestação porque hoje a comunidade estaria integrada à vida da cidade, apesar de admitir que ainda está longe de viver a realidade da cidade formal: “Como vou contra o governo do Estado se há diálogo? Muita coisa precisa ser melhorada, mas há muita coisa em andamento”. Para a guia de turismo Verônica Moura, a favela está longe de ser modelo: “Para isso, precisaríamos viver dignamente, o que não acontece aqui. Faltam-nos coisas básicas e lazer, que, na maioria das vezes, é vetado pela UPP”.

José Mário, no entanto, admitiu problemas graves na comunidade, como a existência de cinco valões de lixo e esgoto em vários pontos do morro. Apesar do diálogo com o governo, não conseguiu o fim dos valões. Segundo ele, a Cedae alega que o problema é de difícil solução, porque os valões estão em área de risco de desabamento no morro. “Nós já até apresentamos laudo de especialistas que afirmam que não há risco nesses locais, mas nada foi feito”, disse ele, que elogia a empresa por atender a 85% das casas da favela com saneamento básico.

Valões impressionam turistas

Nas áreas onde ainda existe o esgoto a céu aberto, segundo Salete Martins, de 44 anos, que também trabalha como guia, impressiona os estrangeiros que visitam a Santa Marta. “Os brasileiros não se assustam, mas os estrangeiros sim. Um médico, de um dos grupos que acompanhei, disse que as pessoas que moram ao lado dos valões já devem estar imunes à sujeira”.

Comunidade convive com valões de esgoto e lixo

Comunidade convive com valões de esgoto e lixo

Outra queixa da favela é a tarifa de luz. Verônica reclama dos descontos do programa Light Recicla, que recebe lixo em troca de bônus na conta de luz: “Com a correria da vida, fica difícil juntar muito lixo. O desconto chega a R$ 6, o que é pouco. Você junta um quilo de lixo para receber R$ 0,10, enquanto fora da favela o  valor é bem mais alto”. Já o catador de lixo Bil, de 59 anos, paga suas contas de luz integralmente com lixo reciclável. “Troco 800 quilos de lixo por mês. Dá para pagar a minha conta e ainda a de outras duas pessoas, que me dão o dinheiro em troca do bônus pelo lixo”, contou.

Para José Mário, quem reclama da tarifa de energia são os que abusam no uso de aparelhos de ar condicionado e eletrodomésticos e não se esforçam para participar dos projetos de redução. “A Light esteve aqui por dois anos reeducando moradores e trocando, por exemplo, lâmpadas pelas mais econômicas. Mas o morador quer ter dois aparelhos de ar condicionado, uma televisão e não quer pagar por isso. No caso de cobranças abusivas, resolvemos o problema contratando advogados de direito do consumidor”, contou.

A iluminação pública e o bondinho do plano inclinado também têm deixado a desejar. Segundo relatos, muitos moradores têm feito gato, o que tem interferido na iluminação da favela. da favela. Semana passada, um curto-circuito numa dessas ligações clandestinas deixou o morro às escuras.

Ao ouvir a reclamação de que o bondinho virou sucata, José Mário concordou, mas informou que o equipamento recebe manutenção semanalmente. A manutenção, no entanto, deixa os moradores sem o bondinho todas segunda-feira. “É melhor trocar logo este bondinho pra gente ter transporte todo o dia”, reclamou Verônica Moura.

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